• Dólar fecha em alta de quase 1% com exterior e política monetária no radar

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  • 28/ago 18:02
    Por Antonio Perez / Estadão

    O dólar à vista encerrou a sessão desta quarta-feira, 28, em alta firme e voltou a superar a barreira técnica e psicológica de R$ 5,55, impulsionado pela valorização global da moeda norte-americana, em especial na comparação com divisas latino-americanas, e pelo sentimento de aversão ao risco no exterior.

    O real pouco reagiu ao tom um pouco mais conservador do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, pela manhã, que sugere eventual alta da taxa Selic pelo Comitê de Política Monetária (Copom) em setembro.

    Tampouco a indicação do atual diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, para o comando da instituição à tarde deu alento à moeda brasileira. Pelo contrário. Enquanto Ibovespa se firmava em terreno positivo e os juros futuros ganharam ainda mais força, o dólar à visita não apenas se manteve em alta firme como tocou pontualmente o nível de R$ 5,56.

    Galípolo era o favorito na corrida para o comando do BC e, embora seja visto como mais próximo à heterodoxia econômica, deu declarações recentes de que não sofre pressões política do governo e que não hesitará em optar por uma alta de juros, caso necessário.

    Com máxima a R$ 5,5645 na última hora de negócios, a moeda terminou a sessão cotada a R$ 5,5555, avanço de 0,96% – o que levou os ganhos na semana para 1,39%. A desvalorização acumulada em agosto, que chegou a superar 3%, caiu para 1,76%.

    Termômetro do desempenho do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes, o índice DXY subiu mais de 0,50% e voltou a superar os 101,100 pontos. A moeda americana recupera parte das perdas recentes, deflagradas pela sinalização do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, de início de corte de juros em setembro.

    Investidores se acautelaram nesta quarta à espera do balanço da Nvidia, divulgado após o fechamento do mercado financeiro. Houve expectativa também pela divulgação da segunda leitura do PIB americano na quinta, 29, e do índice de preços de gastos com consumo (PCE na sigla em inglês) na sexta, 30 – eventos que podem ajudar a calibrar as expectativas para a magnitude do corte de juros nos EUA.

    Entre as divisas emergentes e de países exportadores de commodities mais relevantes, apenas o peso mexicano se apreciou. A moeda mexicana se recuperou do tombo da terça diante da informação de que a presidente eleita do México, Claudia Sheinbaum, teria pedido menos pressa na tramitação do projeto de reforma do judiciário.

    O economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, avalia que o dólar perdeu valor principalmente em relação a moeda fortes após a sinalização de Powell. As moedas latino-americanas tiveram reação bem mais modesta e voltaram a se desvalorizar.

    “Na margem, o real está em linha com as outras moedas da América Latina, que estão piores que outras divisas emergentes e ligadas a commodities”, diz Adauto. “Powell trouxe uma apreciação momentânea para o câmbio bem menor do que se imaginava. As moedas latino-americanas sofrem mais com a aversão ao risco”.

    Por aqui, chamou a atenção o tom mais duro de Campos Neto. Ele disse que o IPCA-15 de agosto, divulgado na terça, “veio um pouco melhor”, mas ainda não “dá conforto” ao Copom. “Temos enfatizado que o BC vai fazer o que for preciso para atingir a meta”, disse Campos Neto.

    O presidente do BC repetiu que a autoridade monetária esteve prestes a intervir no mercado de câmbio durante a depreciação aguda do real no início de agosto. Ele afirmou que o BC “sempre ali com o dedo no gatilho”, embora tenha ressaltado que só age para evitar disfuncionalidades. Tais afirmações foram vistas por parte de operadores como recado velado de que o BC está atento a eventuais movimentos especulativos exagerados.

    Lima, da Western Asset, observa que um aumento do diferencial de juros, com eventual alta da taxa Selic e corte de juros pelo Fed, é apenas um dos fatores para a formação da taxa de câmbio. Ele ressalta que há questões domésticas pendentes do ponto das contas públicas, uma vez que o detalhamento de corte de gastos para 2025 feito nesta quarta pelo ministério do Planejamento não abrange questões estruturais e há dúvidas sobre o impacto do novo programa de auxílio-gás sobre o arcabouço fiscal.

    Em relação à indicação de Galípolo à presidência do BC, Lima afirma que a falas recentes do diretor reduziram temores de interferência do governo Luiz Inácio Lula da Silva na condução da política monetária, mas que ainda existem dúvidas sobre como Galípolo vai se portar como presidente da instituição a partir de 2025.

    O economista ressalta que os receios de postura menos técnica do BC a partir do ano que vem despertados pela decisão dividida do Comitê de Política Monetária (Copom) em maio ainda estão presentes. Na ocasião, quatro diretores indicados por Lula votaram por redução menor da taxa básica.

    “O próprio Galípolo reconhece nas suas falas que essa desconfiança existe e é legítima. Esse risco político diminuiu com as falas recentes mais duras, de que vai subir juros e precisar, mas ele ainda existe”, afirma Lima.

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