Dores e tristezas com Maiacowski
Às vezes, temos “inspiração” para uma crônica mas nos falta um título perfeito e ele surge ao parabenizar a sra. Kie Kume, na crônica publicada dia 27.10, por sua objetividade, além de vir ao encontro de minha visão de vida como mostrei na crônica do dia anterior, quando escrevi – “as pessoas não têm consciência da real finalidade da vida, mais espiritual que material”. Por tal conjunção de princípios, me veio à cabeça o título acima.
Saudades e tristezas sempre extrapolam na vida, quando não se apresentam como uma fatalidade das circunstâncias mas em conseqüência da irresponsabilidade ou vaidade de cada um. E é como sinto com relação à entidade que pertenci e que se dilui em função da simples Vaidade, esta Mãe perniciosa de todas as mazelas da vida: da Arrogância, da Inveja, da Incompetência, da Irresponsabilidade e de tantas outras tendências malignas que estamos cansados de presenciar – ao menos pelos mais francos, observadores e sensíveis.
Como no poema “No caminho com Maiacowski”, entraram na entidade e jogaram fora algumas peças da casa e ninguém protestou; depois levaram alguns móveis e ninguém protestou; depois destruíram toda sua estrutura e ninguém protestou e quando viram, não existia mais nada, aí ninguém mais poderia protestar. Assim é a vida das entidades que se vão, que são destruídas pela incompetência e ganância de seus responsáveis e que, por não ser uma fatalidade da vida, temos que sentir muita tristeza.
O poema atribuído a Maiacowski, muito difundido, não vem a ser dele e sim do niteroiense Eduardo Alves da Costa que o escreveu em função do regime militar de 64, mas, que, pela visão de hoje, se aplicaria mais apropriadamente aos governos que se seguiram – principalmente ao petista do que aos rigores dos governos militares, tão criticados mas que já despontam saudades diante de tanta desfaçatez na destruição do país em prejuízo de muitos e, principalmente, dos menos favorecidos.
E, para mim, mesmo com uma visão mais espiritual que material, me entristece ver o desmoronamento de tantas entidades e organizações que tais bens traziam, em todos os sentidos, serem destruídas pelo descaso, pela incúria e desprezo quando, na maioria das vezes, só atende à vaidade e incompetência de alguns poucos. E quando tal ocorre, não conseguimos nos conformar nem igualá-la à perda de pessoa querida. Temos que, forçosamente, sentir saudades pela irracionalidade de tais atitudes que a todos degrada se só podemos lamentar e não cantar em versos como normalmente se faz no segmento poético.
Infelizmente, até paradoxalmente, nos resignamos mais rapidamente com a partida de um ente querido, por mais dor e lágrimas que acarretem, que uma entidade quando fenece, pelo sofrimento que a tantos provoca junto com lágrimas de sangue da impotência.
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