• Distanciamento não é isolamento social

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  • 21/03/2020 09:52

    Quando ouvi as palavras acasaladas “distanciamento social” pela primei-ra vez, confesso que me causou um certo estranhamento. Minha chave mental estava ligada no oposto, que pode ser expresso como aproximação social. Ou seja, pessoas estarem lado a lado, olho no olho, era a recomendação clássica para nos conhecermos melhor no processo de interação social. Aquela famosa observação de Aristóteles de que o homem é um animal social. Estaríamos desautorizando a sabedoria do famoso filósofo grego? Depois, digerindo melhor a situação de pandemia trazida pelo coronavírus, comecei a me dar conta de que havia bom senso nessa recomendação que não significa isolamento social. Se possível, ficar em casa, por paradoxal que pareça, é a me-lhor contribuição que cada um de nós pode dar à sociedade no período atual. P

    oucos dias antes, eu e meus familiares estávamos empolgados em ir a uma festa comemorativa dos 93 de uma tia, irmã de minha mãe, em Niterói. Na antevéspera do dia 14/03, um sábado, meu filho e minha filha entraram em contato conosco para nos pedir que não fôssemos. Num primeiro momento, achei que a histeria tinha tomado conta deles. Tive o bom senso de ouvir com calma os argumentos que nos apresentaram. Dentre outros, nos chamaram a atenção sobre os riscos que iria correr a própria homenageada, enquadrada que estava num grupo de altíssimo risco pela idade. 

    E foi assim que minha mulher e eu acabamos tomando a decisão de não irmos. Quem estava no comando de tudo era um primo querido, filho único da minha tia. Liguei para ele dando as razões de não irmos. Reiterei nossa preocupação com os muitos beijos e abraços que a mãe dele iria receber naque-le dia, justa demonstração de afeto que poderia resultar em contaminação dela. Ele entendeu. A festa, com presença bem menor que a esperada, acabou ocor-rendo, felizmente sem maiores problemas até agora. O médico dela, consultado depois da festa, recomendou que ela ficasse em casa em rigorosa quarentena. 

    Na verdade, estamos diante de uma situação inusitada em que a ignorância da séria ameaça de contaminação e morte a que estamos sujeitos parece ainda não ter chegado ao emocional de boa parte da população. As praias lotadas no último fim de semana no Rio de Janeiro comprovam a desinformação de quem estava lá face aos reais riscos que estavam correndo. O benefício da dúvida a esse tipo de comportamento imprudente pode ser concedido em função do fato de ser muita informação a ser absorvida em pouco tempo. Bom lembrar a súbita mudança de conduta do próprio presidente Bolsonaro, no dia 18/03, quando deu uma coletiva acompanhado de vários ministros, todos usando máscaras. Parou de brincar com fogo. 

    Um exemplo trágico da lentidão em reagir à gravidade da situação foi o caso da Itália. Ela se tornou o país com maior número de óbitos: 3405 contra 3245 na China até 19/03. E existe risco desse número aumentar nos próximos dias. A rapidez com que o coronavírus se transmite nos aconselha a tomar todas as medidas preventivas que o impeçam de se propagar a seu bel prazer. 

    Não se trata de histeria coletiva. Coreia do Sul e Japão, rápidos no gatilho em se precaver, estão conseguindo superar o problema devido à agilidade com que reagiram ao vírus. Cabe a nós seguir o exemplo que funciona sem, aí sim, a afoiteza de ir ao supermercado e comprar estoque de álcool gel esquecendo que um bom sabão de coco pode dar conta do recado. Aliás, usado nos hospitais com uma boa escova para desinfetar os ossos de fraturas expostas. 

    Quanto ao distanciamento social, acabei me dando conta que ele é mais físico do que real. Num mundo em que dispomos das redes sociais, a comunicação entre as pessoas, sem sair de casa, continua possível, nos permitindo superar os piores efeitos da pandemia. E isso está longe de ser isolamento. Muito pelo contrário. Exerça sua cidadania. 

    gastaoreis@smart30.com.br // ou gastaoreis2@gmail.com. 

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