Dono da Centauro vai além do varejo para virar um ‘ecossistema’ de esporte
O Grupo SBF, dono da rede de varejo Centauro e responsável pela distribuição da marca Nike no Brasil, pretende criar um ecossistema esportivo. Além de vender artigos para esportes, a empresa está apostando na criação de conteúdo para potencializar o seu negócio – especialmente os canais digitais, que já representam 28% das vendas da companhia.
Essa transformação digital está nas mãos do executivo Pedro Zemel, que é o presidente da empresa desde 2016. Mas foi no último ano que esse avanço realmente aconteceu. Um marco foi a aquisição da produtora de conteúdo NWB, que é detentora de canais do YouTube como Desimpedidos, Acelerados e Falcão 12, do ex-jogador de futsal. No total, o SBF pagou R$ 60 milhões pela empresa, que possui atualmente mais de 150 milhões de seguidores em diferentes plataformas.
“Queremos ser um ecossistema do esporte e aumentar a profundidade de relação que temos com os nossos clientes. A leitura que temos é a de que precisamos ser relevantes em todos os pontos de contato possíveis”, afirma Zemel.
É um caminho similar ao que o Magazine Luiza tem feito nos últimos anos: desde 2020, o Magalu comprou, entre outras empresas, os portais Jovem Nerd e Tecnoblog, além da plataforma de marketing digital InLoco. O Grupo SBF está de olho em novas oportunidades de aquisição que ajudem a complementar esse ecossistema.
De acordo com Zemel, novas aquisições nessa área de conteúdo e marketing estão no radar para reduzir o valor gasto para atrair novos consumidores. Recentemente, a empresa também fez um teste com o canal Desimpedidos para transmitir jogos do Campeonato Brasileiro feminino, que chegaram a ter mais de 400 mil visualizações no YouTube.
“Gerando conteúdo, temos uma capacidade de engajar os consumidores e, nesse caso, também ajudamos a fomentar o esporte feminino no País”, afirma ele.
Essa investida no mundo digital acontece após a empresa ter pedido a disputa pela compra da Netshoes para o próprio Magalu, em 2019. Para analistas, a dona da Centauro errou ao demorar para abraçar o digital – o que fez com que sua rival conseguisse crescer nesse segmento.
Varejo físico
A venda de materiais esportivos, no entanto, continua sendo o principal negócio da empresa, que volta a ter números comparáveis aos apresentados em 2019. A receita líquida da empresa no segundo trimestre de 2021, considerando apenas as vendas da Centauro, foi de R$ 628,7 milhões, alta de 15% em relação ao apresentado dois anos atrás. Se for comparado ao mesmo período do ano passado, época em que a empresa foi castigada pela pandemia, especialmente com os shoppings fechados, a alta foi de quase 163%.
Mas, agora, a empresa também conta em seu balanço com os resultados da Fisia, distribuidora da Nike comprada por cerca de R$ 1 bilhão no ano passado. A entrada nesse negócio foi importante, segundo o presidente do SBF, para acrescentar à companhia o negócio de distribuição e atacado. “Nós queremos estar presentes em todos os segmentos do setor e utilizar as marcas para alavancar os resultados com as nossas competências”, afirma Zemel.
Nike em alta
A empresa também está atuando para melhorar os resultados da Nike no País – especialmente, as vendas digitais. O negócio gerou uma receita líquida de R$ 965 milhões no primeiro semestre deste ano, com lucro de R$ 354 milhões.
Mas o número que Zemel mais chama a atenção foi a alta da participação do e-commerce para a marca americana: saltaram de 10% para 20% de um trimestre para o outro. No geral, as vendas digitais já representam 28% da receita total do grupo, 9 pontos porcentuais a mais do que em 2019.
Para Breno de Paula, analista da Inter Research, esses números mostram que o varejo continua sendo o principal negócio do SBF e é isso que a empresa precisa entregar no curto prazo. “O grupo precisa investir em ‘omnicanalidade’, aumento de lojas, sortimento e velocidade de processamento online. Também há muito o que se fazer para explorar a geração de valor com a Fisia”, diz.
Zemel afirma que tudo isso está no radar. A expansão de lojas continua: no segundo trimestre foram quatro aberturas e oito reformas. Outras seis lojas também foram abertas em julho. “Estamos vendo em cidades menores, com população menor do que 200 mil habitantes”, diz.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.