• ‘Desisti de esperar pelo futuro’, diz o ator e autor Lázaro Ramos

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  • 19/11/2022 08:00
    Por Maria Fernanda Rodrigues / Estadão

    Lázaro Ramos descobriu tarde a literatura. Criança e adolescente, ele achava que ler era “quase uma punição” e uma “perda de tempo”. A descoberta veio durante sua formação como ator. Primeiro, os livros de teatro. Depois, tudo. “Hoje, a leitura é uma companhia, um refúgio. Tenho livros em todos os lugares e leio vários ao mesmo tempo, de todos os gêneros. É uma confusão mental”, brinca o ator em entrevista ao Estadão por videoconferência.

    Sua relação com os livros, no entanto, vai além e, desde o lançamento de Na Minha Pele, em 2017, que logo se transformou em um best-seller, ele se sente cada vez mais à vontade no papel de escritor. “É na escrita que exerço mais a minha liberdade. Não tem cliente, prazo ou obrigação. É uma alegria poder sentar e escrever”, comenta – revelando que tem muitas anotações soltas, um livro erótico, uma ficção inacabada e outros escritos.

    “Se eu for generoso comigo, digo que meu processo de escrita é livre. Se for severo, caótico. Então você escolhe o adjetivo”, diz. Caótico ou não, o processo tem sido importante para Lázaro Ramos – terapêutico, até. Por exemplo: Você Não É Invisível, livro que ele lança na próxima semana, na Festa Literária Internacional de Paraty, foi sua companhia durante a pandemia. Quando todo mundo em casa já estava dormindo, ele escrevia.

    Esta ainda não é a ficção que ele sonha em escrever, mas está feliz com o resultado e acha que esta novela juvenil pode ajudar os adolescentes que costumam se fechar nessa fase, achando que suas dúvidas e angústias são apenas suas.

    O livro conta a história de dois irmãos, Carlos e Sofia, isolados por causa da pandemia e por dificuldades de comunicação. Eles vivem com o pai, que precisa sair para trabalhar enquanto a covid-19 se espalha. A mãe está fora. O menino se expressa por meio de áudios, que ele grava para ele mesmo, em lives e nas redes sociais. A menina, mais nova, escreve. Há um narrador discreto, que costura a história. E cartas, ilustrações e playlists.

    “O estilo é fragmentado, mas a mensagem é atemporal: é preciso olhar para o outro, conhecer o outro, ver quem está ao seu redor e saber quem é a sua base e te dá força”, explica o autor. O livro toca em questões como autoestima, identidade e ética – e, aborda, sobretudo, a importância de nos comunicarmos. “Palavras são poderosas”, escreve a mãe numa de suas cartas que trazem notícias de outros mundos e de nossas origens.

    “Eu queria muito falar sobre escolhas éticas e sobre o aprendizado que temos de ter de que não precisamos ficar sozinhos nos nossos sobressaltos. Quero muito dizer que ninguém é invisível e que às vezes a melhor comunicação não vai ser um emoji, mas, sim, um bate-papo na frente de um pote de sorvete.”

    O livro é dedicado a Conceição Evaristo. “Ela é nossa referência maior, não? É o lugar que a gente sonha em chegar, a pessoa que escreveu as ficções a que eu tive acesso, onde eu me enxergava e me percebia dentro do tema da negritude e para além do tema da negritude”, explica. Carlos e Sofia são negros. “Mas minha tentativa foi de ir além, de trazer outras características de todo e qualquer ser humano, outros dilemas, outros temas.”

    Lázaro, que acaba de filmar Ó, Pai Ó 2, deixa um recado para os meninos e meninas nesta véspera do Dia da Consciência Negra: “Negros, brancos, você não é invisível. Está no título”.

    PRESENTE

    Pai de duas crianças curiosas que apareceram no vídeo durante a entrevista e autor de livros infantis, Lázaro Ramos não pensa muito no futuro, ou na ideia de que o Brasil será um país justo para mais pessoas. “Eu desisti de esperar pelo futuro. Acredito muito no que fazemos hoje. Na articulação hoje. Na ação imediata quando percebemos algum problema, na maneira que articulamos a coletividade”, comenta.

    E segue: “Eu não estou esperando o Brasil do futuro não. A única coisa que está mais próxima de mim é o que eu faço hoje. Se for ficar esperando o futuro, vou viver em eterna angústia. Preciso aprender, e me estimulo todo dia, a fazer hoje. E a celebrar as pequenas alegrias de cada dia que vamos vencendo. É difícil, é desafiador, mas a alternativa que eu escolhi foi essa: mudar hoje”.

    Serviço:

    Você Não É Invisível

    Autor: Lázaro Ramos

    Editora: Objetiva

    112 págs.; R$ 49,90 R$ 29,90 o e-book

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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