• Documentos da CGU desmentem versão de Milton Ribeiro

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  • 23/06/2022 18:00
    Por Julia Affonso, Fausto Macedo, Pepita Ortega e Rayssa Motta / Estadão

    Documentos da investigação sobre o “gabinete paralelo” no Ministério da Educação desmentem versão que vinha sendo apresentada por Milton Ribeiro sobre a relação com os pastores acusados de cobrar propina no MEC. Após o Estadão revelar, em março, que os Gilmar Santos e Arilton Moura abordavam prefeitos com pedidos de dinheiro e até ouro, Ribeiro alegou que estava afastado dos religiosos havia sete meses. O então ministro alegou que denunciou atuação dos pastores a CGU em agosto e se afastou dos religiosos.

    Relatório da Controladoria-Geral da União (CGU), que faz parte do inquérito, no entanto, mostra outra conduta de Ribeiro. A transação de um carro entre as famílias de Milton Ribeiro e de Arilton Moura, em fevereiro deste ano, contrariam o álibi do ex-ministro da Educação. Parecer da CGU aponta que Victoria Camacy Amorim Correia Bartolomeu, filha de Arilton Moura, comprou um carro Kia Sportage de Myrian Ribeiro, mulher do ex-ministro.

    “Em desfavor da argumentação do sr. Milton Ribeiro (que tentou demonstrar que adotou postura de distanciamento do pastor) pesa também o fato de ter realizado a venda de um automóvel ao sr. Arilton após as denúncias”, afirmou a CGU.

    Segundo o parecer da Controladoria, Milton Ribeiro falava sobre a transação de forma natural. O órgão ouviu o atual ministro da Educação, Victor Godoy Vieira e o chefe de gabinete do ministro, Djaci Vieira, que confirmaram que Ribeiro falou sobre a venda.

    O gabinete de Milton Ribeiro foi capturado por Arilton Moura e pelo pastor Gilmar Santos, amigos dele. Sem vínculos com a administração pública nem com o setor de ensino, os religiosos facilitavam o acesso ao ministro, participam de agendas fechadas onde eram discutidas as prioridades da pasta e até o uso dos recursos destinados à educação no Brasil.

    Após a revelação sobre a existência do “gabinete paralelo”, Milton Ribeiro disse em entrevistas que tinha informado à CGU, em agosto, sobre “conversas estranhas” de Arilton Moura. Ribeiro afirmou que, após encaminhar as denúncias, só manteve os encontros com o pastor para não levantar suspeitas. Em entrevista à CNN Brasil, Ribeiro alegou, no entanto, que “não aceitou nenhum tipo de agenda fora do MEC”.

    O Estadão já havia mostrado que o álibi estava enfraquecido por conta de publicações nas redes sociais de um prefeito recém saído da cadeia. As imagens publicadas pelo prefeito de Centro Novo do Maranhão, Junior Garimpeiro (Progressistas), também desmentem a versão de Ribeiro. Cinco dias depois de sair da prisão sob suspeita de integrar uma organização criminosa armada que atua no garimpo ilegal de ouro, Junior Garimpeiro foi recebido pelo ministro num jantar reservado. Quem promoveu o encontro num apartamento de Brasília, em dezembro de 2021, foi o pastor Arilton, com quem o ministro estreitou os laços.

    Junior Garimpeiro e o pastor ainda se reuniram com o ministro em setembro, na adega de um hotel de luxo, em São Luís. Nas duas ocasiões, registradas nas redes sociais por Garimpeiro, o religioso já estava sob suspeita de atuação indevida.

    O ex-ministro, Arilton Moura, o pastor Gilmar Santos, o advogado Luciano Musse e o ex-assessor da Prefeitura de Goiânia Helder Bartolomeu foram presos nesta quarta-feira, 22, na Operação Acesso Pago. O “gabinete paralelo” foi revelado pelo Estadão em março. O desembargador Ney Bello, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) cassou a decisão e mandou soltar os investigados.

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