Ditador de Belarus diz que dissidente detido planejava ‘rebelião sangrenta’
O presidente de Belarus, Alexander Lukashenko, qualificou nesta quarta-feira, 26, como “legal” sua decisão de desviar para Minsk um avião de passageiros, no qual viajava um dissidente. O líder afirmou que o opositor, o jornalista Roman Protasevich, planejava uma “rebelião sangrenta”. Desafiante, Lukashenko acusou os países ocidentais de ultrapassarem as “linhas vermelhas” com sua críticas e qualificou as tentativas do Ocidente de sufocar Belarus de uma “guerra híbrida”.
“Atuei legalmente para proteger as pessoas de acordo com as leis internacionais”, disse a líderes políticos. O homem forte de Belarus, que governa o país desde 1994 e é conhecido por comentários polêmicos, sugeriu sem apresentar provas que, ao desviar o voo, ele também teria evitado uma potencial catástrofe nuclear, já que o avião poderia ter acionado os sistemas de defesa da usina Astravec do país.
Lukashenko também rebateu a acusação de que enviou um caça MiG-29 para forçar o pouso do voo da Ryanair. “É uma mentira absoluta dizer que o avião foi forçado a pousar por um MiG-29. A missão do caça era estabelecer a comunicação, acompanhar a aterrissagem do avião em caso de emergência”, assegurou.
Estas foram as primeiras declarações do chefe de Estado desde que o voo da companhia Ryanair, que seguia de Atenas (Grécia) a Vilnius (Lituânia), foi desviado de sua rota por Belarus. A alegação oficial é a de que Minsk havia recebido uma informação sobre uma bomba de militantes do Hamas na aeronave, o que era uma ameaça falsa.
Dois passageiros, o jornalista e dissidente Roman Protasevich e sua companheira, Sofia Sapega, de nacionalidade russa, foram detidos em Minsk antes da nova decolagem do avião, o que provocou uma condenação internacional quase unânime.
Para as autoridades de Belarus, a presença do opositor no avião foi um acaso. Mas União Europeia, EUA e os opositores belarussos afirmam que tudo foi organizado para forçar a aterrissagem do avião em Minsk e permitir a detenção do jornalista.
O isolamento de Belarus aumentou nesta quarta-feira com a decisão da União Europeia de fechar seu espaço aéreo a Belarus e recomendar às companhias que evitem sobrevoar a ex-república soviética. Além disso, novas sanções foram adotadas contra políticos e instituições de Minsk.
Lukashenko respondeu com ameaças às sanções europeias. “Estamos na primeira linha de uma nova guerra, já não fria, mas gélida”, disse o presidente ao Parlamento, segundo a agência Belta. Ele denunciou uma intervenção contra Belarus que desatou uma “guerra híbrida de diversos níveis”, cujo objetivo é “demonizar o país”.
“Somos um país pequeno, mas responderemos adequadamente. Há exemplos parecidos no mundo. E antes de fazer movimentos não pensados é necessário lembrar que Belarus é o centro da Europa e se estourar algo aqui será uma nova guerra mundial”, advertiu.
Ainda ontem, o governo belarusso acusou a França de “pirataria aérea” por ter negado seu espaço aéreo a um avião belarusso que cobria a rota entre Minsk e Barcelona, obrigando-o a dar a volta. “É um fato absolutamente escandaloso e um ato imoral. Honestamente, é praticamente pirataria aérea”, afirmou o porta-voz da diplomacia de Belarus, Anatoli Glaz.
Em meio ao aumento de tensões, o Conselho de Segurança da ONU realizou nesta quarta-feira uma reunião de emergência a portas fechadas sobre o assunto, mas dificilmente alguma medida será adotada em razão do poder de veto da Rússia. Por sua vez, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, denunciou a atitude “absolutamente inaceitável” de Minsk e um “ataque” contra os direitos fundamentais e a liberdade de imprensa.
O dissidente, de 26 anos, foi chefe de redação do influente meio de comunicação opositor Nexta, que ajudou a coordenar a grande mobilização dos belarussos durante os protestos de 2020, após a polêmica reeleição de Lukashenko.
A televisão belarussa exibiu na segunda-feira, 24, um vídeo do jovem, gravado em uma prisão de Minsk, no qual ele se declara culpado por crimes. Segundo sua família e opositores, a confissão foi obtida sob coação. Seu pai, Dimitri Potrasevich, disse que seu advogado não conseguiu vê-lo e teme que esteja no hospital. “Acreditamos que sua vida e sua saúde estão em perigo”, alertou.
O governo belarusso foi alvo de sanções ocidentais após a repressão das manifestações de 2020 contra a reeleição de Lukashenko, no poder desde 1994, uma vitória que a UE não reconhece.
Aliada de Belarus, Rússia afirmou que não há razões para duvidar da versão apresentada por Lukashenko. O Kremlin também lamentou a recomendação europeia de evitar o espaço aéreo de Belarus, ao afirmar que os passageiros pagarão o custo.
A porta-voz da diplomacia russa, María Zakharova, criticou as acusações de cumplicidade de Moscou neste assunto, denunciando “interpretações fantasiosas” e pediu “uma investigação objetiva” do incidente. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)