• Educar o coração

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  • 22/jun 08:00
    Por Ataualpa A. P. Filho

    Paz. Paz. Paz. A princípio, veio o desejo de escrever somente a palavra “Paz” neste espaço de reflexão. No momento, não tenho outro desejo a não ser este: ver a paz entre os seres humanos. Mas a consciência da impotência e insignificância deixa apenas um sentimento que se apega à fé para não apagar a esperança de contemplar a “Paz na Terra”.

    Não canso de falar que a guerra é a face mais grotesca das ações desumanizadoras que os animais humanos praticam neste planeta. É inconcebível a morte de civis inocentes por artefatos bélicos lançados a esmo pela estupidez dos senhores da guerra.

    Às vezes, fico assim procurando porquês, mas não encontro razões que justifique tanta destruição. Há guerras que se arrastam por anos e nenhum corpo diplomático consegue pôr fim. O diálogo, que é a via mais sensata para dirimir conflitos, torna-se inoperante diante da obsessão do poder.

    Milenarmente se registra a destruição do homem pelo próprio homem em campos de batalha. Pelos horrores dos conflitos bélicos, é fácil identificar os malefícios do ódio. E assim, compreender as razões pelas quais insistimos em apontar o amor como diretriz para se alcançar a Paz. Sei que o óbvio, às vezes, é tachado de utópico pela resistência armada da tirania. Ainda sonho. Acredito na vitória das flores sobre os canhões…

    Transcrevo aqui um trecho do “Opúsculo sobre a Educação”, apresentado ao Imperador Dom Pedro II, em dezembro de 1877, escrito pelo Padre João Francisco de Siqueira Andrade, que fundou em 1871, a Escola Doméstica Nossa Senhora do Amparo para acolher meninas carenciadas, que sofriam com as sequelas da Guerra do Paraguai:

    “Para um governo sábio, generoso e patriótico, a educação da mocidade deveria ser a sua estreia no começo de sua administração governista. Já o tem sido de alguns governos e os seus resultados nunca se fizeram esperar, embora para serem logo destruídos por outros. Seria por certo, o passo mais altamente político. De fato, ela supre os exércitos, enobrece as nações e preenche as vistas do Criador na criação do homem. Sim, não é possível que Deus criasse os homens para viver em uma luta eterna, semelhante aos leões que habitam as brenhas, e é certo que o dia de uma vitória desta ou daquela Nação sobre a outra é o começo de uma nova guerra ainda mais encarniçada pelo espírito de vingança e de desforra e a paz pelo exército seria uma guerra eterna. Impor a paz pelo exército é o mesmo que erguer uma imensa muralha para obstar a marcha de um caudaloso rio que, aumentado por torrentes tempestuosas, ameaça um grande estrago, sem, todavia, se lembrar de que ele se erguera e levará diante de si esses obstáculos produzindo maiores estragos.”

    Para o Padre Siqueira, hoje reconhecido pela Igreja Católica como Servo de Deus, “educar é conduzir o homem pelo caminho do amor”. Quando o Brasil ainda vivia sob um regime escravocrata, ele escreveu no citado opúsculo:

    “Acompanhar a mocidade de ambos os sexos durante os cursos de estudos primários e secundários dispensando-lhes todos os cuidados e toda a proteção, quer os pais, quer o governo.”

    A preocupação dele em acolher as pessoas menos favorecidas, refletia-se também na necessidade de se estabelecer a justiça social. No já citado opúsculo, ele afirma:

    “É preciso que os imperadores e governos do mundo desarmem os seus exércitos e apliquem na educação e ensino da humanidade essas somas de milhões de milhares de contos que são arrecadados ao povo a custo de sangue para se desafiarem entre si e derramarem o sangue deste povo, quantas vezes, por simples caprichos. Fundar, com essas somas consideráveis, Escolas para todas as partes, pelas grandes e pequenas cidades, pelas povoações e arraiais; entregá-las a professores dignos por sua conduta moral, religiosa e por suas habilitações será o começo da paz para a humanidade.”

    A iminência da Terceira Guerra Mundial assusta, porque as consequências serão desastrosas diante do poder de destruição das armas nucleares que podem ser usadas. O espaço aéreo tornou-se campo de batalha. Mísseis são lançados em áreas urbanas, atingindo crianças, idosos, pessoas desarmadas.

    Sei que, antes do descobrimento da pólvora, irmão já assassinava irmão. Mas, no estágio em que a civilização humana se encontra, tornam-se inconcebíveis os crimes hediondos, o barbarismo. Tenho alimentado as minhas utopias para não perder a esperança no amanhã. Acredito na vitória do Bem. Sou a favor da vida. Considero-a como um direito intransferível. Por isso, acho que ninguém pode tirar a vida do outro.

    O 18 de junho foi instituído, em 2021, pela Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU), como o Dia Internacional contra o Discurso de Ódio. Para mim, a pior manifestação do ódio é a guerra. O mundo não precisa dela. A vida suplica: – Paz.

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