É possível deflação no IGP-M de julho, mas efeito ao consumidor demorará, diz FGV
O Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) deve manter a trajetória de desaceleração nos próximos meses, sustentado pelo movimento de valorização do real e de queda dos preços de commodities em dólares. A avaliação é do coordenador de Índices de Preços da Fundação Getulio Vargas (FGV), André Braz, para quem é possível uma deflação do indicador em julho. Os efeitos dessas mudanças na inflação ao consumidor, no entanto, ainda devem demorar.
O IGP-M desacelerou de 4,10% em maio para 0,60% em junho, abaixo da mediana da pesquisa Projeções Broadcast, de 1,0%. O movimento foi puxado por um forte arrefecimento do Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA-M), de 5,23% para 0,42%, com destaque para o comportamento dos preços do minério de ferro (20,64% para -3,04%), soja em grão (3,74% para 4,71%) e milho em grão (10,48% para -5,50%).
“Essa desaceleração estava um pouco agendada para o segundo semestre, mas acabou ocorrendo no fim do primeiro semestre”, explica Braz. “Com os preços das commodities recuando em dólares e o câmbio valorizando, o IGP-M tende a devolver um pouco as altas dos últimos meses. Mas, mesmo que caia, precisaria de uma sucessão grande de taxas negativas para que ele de fato antecipasse algum efeito que o consumidor vai perceber no produto final.”
Braz lembra que o nível elevado dos preços de matérias-primas – que acumulam alta de 71,28% nos 12 meses encerrados em junho – ainda deve pressionar a cadeia produtiva ao longo dos próximos meses, com aquecimento da economia, aumento da demanda, margens comprometidas da indústria e com os efeitos da crise hídrica. “Esse movimento de desaceleração do IPA não antecipa desaceleração da inflação ao consumidor no curto prazo”, avalia.
Segundo o economista, o cenário que se desenha para o IGP-M de 2021 é de uma taxa inferior aos 23,14% observados em 2020. “Os movimentos mais recentes no Brasil e no mundo têm colaborado para um cenário de taxas mais baixas para o IPA à frente”, afirma.
Energia
Braz diz que o aumento previsto para o custo da energia elétrica deve impactar as indústrias que atendem à construção civil – de siderurgia, ladrilhos e pisos – e a indústria automotiva, mas não deve ser suficiente para anular o efeito do barateamento das matérias-primas no IPA. Mesmo assim, o efeito deve ser de impedir uma redução mais rápida do IPA industrial.
Para a inflação ao consumidor, o economista calcula impacto de 0,4 ponto porcentual no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de julho com uma elevação do custo da bandeira vermelha 2 a um nível em torno de R$ 11,0.