• “É como se a gente não existisse”, diz vítima que caiu na cratera do Túnel

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  • Hélito Fernandes caiu após um funcionário da PMP pedir ajuda na remoção de veículos; ele ficará pelo menos dois meses sem andar

    13/05/2022 08:24
    Por João Vitor Brum

    *Matéria atualizada para inclusão do posicionamento da Prefeitura.

    Foram 44 dias internado, pelo menos cinco procedimentos cirúrgicos e um prejuízo financeiro e emocional imensurável. O presidente da Associação de Moradores da Rua do Túnel, Hélito Fernandes, caiu em uma cratera que se abriu na localidade no dia 29 de março, quando ajudava a retirar um carro da garagem de uma casa que viria a ser interditada. Agora, quase dois meses depois, ele recebeu alta e está recomeçando a vida do zero. Segundo ele, nenhum tipo de apoio foi dado a ele por parte do município – mesmo que ele só tenha se envolvido no acidente após funcionários da Prefeitura pedirem ajuda na retirada dos veículos. Pra ele, o acidente é resultado da negligência de muitos governos municipais. 

    Hélito, que tem 41 anos e trabalha com elétrica, conta que os problemas causados pela falta de manutenção do Túnel Extravasor começaram muito antes das chuvas que atingiram a cidade neste ano. A primeira vez, segundo ele, foi em 1995.

    Hélito ainda no hospital durante a internação. (Foto: Arquivo Pessoal)

    “É uma tragédia anunciada, todos sabiam do tamanho do problema. Em 1995, uma casa próxima a da minha família inundou e acabou destruindo nossa casa inteira, então isso não é novidade pra gente. Além disso, luto por melhorias há anos, já me reuni com quatro prefeitos diferentes – incluindo o atual em governo passados -, mas nada saiu da promessa”, disse Hélito.

    No dia em que a cratera se abriu, três funcionários da Prefeitura foram até a Rua do Túnel para apoiar moradores na remoção de veículos. Durante o processo, os três pediram ajuda a Hélito, momento em que o acidente aconteceu.

    “Um dia antes, eu mesmo trouxe o prefeito ao bairro, e ele prometeu retirar os carros. Já no dia do acidente, profissionais de marcenaria da Prefeitura foram enviados até lá, com um caminhão e pranchas para remover os veículos. Ao chegar em uma das casas, o portão travou e me pediram ajuda. Nesse momento, dei um passo para dentro, junto de outro funcionário, e na hora em que fomos levantar o portão, o buraco abriu”, explicou Hélito.

    44 dias de internação e ao menos cinco procedimentos. (Foto: Arquivo Pessoal)

    Enquanto Hélito teve múltiplas fraturas, em especial na tíbia e no joelho, o outro homem que caiu na cratera, funcionário da PMP, teve uma luxação e foi liberado após observação. Olhando pra trás, Hélito acredita que precisava estar no local no momento do acidente para que uma tragédia maior não acontecesse.

    “No momento da queda, duas placas de ferro caíram sobre a gente, e consegui impedir que uma delas caísse na cabeça do outro rapaz. Eu tinha que estar ali para que ele não morresse. Eu o ajudei e ele me ajudou também”, comentou o presidente da associação.

    Ele conta, também, que não sabe como vai fazer para voltar a trabalhar depois das cirurgias, já que placas metálicas foram colocadas em sua perna e ele trabalha com elétrica, o que pode fazer com que ele leve choques constantemente.

    “A parte física tem sido muito difícil, mas a psicológica está terrível. Sou um cara muito ativo, trabalho muito e isso tudo freou minha vida. Perdi todas as minhas fontes de renda, já que eu trabalho como autônomo e recebia renda de aluguel, tanto de uma casa quanto de uma garagem, que agora estão interditados. Tenho dependido da ajuda de amigos, familiares. Até vaquinha online fizeram pra me ajudar. É muito triste isso, ver sua vida toda sendo tirada e não ter o que fazer. Não tenho autonomia nem pra pegar um copo d’água”, desabafou Hélito, concluindo que nenhum tipo de apoio foi oferecido após o ocorrido.

    “Meu acidente foi causado por negligência do poder público, foram muitas prefeituras que passaram e não fizeram nada. Há dois anos, eu estava lá quando prometeram refazer a obra, mas não foi o que aconteceu. E desde o ocorrido, não recebi nenhum tipo de apoio. Chegaram a falar que me visitariam no hospital, que ajudariam na minha situação, mas nada foi feito. É como se a gente não existisse”, completou.

    O que diz a Prefeitura:

    Após a publicação da matéria, a Prefeitura enviou uma nota à Tribuna, negando o que o foi relatado pela vítima e disse que “em momento algum recomendou a movimentação em área instável da Rua Francisco Scali (chamada de Rua do Túnel Extravasor). Equipes da Secretaria de Obras e da Defesa Civil monitoraram permanentemente a comunidade, orientando os moradores a não circularem por áreas interditadas. Foi feito, inclusive, simulado para orientar a população sobre a rota segura de fuga (moradores de áreas estáveis da região devem passar pela antiga Fábrica de Veludo, no Itamarati) e sobre a interdição do local”.

    A Prefeitura disse ainda que lamenta o ocorrido com o morador e disse que um representante do governo, que coordenou ações da Rua Francisco Scali (chamada de Rua do Túnel Extravasor), entrou em contato com o sr. Hélito após o acidente, prestando solidariedade e oferecendo apoio. A Prefeitura negou que o morador não tenha recebido apoio do governo municipal e disse que ele recebeu todo atendimento médico necessário, em rede hospitalar especializada em trauma, e recebeu alta.

    De acordo com a prefeitura, o “Sr. Hélito esteve presente em algumas reuniões na sede da Prefeitura, onde foi ouvido por equipes do governo e apresentou algumas reivindicações dos moradores da Rua do Túnel”. A Prefeitura, por meio das secretarias de Obras e Defesa Civil, e da Comdep, disse que segue atuando no local para atender as demandas apresentadas pelos moradores.

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