Eleições 2022: Soraya Thronicke vai competir com Bolsonaro o eleitor de direita
Escolhida para concorrer à Presidência pelo União Brasil em 2022, a senadora Soraya Thronicke (MS) vai disputar com o presidente Jair Bolsonaro (PL) o voto do eleitor de direita. Parlamentar de primeiro mandato e ex-aliada de Bolsonaro, tornou-se candidata ao Palácio do Planalto de última hora, depois que o presidente do partido, deputado Luciano Bivar (PE), desistiu de concorrer e, com apoio do PT, tentará a reeleição para a Câmara.
A parlamentar tem 49 anos, é advogada, empresária e começou a se envolver em política em 2013, quando participou dos protestos contra a ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Concorreu pela primeira vez em uma eleição em 2018, quando teve 373 mil votos e conquistou a segunda vaga do Senado daquele Estado. O primeiro lugar na disputa foi o senador Nelsinho Trad (PSD), com 424 mil votos.
De acordo com Soraya, confirmada como candidata nesta sexta-feira, 5, Bolsonaro não cumpriu totalmente as bandeiras que o elegeram em 2018. “Nós continuamos pensando da mesma forma que em 2018. Quem não pensa mais, quem não carrega as bandeiras, saiu. Nós permanecemos. Quem saiu e quem abandonou não fomos nós”, afirmou ao Estadão. “Aquelas bandeiras que nos elegeram: liberal na economia, anticorrupção, tudo isso nos mantemos absolutamente fiéis”, disse. “Direito dele (Bolsonaro), se ele não coaduna mais com os mesmos princípios que o elegeram, se ele mudou de opinião, beleza, tranquilo”, completou.
O União Brasil foi formado com a fusão entre o PSL, partido que elegeu Bolsonaro em 2018, e o DEM. Individualmente, a legenda é a dona do maior tempo de propaganda e do maior fundo desta eleição. Mesmo sozinho, o partido fará com que Soraya perca apenas para Lula e Bolsonaro em questão de estrutura formal de campanha.
Bolsonaro se desfiliou do antigo PSL no final de 2019, após uma disputa de poder com Bivar. Durante a queda de braço entre Bolsonaro e o dirigente partidário, a senadora adotou uma postura mais próxima do presidente da legenda, mas, ao mesmo tempo, evitou críticas a Bolsonaro e preferiu se afastar das discussões públicas do conflito.
Segundo a senadora, Bolsonaro se desfiliou por “por livre e espontânea vontade”. Contrariando o discurso liberal e anticorrupção, o presidente tem acumulado episódios de intervenção política na economia e se cercou de aliados protagonistas de casos de corrupção.
Apesar disso, a parlamentar afirmou que vai dosar as críticas tanto a Bolsonaro, quanto a Lula durante a campanha eleitoral. “A campanha vai criticar tudo que tiver que ser criticado, mas acima de tudo vai ser uma campanha propositiva, não vamos perder todo o nosso tempo. Nosso tempo de TV é sagrado, nosso recurso é sagrado e vamos falar com todos, não falamos com bolhas”.
Além de disputar o mesmo eleitor de Bolsonaro, a candidata do União Brasil guarda uma série de similaridades com Simone Tebet, candidata do MDB. As duas têm com proximidade com a centro-direita e de Mato Grosso do Sul. Soraya inclusive conhece Simone antes de ter entrado na política, pois foi aluna da emedebista no curso de direito do Centro Universitário de Campo Grande (UNAES), do grupo Anhanguera. A candidata também tem MBA em Direito Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas. A parlamentar e a família têm a propriedade de motéis em Campo Grande.
A senadora nega que a desistência de Bivar represente uma ajuda ao ex-presidente, mas admite que busca os eleitores que hoje pensam em votar em Bolsonaro, assim como também os do petista. “Estou focada em todos os brasileiros, no eleitor que eu não tenho. Estou focada sim no eleitor de Bolsonaro, quero falar para o eleitor do Lula, vou falar para todo mundo porque nossa proposta interessa a todos os brasileiros, sejam eles de direita, esquerda, centro, conservadores ou liberais”, disse.
Em 2021, Soraya participou da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid pelo rodízio da bancada feminina. Mesmo sendo vice-líder do governo, a parlamentar se distanciou dos colegas governistas e criticou a atuação do governo na pandemia. “Eu defendo a ciência, aquilo que a gente tem condições de ter um critério. Os números me diziam que esse tratamento precoce não estava funcionando, que nós precisávamos de vacina e assim se comprovou”, disse.
Apesar disso, segundo ela, não houve críticas do Planalto à sua atuação. “Sempre fui independente de uma maneira educada, porém firme. Ali eu mostrei minha independência e eles tiveram que aceitar, tanto que eu continuei na vice-liderança do governo no Congresso”.
Mesmo com uma candidatura presidencial, em alguns Estados o União prefere apoiar Bolsonaro, como no Amazonas, Rio, Mato Grosso, Distrito Federal e Acre. A parlamentar não vê problema em dividir os palanques. “O palanque vai ficar aberto e vai ter duplo palanque se alguém quiser, é da vontade de cada um”, minimizou.
Ela também admite que uma das principais preocupações da legenda é a formação de uma grande bancada no Congresso. O número de deputados federais é importante porque é o critério que determina os fundos eleitoral e partidário, além do tempo de propaganda dos partidos e candidatos. “Algumas questões mudaram, chapas nos Estados e nós também estamos focados nas candidaturas proporcionais, é óbvio. Houve esse chamado para Bivar ir para Pernambuco e eles me fizeram a proposta”, disse ela ao comentar sobre o processo que a levou ser candidata.