• Dólar recua com relatório de emprego fraco no EUA e fecha dia a R$ 5,41

  • Continua após o anúncio
  • Continua após o anúncio
  • 05/set 17:52
    Por Antonio Perez / Estadão

    O dólar encerrou a sessão desta sexta-feira, 5, em queda firme, mas distante das mínimas vistas pela manhã, quando rompeu o piso de R$ 5,40. O tombo do dólar veio após o relatório de emprego (payroll) atestar o enfraquecimento do mercado de trabalho nos EUA, estimulando apostas em corte mais agressivo da taxa de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) até o fim do ano.

    A diminuição das perdas ao longo da tarde se deram em linha com o comportamento da moeda americana no exterior, na esteira de fala mais cautelosa de um dirigente do Fed. Operadores ponderaram que ajustes intradia e a desvalorização de mais de 2% do petróleo podem ter contribuído para levar a taxa de câmbio novamente para cima de R$ 5,40.

    Com mínima de R$ 5,3826, o dólar fechou em queda de 0,63%, a R$ 5,4124. Graças ao escorregão desta sexta, a divisa termina a semana em leve baixa (0,18%), após ter caído 3,19% em agosto. No ano, as perdas são de 12,42% em relação ao real, que tem o melhor desempenho entre divisas latino-americanas no período.

    O economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala, afirma que a surpresa com o payroll “aumenta substancialmente” as chances de cortes de juros pelo Federal Reserve daqui para frente, o que leva a uma desvalorização do dólar.

    “Já se fala em uma redução de 50 pontos-base na próxima reunião. O mercado esperava um dado fraco, mas o resultado foi ainda pior, reforçando a percepção de que os próximos meses trarão cortes mais agressivos”, afirma Gala, em nota.

    Lá fora, o índice DXY – que mede o desempenho da moeda americana em relação a uma cesta de seis divisas fortes – caía cerca de 0,60% no fim da tarde, na casa dos 97,770 pontos, após mínima de 97,430 pontos pela manhã. O Dollar Index fechou a semana com recuo de cerca de 0,10% e, no ano, perde mais de 9,80%.

    Houve criação de 22 mil empregos nos EUA em agosto, bem abaixo da mediana das estimativas coletadas pelo Projeções Broadcast, de 76 mil. Os números de julho foram revisados para cima, de 73 mil para 79 mil. Já o resultado de junho passou de criação de 14 mil vagas para eliminação de 13 mil postos de trabalho.

    A divulgação do relatório atrasou por dificuldades técnicas, segundo o Departamento do Trabalho dos EUA. O episódio trouxe de volta dúvidas sobre possível tentativas de influência da administração Trump na formulação do documento, já que o presidente dos EUA demitiu a líder em estatísticas do departamento, Erika McEntarfer, no início de agosto, após o payroll fraco de julho.

    “Ao longo da semana, outros indicadores também reforçaram a fraqueza do mercado de trabalho, como o relatório ADP e os componentes de emprego das pesquisas de atividade industrial e de serviços”, afirma o diretor de Macroeconomia do Banco Pine, Cristiano Oliveira. “Com isso, a curva de juros nos EUA passou a precificar quase 100% de probabilidade de um corte de 0,25 ponto no dia 17, além de mais quatro cortes nos meses seguintes”, afirma o diretor.

    Ferramenta de monitoramento do Chicago Mercantile Exchange (CME Group) mostra o surgimento de apostas de corte da taxa em 50 pontos-base em setembro, com chances pouco acima de 10%. A expectativa de redução acumulada de 75 pontos-base até o fim do ano saltou da casa de 50% para mais de 65%.

    À tarde, o presidente do Federal Reserve de Chicago, Austan Goolsbee, ponderou que o ritmo de contratação nos EUA “pode estar artificialmente menor” devido à política migratória de Trump. “Se nós começarmos a ver demissões, aí eu ficaria mais nervoso com a situação de emprego”, afirmou.

    Goolsbee, que vota nas reuniões de política monetária neste ano, disse que é também preciso “prestar atenção à inflação”, argumentando que é necessário ter certeza de que o repique nos preços de serviços é apenas pontual.

    Diante de tal quadro, o dirigente repetiu que está “indeciso” em relação ao seu voto no encontro deste mês.

    “Goolsbee tentou dar uma segurada no otimismo do mercado. As declarações parecem consistentes com corte em setembro, mas o alerta sobre a inflação de serviços e sobre as contratações sugere que 50 pontos-base ainda é um cenário de cauda”, afirma o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, para quem uma redução de 50 pontos pode ocorrer se a leitura da inflação ao consumidor de agosto, que sai quinta-feira, 11, “for muito fraca”.

    Últimas