• Educação vem do berço

  • 04/07/2018 13:00

    Quando vem ao Rio, que é a sua procedência, o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, não perde a oportunidade de recordar as suas origens. Desta feita, a convite de Hillel, que é um grupo de jovens interessados na cultura judaica, o ministro Barroso lembrou os seus tempos de Vassouras e depois os estudos na Escola Estadual Pedro Álvares Cabral, antes de frequentar a Faculdade de Direito da UERJ (no Catete), na qual se tornou titular. Disso tudo resultou um grande amor pela educação.

    A sua convicção é de que os grandes problemas nacionais estariam equacionados se déssemos a devida atenção à educação, a partir da faixa etária dos 0 aos 3 anos de idade. Não adianta, diz ele, pensar que se pode começar já no ensino médio. Aí os equívocos estarão consolidados e os erros passam a ser praticamente definitivos.

    Quando terminou a conferência no Teatro Clara Nunes completamente lotado, fiz questão de subir ao palco, ao lado do professor Antonio Celso Alves Pereira, colega de UERJ do ministro, para lhe transmitir um abraço de felicitações. Concordei com o seu posicionamento sobre as cotas raciais, de que a UERJ foi pioneira no país, mas não deixei de lamentar que, com a recente greve dos caminhoneiros, o governo central tenham sido obrigado a deslocar 205 milhões de reais dos recursos de financiamento das bolsas de estudos para atender às reivindicações dos grevistas.  Como sempre, desvia-se o objetivo central e sacrifica-se o projeto, como se tem feito em tantos outros setores. Essa falta de continuidade e também de objetividade é um grande mal que acomete nossa educação.

    O ministro incentivou seus alunos, como fez com seus filhos, a se dedicar aos estudos em nossos cursos superiores, deixando de lado o que parece ser a atual moda de deslocar um enorme quantitativo para Universidades estrangeiras, como se faz com Portugal. Ele se revelou um brasileiro amplamente convicto e certo até de que vamos superar o atual quadro de dificuldades, para formar profissionais competentes no nível superior. “Devemos valorizar ao máximo o nosso quadro de recursos humanos.” Aproveitou para elogiar a ajuda recebida do seu amigo, professor Jacob Dollinger, na cadeira de Direito Constitucional, para que pudesse se aprumar no curso de direito da UERJ.

    Por duas vezes, o ministro repetiu a frase, ao referir-se às suas origens: “Sei bem para onde pende o meu coração”, certamente deixando claro que, filho de mãe judia, era essa a sua opção étnica.

    Quando pude subir ao palco, para dar um abraço no inspirado orador, meu colega da UERJ, apresentei-lhe a minha solidariedade pela posição em relação às cotas raciais, mas não pude deixar de lamentar a perda de milhões de reais, em virtude da greve dos caminhoneiros: “Isso vai sacrificar o programa de bolsas de estudo.” Não é assim que se privilegia a educação brasileira, não é verdade?

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