Dois meses depois de temporal, Caxambu mantém cenário de destruição
Dois meses após o temporal que atingiu o Caxambu, o maior desafio dos moradores é recomeçar. Com plantações completamente destruídas, casas danificadas e sem veículos e equipamentos, levados pela correnteza, eles se desdobram para reconstruir suas vidas. Além de prejuízos que, segundo a Prefeitura, podem chegar a R$ 5 milhões, a cabeça d'água que atingiu a região na tarde do dia 3 de março provocou a morte de Danilo Oliveira Santos, de 30 anos. O carro em que estava foi arrastado pela forte correnteza do rio que corta a região de Três Pedras.
No dia do temporal, a chuva forte começou durante a tarde, perto das 15h, mas quem estava em casa não imaginou o que estava por vir. A agricultora Simone Aguiar, de 47 anos, estava em casa com o neto, de 6 anos. Ela contou que não tinha percebido o que estava acontecendo do lado de fora da casa, até que a água começou a invadir os cômodos. Quando tentou sair pela porta da sala, já quase não dava mais. A força da água bloqueava a passagem. Emocionada, ela contou que segurou o neto e juntos se agarraram a uma pilastra da varanda. Só conseguiram sair dali quando a cunhada e o sobrinho os ajudaram com uma corda a passar para a casa da frente. O imóvel acabou virando um abrigo improvisado, até o fim da chuva.
André José Ribeiro, marido de Simone, diz que ficou sem palavras ao ver a destruição, mas não desanima. “Pelo menos estamos vivos”, diz ele, que acabou se mudando com a família para uma casa alugada no mesmo bairro e precisou ir trabalhar em plantações vizinhas, que não foram atingidas, para garantir o sustento da família. Simone também arregaçou as mangas e, apesar do trauma por conta da tragédia, trocou a plantação por casas de família. “Hoje trabalho como doméstica”, explica. Com o dinheiro, eles tentam comprar material para reconstruir a casa e recuperar a área de plantação.
Além da família de André e Simone, outros 338 produtores rurais foram afetados com o temporal do dia 3 de março na região, principalmente nas localidades de Mato Banco, Três Pedras, Bairro do Alto, Caminho do Derinho e Santa Isabel foram as localidades que mais sofreram com o desastre.
A agricultora Maria da Penha Ferreira, de 40 anos, que mora na localidade do Santa Isabel, teve os veículos levados pela enxurrada. Na garagem, havia três carros, uma picape e um caminhão. Ela contou que a família chegou a tentar amarrar os veículos no caminhão maior, mas foi em vão. “Nós começamos a puxar os carros para cima. As motos que estavam no caminho nós jogamos sobre um lote de couve que estava fora da direção da correnteza. Mas quando vimos que não tinha jeito, deixamos. O carro do vizinho de cima veio parar na minha garagem e bateu nos nossos”, contou.
Um dos carros ficou preso em uma garagem que desabou. Já o outro foi parar a cerca de 50 metros de distância. Maria da Penha contou que tudo foi levado pela água – plantação, lotes de verduras já colhidos prontos para venda, caixas de transportes, enxadas, pás, pneus dos carros e caminhão, bicicleta.
Toda a produção da família é vendida na feira do Jardim Primavera, em Duque de Caxias. Sem a produção habitual, eles começaram a juntar o pouco que conseguem produzir na terra boa que restou e complementam comprando verduras de Teresópolis. Na última semana, conseguiram colher a primeira leva de alfaces depois do temporal. “A gente vai plantando aos pouquinhos. Vai levando”, completou.
Trabalhos de recuperação do Caxambu continuam
A cabeça d’água que atingiu o Caxambu, além de destruir plantações, bloqueou ruas e riachos. Em localidades como Três Pedras e Mata Banco, moradores chegaram a ficar até quatro dias sem passagem. Segundo a Prefeitura, o recurso de R$ 4,5 milhões que viria do Governo Federal para recuperação do Caxambu, Independência e Posse (atingidos pelas chuvas de março), deve ser liberado este mês. Os recursos serão aplicados na limpeza de córregos e das galerias e redes de drenagem do município, recuperação de vias públicas e proteção de encostas.
A Secretaria de Desenvolvimento Econômico informou que está articulando com os bancos – Caixa Econômica e Banco do Brasil – linhas de crédito mais favoráveis para os agricultores da região para que eles possam voltar a investir nas plantações.
Já a Secretaria de Assistência Social informou que fez o cadastro de 20 famílias do Caxambu, que ficaram desalojadas. Estas famílias receberam assistência emergencial, com fornecimento de roupa de cama, água e cesta básica, e foram orientadas a seguirem para casa de parentes. Destas, 11 famílias ainda estão com os imóveis interditados.