• Derradeiro aniversário

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  • 09/11/2016 13:35

    Assim escreveu o poeta: 

    “Saudade, que me devora, /há de passar – quero crer, /pois se não passar agora, /passará quando eu morrer”.

    E assim tem sido desde o dia dezessete de janeiro de dois mil e quinze, quando nos deixou a mim e à minha família, minha mãe.

    O poeta, sábio em seus pensamentos, admite que aquele a quem a saudade acomete, tem a possibilidade de vê-la passar, todavia não afirma; acredita, entretanto, que dessa forma possa se dar.

    Eu, por minha vez, não creio seja possível se esquecer de uma pessoa tão querida e amada, especialmente como a figura da mãe.

    E, por isso mesmo, já estou convicto que só poderei esquecê-la quando também partir.

    O dia quatro de novembro sempre foi de festa para a família. Já bem idosa, ainda assim cantávamos “o parabéns pra você”, em seu apartamento, cercada de netos e até de algumas de suas amigas, que também somavam idade avançada.

    Na última comemoração, o seu estado de saúde já se mostrava precário.

    Porém, ainda me recordo, que com grande sacrifício, amparada por minha esposa e pelo médico que nunca deixou de assisti-la, o Dr. Humberto Portugal Karl, foi conduzida à mesa com a finalidade de apagar as velinhas que representavam os mais de noventas anos bem vividos, não somente junto a meu pai, como a toda a família.

    Professora e ao mesmo tempo dona de casa caprichosa, sempre atenta a tudo que se passava a seu redor.

    Meu pai a idolatrava e o mundo girava em redor da esposa amada e da mãe sempre atenta ao filho, que, quando criança, levava boas palmadas da mãe severa; contudo, foram boas as lições.

    Ela, companheira inseparável eis que sempre ao lado de meu pai, seja em que circunstâncias fossem; juntos, até que ele partiu em setembro de 1989, deixando-a plena de saudades e de muita tristeza.

    Creio, sinceramente, que a saudade e o vazio decorrentes da perda que tanto a marcou, só deixou de existir, como escreveu o poeta, quando ela também partiu, uma vez que nunca demonstrou esquecimento em razão de tão sentida perda.

    Inegável, também, que o poeta, meu pai, tendo vencido na vida, nas diferentes atividades que desenvolveu, em particular no campo profissional, já que sempre incentivado pela esposa, fez reservar para ela, como preito de gratidão, a trova que se segue: “Se aqui, agora, hoje piso, /com segurança, é porque, /de longe embora, eu diviso /o meu farol, que é você.

    Foi-se o dia quatro e a saudade não passou, ao contrário, recrudesceu. 

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