Duas joias
Falar de trovas, essas belas redondilhas que até há pouco tempo, como escreveu meu pai no Prefácio do livro “O Canto do Cisne”, “… eram qualificadas pelos intelectuais de então, como simples subproduto da poesia…”, graças, entretanto, a poetas e trovadores, sejam de maior brilho ou simplesmente aqueles que se lançam a escrevê-las por amor a arte, acabou por demonstrarem que “a composição poética de quatro versos com sete sílabas, rimando pelo menos o 2º com o 4º e tendo um sentido completo”, na palavra do notável Luiz Otávio, afirma o mesmo, “considero trova”.
Explica ainda o mestre, através da obra “Meus Irmãos os trovadores”, que “o nome trova parece ter vindo do francês – trouver (achar) talvez com escalas no espanhol – trobos (trovas)”.
E completa: “Há mais de um século eram assim designadas as quadras populares na Espanha.
Voltando, no entanto, à obra de Luiz Otávio, que reúne uma Coletânea delas, escolhi dois trovadores para sobre os mesmos discorrer – duas joias.
Tantos outros também muito apreciei e buliram com minha sensibilidade, e não vou esconder que já li e reli tal obra por diversas vezes.
O conteúdo da mesma é recheada de romantismo, de divagações filosóficas, lirismo poético, encantos e desencantos e bem assim de um sem número de outros temas que fizeram inspirar centenas de autores, lídimos trovadores que integram a Coletânea em questão.
Assim é que chamou a minha atenção, de um modo especial, Adelmar Tavares, a quem chegaram a dar-lhe o nome do Rei da Trova.
E é de sua lavra: “Ó linda trova perfeita, / que nos dá tanto prazer! / Tão fácil – depois de feita, / – Tão difícil de fazer…”
Luiz Otávio, nas notas bibliográficas constantes de sua Coletânea, descreve que o grande trovador nasceu em Pernambuco, tendo residido por muitos anos no Rio de Janeiro.
Seu primeiro livro foi “Descantes” (1907) – com vários trovadores), seguido de tantos outros, especialmente na poesia.
De sua inspiração nasceu: “Sou jardineiro imperfeito, / pois no jardim da Amizade, / quando planto o amor perfeito, / nasce sempre uma saudade”.
E outra: “Dos desertos deste mundo, / sei do mais desolador. / – Uma alma sem esperança, / Um coração sem amor”.
Ressalto, outrossim, um extraordinário trovador colega de meu pai, junto ao então Departamento Nacional de Estradas de Rodagem, João Felício dos Santos, nascido em Mendes, estado do Rio de Janeiro.
Deixou-nos belas trovas como as que passo a transcrever: “Eu nunca sei bem ao certo / (é tão grande o meu desejo…) / se te beijo quando sonho / ou sonho, quando te beijo!”
E mais duas inspiradas quadras: “Eu sozinho, tu sozinha, / vamos em rumos diversos… / Tu, nunca mais, serás minha! / Eu, nunca mais, farei versos”.
“Bom dia”, morena linda / minha doce Ave Maria! / O meu dia é noite ainda / até que eu te dê “Bom dia!”
Após concluir a leitura de centenas de trovas, que integram a belíssima Coletânea, as quais me proporcionaram a lembrança de momentos especiais em razão do fundo carismático de cada uma delas, aliadas àquelas de Adelmar Tavares e de João Felício dos Santos, senti-me leve… quase poeta! Por isso mesmo fico contente em poder compartilhar esta minha alegria com os leitores, uma vez que luzentes como são, devem espalhar por toda a parte alegria e lembranças.