• É justo questionar os juros altos e faz parte do jogo, diz Campos Neto

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  • 14/02/2023 13:52
    Por Cícero Cotrim e Francisco Carlos de Assis / Estadão

    O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta terça-feira, 14, considerar justo que o governo questione o nível dos juros. “Acho que é justo questionar os juros altos. É importante ter alguém que faça esse papel no governo sempre. Faz parte do jogo, do equilíbrio natural”, comentou, em evento do BTG Pactual.

    Ele afirmou que é trabalho do BC melhorar a comunicação e esclarecer as razões por trás dos juros altos no País e reconheceu que a autarquia poderia ser mais “didática” no trabalho.

    Campos Neto alertou, no entanto, que a experiência internacional mostra que permitir uma inflação mais alta para crescer mais é normalmente ruim. “No final, esse par ordenado leva a uma inflação muito alta e um crescimento que sobe muito pouco”, disse.

    O presidente do BC criticou os discursos que minimizam a importância do mercado de capitais e o acusam de “rentismo”. Segundo Campos Neto, os “rentistas” são pessoas de classe média e média alta que têm poupança. Ele lembrou que a baixa taxa de poupança da economia brasileira leva a uma taxa real de juros neutra mais alta no País.

    “Acho que a gente precisa falar mais não sobre ser rentista ou não ser rentista, mas como faço para induzir que eu aumente minha poupança e esse dinheiro seja canalizado para atividades que tenham bom retorno”, afirmou Campos Neto.

    Uso da política macroprudencial

    O presidente do Banco Central fez questão de ressaltar a importância de se separar política macroprudencial de política monetária. Ele fez essa observação ao ser questionado se, ao colocar em curso a sua agenda de competitividade e inovação da própria autarquia o BC, não teria gerado uma bolha de crédito ao consumo que só agora está sendo desfeita pelo elevado nível de inadimplência.

    A questão é se o BC poderia estar usando arcabouços macroprudenciais e não só juro na evolução do sistema de crédito.

    “Vamos separar a política macroprudencial da monetária. É muito importante não usar política macroprudencial com objetivo de política monetária. Já experimentamos isso no Brasil e isso danifica a credibilidade do BC”, disse Campos Neto.

    No entanto, disse o banqueiro central, no limite as coisas se encontram. “Se tivermos um colapso total de crédito a parte prudencial encontra a monetária em algum momento”, acrescentando que o BC acompanha o crédito e que até recorreu à política macroprudencial no princípio da pandemia.

    “Acho que vale lembrar porque as pessoas às vezes esquecem. O BC fez a primeira liberação de crédito no princípio da pandemia logo uma conversa que tive com o BC da Itália”, disse ao reafirmar que depois teve outras liberações, o que colocou o BC brasileiro na condição do que mais liberou capital no mundo.

    “Ali foi um momento em que o prudencial se encontrou com o monetário porque ao mesmo tempo em que a gente precisava que o sistema de crédito atravessasse a ponte da pandemia, precisava de um estímulo monetário. Então a gente derrubou o juro até 2%. Hoje há uma crítica porque deixamos o juro muito baixo, mas vale lembrar que na época a inflação de um ano chegou bater 1,60% e isso era muito abaixo da nossa meta”, disse ele, acrescentando que da mesma forma que estando acima da meta tem que elevar juro, quando está abaixo tem que cair.

    Campos Neto lembra que o desvio padrão da meta naquele momento, onde a inflação de um ano chegou a ser precificada em 1,60%, era muito maior que o descolamento que tem hoje para cima. “É muito importante colocar as coisas em perspectivas”, disse.

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