Dólar volta a fechar no maior nível desde outubro com inflação nos EUA
O dólar à vista disparou nesta quarta-feira, 10, no mercado doméstico de câmbio, insuflado por uma onda global de fortalecimento da moeda americana e pelo avanço firme das taxas dos Treasuries. Resultado acima do previsto do índice de inflação ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) nos EUA em março provocou um rearranjo relevante das expectativas para os próximos passos do Federal Reserve.
Afora uma queda pontual na abertura dos negócios, quando rompeu o piso de R$ 5,00 na mínima (R$ 4,9996) sob impacto do resultado benigno do IPCA de março e de nova alta do minério de ferro, o dólar trabalhou em alta no restante do dia. Com máxima a R$ 5,0862, a moeda encerrou em alta de 1,41%, a R$ 5,0784 – maior valor de fechamento desde 13 de outubro de 2023.
O contrato de dólar futuro para maio apresentou giro muito forte, superior a US$ 20 bilhões, o que sugere mudanças relevantes no posicionamento de investidores. Operadores ressaltam que os fundos locais carregavam até ontem posição vendida em dólar (que trazem ganhos em caso de apreciação do real) de cerca de US$ 10 bilhões – e podem ter corrido para reduzi-las por meio da disparada de ordens para limitação de perdas (stop loss).
Termômetro do comportamento do dólar em relação a seis divisas fortes, o índice DXY ultrapassou a linha dos 105,000 pontos e atingiu o maior nível desde novembro. Entre as moedas emergentes e de países exportadores de commodities mais relevantes, as maiores perdas foram do dólar australiano e do rand sul-africano. A taxa da T-note de 10 anos também subiu mais de 4%, tocando 4,56% na máxima, em dia de leilão com demanda abaixo da média.
Divulgada à tarde, a ata do encontro de política monetária do Banco Central americano em março não trouxe novidades. No documento, os dirigentes do Fed repetem declarações recentes de que veem progresso significativo no combate à inflação, apesar das leituras mais elevadas em janeiro e fevereiro. Mais uma vez, o BC americano voltou a dizer que precisa de mais confiança no processo de desinflação para começar a reduzir os juros.
O economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, lembra que o presidente do Fed, Jerome Powell, chegou a dizer em entrevista coletiva que a alta da inflação no início deste não representava um problema. “Os dados de hoje enterraram essa visão. O processo de inflação está disseminado, com a parte de serviços muito preocupante”, diz Borsoi.
A leitura do CPI e do núcleo vieram acima das expectativas tanto na comparação mensal quanto anual. Foi a senha para que as apostas majoritárias para primeiro corte de juros nos EUA neste ano deslocaram-se de julho para setembro. No fim da tarde, a curva de juros americana ampliava as chances de apenas uma redução neste ano. No fim do ano passado, esperava-se corte inicial em março e alivio total de 150 pontos-base.
O sócio e diretor de investimento da Azimut Brasil Wealth Management, Leonardo Monoli, observa que a média de três meses do núcleo de inflação nos EUA também acelerou pelo terceiro mês consecutivo, “mostrando sinais crescentes de reaceleração dos preços”. Além disso, o chamado supernúcleo do CPI (serviços básicos excluindo habitação) mostrou mais uma vez forte alta na comparação mensal.
“O risco agora caminha para que a maioria dos membros do Fed altere a projeção de três para dois cortes neste ano, empurrando o início do ciclo para setembro”, afirma Monoli, ressaltando que o cenário fica cada vez mais complicado para emergentes. “Pela primeira vez, o mercado fica à frente do Fed tanto na postergação do ciclo como na redução esperada.”
Após o CPI de março, as atenções se voltam à divulgação, amanhã, do índice de preços ao produtor (PPI, na sigla em inglês) nos EUA e a discursos de dirigentes do Fed. Para Borsoi, da Nova Futura, caso o PPI venha acima do esperado, sugerindo pressões inflacionárias nos próximos meses, o dólar pode ultrapassar pontualmente a barreira técnica de R$ 5,10.