Dólar fecha quase estável apesar de aversão a risco com conflito Israel-Irã
Após apresentar alta firme pela manhã e se aproximar do nível de R$ 5,60, com a aversão ao risco provocada pelo conflito entre Israel e Irã, o dólar perdeu força no mercado local ao longo da tarde e fechou praticamente estável nesta sexta-feira, 13, na contramão do comportamento da moeda norte-americana no exterior.
A recuperação do real se deu em dois estágios. Primeiro, houve um movimento mais técnico de ajustes e realização de lucros, embalado em parte pela valorização adicional do petróleo, para mais de 7%, com a escalada dos atritos no Oriente Médio. Em um segundo momento, o dólar desceu mais um degrau e se firmou em terreno negativo, descendo até R$ 5,5309 na mínima da sessão.
Operadores atribuíram esse segundo movimento à informação apurada pelo Estadão de que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) sinalizou ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), disposição em apoiá-lo como candidato a presidente na eleição de 2026 em uma chapa que teria como vice a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL).
É corrente a leitura entre operadores e analistas de que investidores já começaram a operar de olhos nas eleições de 2026, especialmente em razão da perda da popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A crença é a de que um candidato mais à direita no espectro político faria um ajuste estrutural nas contas públicas, o que beneficiaria ativos locais. A reação contrária do Congresso e dos setores produtivo e financeiro à Medida Provisória do governo e ao decreto do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) atestariam a deterioração do capital político de Lula.
No fim do dia, o dólar à vista era cotado a R$ 5,5417 (-0,02%). A moeda norte-americana encerra a semana com queda de 0,50%, o que leva as perdas acumuladas no mês a 3,11%. Em 2025, o dólar apresenta desvalorização de 10,33% em relação ao real, que tem o melhor desempenho nesse período entre as divisas latino-americanas.
O economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, afirma que a esticada mais forte do dólar pela manhã foi uma reação natural às incertezas provocadas pelo ataque de Israel ao Irã. “Em seguida, o mercado deu uma acalmada, corrigindo parte dos excessos. Tecnicamente, o avanço do petróleo tende a trazer um pouco mais de capital para o Brasil, e o real pode ter surfado isso”, afirma Velloni, acrescentando que a questão fiscal, com o imbróglio envolvendo o IOF, pode uma hora acabar respingando na moeda brasileira.
À tarde, uma coalização de 20 frentes parlamentares ligadas a diferentes setores produtivos divulgou nesta sexta-feira, 13, um manifesto contra a medida provisória com alternativas para amenizar a alta do IOF. Segundo apurou o Broadcast Político (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), o texto deve ser endossado por mais apoios nos próximos dias, tanto de setores quanto de parlamentares, já que a Coalizão das Frentes Parlamentares dos Setores Produtivos ainda está coletando assinaturas de confederações e mais partidos. A ideia da coalizão é se juntar na próxima terça-feira, 17, em um grande ato no Salão Azul, para pressionar o presidente do Congresso a devolver a MP.
O gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, afirma que, embora a reação negativa à tentativa do governo de aumentar impostos comprometa o esforço de elevar as receitas e lance dúvidas sobre o cumprimento das metas fiscais, o real pode até se apreciar ainda mais se não houver uma grande onda de aversão ao risco no exterior.
“Não dá para ficar comprado em dólar com taxa Selic em 14,75% e podendo chegar a 15%. Ninguém aguenta sustentar uma posição com um custo de carregamento desse tamanho”, afirma Galhardo, referindo-se à possibilidade de o Comitê de Política Monetária (Copom) elevar a taxa básica de juros em 0,25 ponto porcentual na próxima semana, para 15% ao ano.
No exterior, o índice DXY – termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes, apresentou alta moderada e operava na casa dos 98,200 pontos, após máxima aos 98,586 pontos. Os preços do petróleo dispararam e encerraram o dia com ganhos de mais de 7%.
Diferentemente do que era costumeiro em episódios de aversão ao risco, investidores não correram para buscar abrigo nas Treasuries. Pelo contrário. As vendas dos papéis fizeram as taxas subirem, em parte refletindo as preocupações com os impactos inflacionários provocados pelas tensões geopolíticas.
“Chama a atenção o fato de que o dólar teve uma reação modesta ao aumento dos riscos, com o DXY subindo apenas cerca de 0,5%, o que deve aumentar a percepção de erosão de seu papel como porto seguro”, afirma o economista Vladimir Caramaschi, sócio-fundador da +Ideas Consultoria Econômica.