Descuido proposital
Publicado na imprensa nacional, com reprodução em um de nossos jornais diários, na edição do último domingo, li um instigante artigo do escritor, editor e revisor Luiz Carlos Amorim: “Projeto esquecer livros”. O escritor abre o artigo assim: “Eu venho “esquecendo” livros em aeroportos, navios, portos, praças, ônibus, bares, restaurantes, em lugares públicos e em outros países, inclusive, há vários anos. Foi uma ideia que surgiu inadvertidamente, sem nenhuma pretensão, mas que trazia prazer em fazer, pois é muito bom imaginar que alguém vai achar o livro e vai levá-lo para ler. E o que é melhor ainda, pode passá-lo adiante, depois, para que outras pessoas possam lê-lo, também”.
Que maravilhoso descuido proposital esse profissional e cultivador das letras passou a exercitar, contribuindo para a difusão do livro ao desconhecido futuro leitor, ao imponderável desconhecedor das maravilhas em doação nos textos literários, ao inusitado curioso que, diante do achado, passa a ter contato com uma preciosidade que via nas vitrines das livrarias mas que jamais adquiriria porque um elemento estranho ao seu universo pessoal e financeiro!
Um horizonte desvendado e descoberto, levando a magia da leitura a lares contaminados pelas múltiplas opções de entretenimento que borrifam de cores nossas retinas, mas que não satisfazem o prazer inefável do exercitar do raciocínio, do burilar do pensamento crítico, do simples emocionar dos sentimentos mais simples.
Ler remete o leitor ao desfolhar das páginas de uma obra no encantamento da descoberta sensível de nova opção encantadora de entreter o espírito e fazer calarem os fantasmas que redemoinham coloridos nas opacas imagens televisivas e luzentes nos minúsculos telefones de mil e um recursos nos simples toques das pontas dos dedos.
Quando estive na encantadora cidade do Porto, no belo país de nossa origem, Portugal, muito bem tratado pelos locadores do apartamento, ao retirar-me “esqueci” um exemplar de meu livro “No Reino das Maravilhas” sobre a poltrona da sala, exatamente no cultivo da ideia do jornalista, sem conhecer que ele adotava tão interessante e útil projeto. E fui mais adiante: fiz uma dedicatória de incentivo à leitura. Por onde andará esse exemplar? Estará em uma estante, foi passado adiante, foi “esquecido” para o recolhimento de uma adoção desconhecida?
Aqui em casa, a nossa querida “Tribuna de Petrópolis” está praticando um projeto eficaz de leitura, propondo a troca de livros, tendo instalada na área de recepção da empresa uma bancada com livros, que podem ser levados, sem compromisso de devolução. Há que deixar, em substituição, um outro livro. Magnífico comprometimento com a cultura e efetivo incentivo à leitura.
Do que tanto precisamos para afastar o perigo do analfabetismo cultural que ronda a todo o planeta. E, aqui no “patropi” nem se fala de tão assustador e que se manifesta e cresce a cada dia.
Então, vamos nessa? Leu, gostou, não tem lugar para livros em sua casa? Deixa na “Tribuna”, troca por um outro e, assim, vai contribuindo para a redescoberta da maravilha que é – e sempre será – o livro. Ou apoie o projeto de “esquecer” e deixe o seu melhor cofre de sapiência nas praias distantes, no mundo da pirataria fascinante de nossa rica imaginação.