Dólar volta a subir e renova pico histórico com desconforto fiscal
O dólar à vista ganhou força ao longo da tarde e, após instabilidade e troca de sinais, encerrou a sessão desta segunda-feira, 9, em alta moderada, renovando pico histórico nominal de fechamento. O avanço mais firme das taxas dos Treasuries e redução das perdas da moeda americana no exterior, aliada ao desconforto fiscal e inflacionário doméstico, levou à nova rodada depreciação do real.
Pela manhã, o dólar chegou a operar em queda, embora não tenha ensaiado furar o piso de R$ 6,00. Segundo operadores, a valorização de commodities como minério de ferro e petróleo, na esteira de anúncio de estímulos econômicos na China, abriu espaço para ajustes e realização pontual de lucros no mercado de câmbio local.
Com mínima a R$ 6,0376 e máxima a R$ 6,0898, na última hora de negócios, o dólar à vista encerrou a sessão em alta de 0,20%, cotado a R$ 6,0829. A divisa acumula valorização de 1,36% nos seis primeiros pregões de dezembro, após ter subido 3,81% em novembro e 6,31% em outubro.
“A fragilidade na condução do ajuste fiscal aumenta a volatilidade e vem limitando o espaço para uma recuperação mais consistente do real, com o dólar mantendo-se acima de R$ 6,00”, afirma o head de câmbio da B&T Câmbio, Diego Costa.
Há receio de que o pacote de corte de gastos apresentado pelo governo seja parcialmente desidratado durante a tramitação do Congresso, sobretudo após lideranças do PT terem sinalizado que pretendem alterar as medidas que tratam do acesso ao Benefício de Prestação Continuada (BPC).
Causou desconforto hoje à tarde a decisão do ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF) de reiterar pedido do governo para reconsiderar critério de liberação de emendas parlamentares. Deputados e senadores havia mostrado insatisfação com a decisão de Dino e ameaçaram travar a tramitação do pacote de gastos no Congresso. Segundo fontes ouvidas pelo Broadcast, Lula se reuniria hoje com os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), para tratar do tema.
A incerteza no campo fiscal contribui para a ampliação da desancoragem das expectativas de inflação, como revelado hoje Boletim Focus de hoje, e aumenta a expectativa de aperto monetário mais forte. Casas relevantes como Itaú, Santander, Citi e Warren esperam que o Comitê de Política Monetária do Banco Central acelere o ritmo de alta da taxa Selic neste ano.
“Vimos um comportamento de queda do dólar pela manhã, relacionado a medidas do governo chinês que acabaram impulsionando os preços das commodities. Mas o clima de cautela acabou prevalecendo por conta da expectativa pela decisão do Copom nesta semana”, afirma a economista-chefe do Ouribank, Cristiane Quartaroli.
Em tese, juros mais altos seriam favoráveis ao real, ao ampliar a atratividade da renda fixa brasileira. Mas a percepção de risco fiscal e de esfriamento da atividade mais à frente diminuem o apelo de ativos brasileiros. Há também uma sazonalidade ruim para o mercado de câmbio local, com remessas de lucros e dividendos típicas de fim de ano.
Outro ponto é a perspectiva de dólar forte no mundo no segundo governo Donald Trump, cujas políticas, vistas como inflacionárias, podem limitar o espaço para corte de juros pelo Federal Reserve. Após a rodada de indicadores do mercado de trabalho na semana passada, investidores aguardam a divulgação na quarta-feira, 11, do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) em novembro para reafirmar as apostas em relação à decisão do Fed neste mês.
O economista-chefe do Banco Fibra, Marco Maciel, afirma que o nível atual da taxa dos Treasuries de 2 anos deveria levar a uma valorização das divisa emergentes, com o dólar descendo para uma faixa de R$ 5,90. Ele pondera que a incerteza fiscal ainda assombra os ativos brasileiros, dado que o governo aparentemente superestimou a economia de despesas com o pacote anunciado pelo governo.
“A tendência de depreciação relativa do real para R$ 6,00 tende a prevalecer em dezembro e no início do primeiro trimestre de 2025, principalmente por conta do quadro fiscal doméstico”, diz Maciel, para quem o dólar deve ir, em um primeiro momento, para R$ 6,10 e, em seguida, para a vizinhança de R$ 6,20 entre este mês e o fim do primeiro trimestre de 2025.