Descalabro
Já decorreram mais de quinze dias que o edifício Wilton Paes de Almeida, em São Paulo capital, incendiou-se acabando por ruir, ceifando vidas e causando sérios e irreversíveis danos a imóveis situados nas imediações, inclusive ao prédio de uma Igreja Evangélica Luterana erguida há mais de cem anos.
Lamentável tudo isso e os responsáveis, se é que “mostram a cara”, fogem à responsabilidade, dentro do famoso “jogo do empurra-empurra”, não tendo a coragem de “baterem no peito” e assumirem as imperdoáveis omissões praticadas durante tantos anos.
Neste grupo de irresponsáveis estão envolvidas autoridades dos âmbitos federal, como o Serviço do Patrimônio da União e da Prefeitura Municipal de São Paulo.
Consumada a tragédia, absolutamente prevista, é de se ressaltar a responsabilidade de diversas autoridades que tiveram direta atuação na equivocada ocupação do prédio, àquela altura já em frangalhos e permitida de modo leviano sua utilização em tais condições, sendo que até o Ministério Público tem participação no evento objetivando o deslinde da questão.
A verdade é que a aquiescência para que famílias passassem “a residir” naquele “prédio” totalmente abandonado, já a época da ocupação, nunca deveria ter ocorrido em razão de diversas circunstâncias, eis que os poderes de estado, nas várias esferas, já estavam perfeitamente a par dos sérios riscos que “os moradores” viriam a correr; é de se estranhar, ainda mais, que a utilização dos espaços se processou mediante a cobrança de pagamentos de alugueres mensais em favor de um “vivaldino” que somente fez enganar a incautos.
Saliente-se quanto ao trabalho profícuo, digno de registro, prestado pelo valoroso Corpo de Bombeiros composto de profissionais da mais alta competência e que arriscaram suas vidas com o objetivo de salvar tantas outras.
Infelizmente, pessoas foram soterradas em razão da brutalidade do desastre; as responsabilidades certamente serão apuradas!
Cabe ponderar e é bom que se frise quanto ao lamentável posicionamento não só da União Federal, como de estados e municípios por não haverem encetado, até os dias atuais, uma política de habitação a altura das reais necessidades do brasileiro carente, além de outras de idêntica magnitude, na certeza de que se assim tivesse ocorrido, milhares de moradias teriam sido construídas contribuindo, sem dúvida, para retirar das ruas e de prédios abandonados famílias que não dispõem de recursos a não ser permanecerem entregues na mão de exploradores da miséria humana, certamente despreocupados com vidas alheias.
Realmente, um verdadeiro descalabro bem próprio dos dias que vivemos, bastando que se recorde a tragédia ocorrida em Mariana, estado de Minas Gerais, até hoje sem solução para os que lá residiam, afora os demais danos causados à natureza, vítima da irresponsabilidade e da ganância de empresários sem que se possa bem qualificá-los.