Dólar tem leve alta com dados fortes nos EUA e ruídos políticos
Após trocas de sinal pela manhã e no início da tarde, o dólar à vista se firmou em terreno positivo nas últimas horas de pregão e encerrou a sessão desta quinta-feira, 15, em leve alta, mas ainda abaixo da linha de R$ 5,50. Segundo operadores, o tropeço do real está ligado a ajustes típicos após uma temporada de forte apreciação e à recomposição parcial de posições defensivas, estimulada pelo aumento dos ruídos políticos locais.
Lá fora, o dólar avançou em relação a moedas fortes e a maioria das divisas emergentes e de países exportadores de commodities, embora tenha recuado na comparação com pares do real como o peso mexicano e o rand sul-africano. Entre as commodities, as cotações do petróleo subiram mais de 1%. Já os preços minério de ferro recuaram mais de 2%, para o menor patamar desde novembro de 2022, em meio a resultados ruins de siderúrgicas e do setor imobiliário na China.
As taxas dos Treasuries avançaram em bloco, após dados acima esperado de varejo e números de pedidos de auxílio-desemprego nos EUA diminuírem os temores de desaceleração abrupta da atividade e, por tabela, esfriarem apostas em corte agressivo de juros pelo Federal Reserve neste ano.
O head de Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, afirma que, embora haja um componente doméstico na formação da taxa de câmbio, o fôlego curto do real hoje pode ser atribuído à alta das taxas dos Treasuries. “O real é mais sensível à elevação da curva da taxa de juros americana, por isso descola dos pares. Os dados de hoje sugerem atividade mais forte nos EUA. E o mercado já precifica redução de 25 pontos e não de 50 pontos na próxima reunião Fomc”, afirma Weigt, em referência ao encontro comitê de política monetária do Fed em setembro.
Com mínima a R$ 5,4513 pela manhã e máxima a R$ 5,4938, à tarde, o dólar à vista encerrou o dia cotado a R$ 5,4838, em alta de 0,27%. Apesar de dois pregões seguidos de ganhos, a moeda ainda cai na semana (-0,57%). No mês, a desvalorização acumulada é de 3,03%.
A economista-chefe do Ouribank, Cristiane Quartaroli, observa que o descolamento do real dos pares pode ser explicado tanto por questões técnicas quanto por certo incômodo com o quadro interno. “Temos um aumento dos ruídos políticos com a volta do Congresso do recesso e isso pode estar pressionado um pouco o real nos últimos dias”, afirma Quartaroli, ressaltando as negociações em torno da tramitação da regulamentação da reforma tributária e do projeto de compensação de desoneração, além da expectativa pela indicação do novo presidente do Banco Central.
Em Brasília, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), anunciou o adiamento da votação do projeto de desoneração para a próxima terça-feira, 20. O relator do PL, senador Jacques Wagner (PT-BA), disse que apresenta nova versão do texto na segunda-feira, 19. Há dois pontos polêmicos na proposta: a obrigação de empresas a firmarem termo se comprometendo a manter o mesmo número de empregados e o aumento de 15% para 20% na cobrança de Imposto de Renda de Juros sobre Capital Próprio (JCP).
Há também um mal-estar na relação entre governo e lideranças partidárias após o ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), ter suspendido ontem a execução de todas as emendas impositivas até que o Congresso crise de transparência, rastreabilidade e eficiência. Segundo apurou o Broadcast Político, os ministros do STF devem alinhar posições em torno do tema ainda hoje.
Operadores também citaram reportagem exclusiva do Broadcast com a informação de que a Receita Federal conseguiu até o momento a adesão de 17 contribuintes às condições especiais de pagamento introduzidas na lei do Conselho de Administração de Recursos Fiscais (Carf). O órgão estima arrecadar R$ 87 milhões com esses acordos. As cifras estão muito aquém da estimativa do ministério da Fazenda, que espera um número maior de adesões para ampliar as receitas e atingir as metas fiscais.