Desafiador, Netanyahu promete voltar logo ao poder
Binyamin Netanyahu perdeu a chefia do governo de Israel neste domingo, 13, mas se manteve combativo, atacou o “perigoso governo de esquerda” e prometeu voltar ao poder. “Se estamos destinados a ser a oposição, faremos isso de cabeça erguida até podermos derrubá-lo (governo)”, declarou Netanyahu, do conservador partido Likud, em seu último discurso na Knesset, o Parlamento israelense.
“Eu lhes digo hoje: não deixem seu ânimo se abater. Eu os liderarei contra este perigoso governo esquerdista. Se Deus quiser, vamos derrubá-lo mais cedo do que as pessoas pensam”, acrescentou em tom desafiador.
Mas, fora do cargo, o político de 71 anos perde a imunidade e poderá ser julgado pelas acusações de corrupção, fraude e violação de confiança, pelas quais pode ser condenado a até 10 anos de prisão. Ele nega qualquer irregularidade.
Bibi também ficará exposto a uma rejeição dentro do Likud, já que alguns de seus deputados também querem virar a página para a era pós-Netanyahu no partido, segundo a imprensa israelense. Estar na oposição é um território familiar para Bibi – em meados da década de 90, ele tornou a vida muito desconfortável para o então primeiro-ministro israelense, Yitzhak Rabin.
Tanto em Israel quanto no exterior, Netanyahu tem sido uma figura polarizadora. Conhecido pelo apelido Bibi, Netanyahu é amado por seus apoiadores, que o admiram por sua posição agressiva em questões envolvendo o Irã e os palestinos, por uma década sem atentados em Israel e sua importância no cenário internacional. Para os críticos, ele deixa um país mais dividido, menos justo e indiferente à paz com os palestinos. Sua queda foi festejada por uma multidão em Tel-Aviv.
“Toda sua estratégia política teve como base manter viva a raiva das pessoas”, disse Anshel Pfeffer, colunista de Jerusalém e autor da biografia Bibi.
O impacto do governo Netanyahu foi sentido em vários aspectos da política e da sociedade israelense. O conflito palestino ajudou a definir os mandatos dos primeiros-ministros israelenses ao longo de quatro décadas, até que Netanyahu começou sua segunda passagem pelo cargo em 2009. Ele entrou determinado não a resolver a disputa, mas a empurrá-la para o lado.
Desde que Netanyahu voltou ao cargo de primeiro-ministro, o número de judeus que se estabeleceram nos territórios ocupados aumentou 50% e chegou a 450 mil, segundo o Instituto de Democracia de Israel, reduzindo ainda mais a perspectiva de que essas áreas sejam devolvidas aos palestinos em meio à criação de um Estado independente. Bibi também ajudou na integração política dos colonos judeus, que já foram rejeitados por muitos israelenses como radicais. Ele deu as boas-vindas a seus partidos em suas coalizões de governo e os promoveu a posições de influência. Os colonos, por exemplo, agora ocupam duas cadeiras na Suprema Corte israelense.
Ele rivalizou com presidentes democratas americanos e, em seguida, capitalizou com o governo Donald Trump para cimentar ganhos históricos, incluindo a abertura da Embaixada dos EUA em Jerusalém e acordos diplomáticos com Bahrein e Emirados Árabes.
Como premiê e separadamente como ministro das Finanças, buscou políticas que contribuíram para o surgimento de um setor privado mais forte. O setor de tecnologia em expansão em Israel atraiu US $ 10 bilhões em investimentos estrangeiros em 2020 e agora emprega 10% da força de trabalho. Ao mesmo tempo, seu governo provocou uma queda nos investimentos no setor público e cortes nos pagamentos da previdência. A proporção de israelenses que vivem na pobreza aumentou para 21% durante seu mandato.
Novo premiê Naftali Bannett é um político linha-dura com relação ao Irã
Naftali Bennett, de 49 anos, nasceu em Haifa, filho de imigrantes judeus americanos. Ele é um judeu ortodoxo moderno e será o primeiro chefe de governo religioso de Israel. Em 1996, enquanto servia no sul do Líbano, então ocupado por militares israelenses, ele e sua unidade foram presos perto da aldeia libanesa de Kafr Qana. Um ataque de artilharia israelense matou 102 civis libaneses em uma instalação da ONU – um incidente conhecido como massacre de Qana.
Bennett passou a trabalhar na indústria de tecnologia e estudou direito na Universidade Hebraica de Jerusalém. Em 1999, ele fundou sua própria start-up, uma empresa de software, e se mudou para Nova York. Em 2005, vendeu sua empresa, ingressou na política israelense em 2006 e serviu como auxiliar sênior de Binyamin Netanyahu até 2008. Chefiou o Conselho Yesha, o principal movimento de colonos israelenses na Cisjordânia ocupada. Bennett fez da anexação de partes dos territórios palestinos uma área central de seu programa político. É um linha-dura com relação ao Irã e apoia políticas econômicas liberais.
Centrista com formação em jornalismo, Yair Lapid possibilitou aliança
Yair Lapid, de 57 anos, nascido em Tel-Aviv, é filho do jornalista Tommy Lapid, que foi ministro da Justiça e morreu em 2008. Sua mãe, a escritora Shulamit Lapid, é uma das mestres dos romances policiais israelenses, com uma série de obras cuja protagonista é uma jornalista.
O jornalismo impregnou a juventude de Lapid, que assinou suas primeiras matérias para o jornal Maariv, antes de passar para o Yedioth Aharonot. Mas foi na televisão – nos anos 2000 ele se tornou apresentador de talk shows – onde se impôs como a encarnação do israelense comum, fazendo sempre a mesma pergunta aos seus convidados: “O que é ser israelense na sua opinião?”
Quando, em 2012, abandonou a televisão para lançar seu partido Yesh Atid, seus críticos o acusaram de usar sua ‘imagem de galã de cinema’ para seduzir a classe média. Patriota, liberal, laico, insultado pelos judeus ortodoxos, Lapid conseguiu se posicionar no centro. Dizia que não buscava ser primeiro-ministro, mas sim aliar-se a outros partidos para expulsar o “rei Netanyahu” de seu trono e “romper barreiras que dividem a sociedade israelense”. (Com agências internacionais).
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.