• Depois de 20 anos fora da cidade, Marzio Fiorini redescobre Petrópolis

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  • 27/07/2019 13:38

    A criação de joias de borracha garantiu ao artista petropolitano Marzio Fiorini reconhecimento dentro e fora do Brasil. Agora, 20 anos depois de deixar sua cidade natal, ele voltou para cuidar da reforma de um imóvel da família e redescobriu sua terra. Ao reencontrar amigos e andar pelas ruas, decidiu fincar os pés na Cidade Imperial com um projeto ousado, que promete resgatar o charme e a elegância de uma Petrópolis que durante anos atraiu as atenções do muito inteiro. A mostra Sua Majestade / Arte, um verdadeiro encontro de arte contemporânea, será lançada em setembro na Casa da Princesa Isabel, reunindo artistas nacionais e internacionais. E ele promete: é um evento que chega para ficar.

    Com a simplicidade de quem está descobrindo o prazer de voltar às origens, Marzio Fiorini diz que planejou usar um ou dois meses entre dois trabalhos para vir à cidade cuidar da obra, mas se surpreendeu quando chegou. “A cidade está incrível, linda. Temos uma história que ninguém tem e uma arquitetura como poucas. Encontrei aqui tudo o que sempre busquei no interior da França, que me serviu de refúgio para descansar. Hoje sei que não preciso ir para lá. Tudo o que eu busquei, toda a qualidade de vida que eu queria, tenho aqui”, diz, certo de que este reconhecimento veio com a maturidade. “Às vezes só conseguimos enxergar as coisas de fora. Foi importante sair para, ao voltar, enxergar a minha cidade”.

    A certeza de que o refúgio, agora, tem novo endereço o fez querer mais do que descansar na Cidade Imperial. “Petrópolis tem um potencial enorme, mas o próprio petropolitano não se dá conta disso. É importante lembrarmos que nascemos em uma cidade diferente, criada por Dom Pedro II, que foi um homem muito à frente de seu tempo, incentivador sem igual da cultura”, lembra, frisando que, de volta à cidade, quer resgatar este espírito, esta essência.

    “Me considero um artista empreendedor. Se tenho uma ideia, preciso realizar. E faço isso buscando sempre a perfeição, característica dos virginianos. Foi assim com Sua Majestade / Arte”, explica ele, que vem se reunindo com artistas e empresários para formatar o evento. Com o apoio de parceiros já há muita coisa definida, incluindo o palco da mostra e a data. Será na Casa da Princesa Isabel, de 21 a 24 de setembro. A ideia é reunir artistas de diferentes áreas, incluindo artes plásticas, moda e design. 

    Marzio Fiorini quer, com o evento, despertar as pessoas para os sentimentos. “Vejo a arte como elemento fundamental na vida de cada ser humano. Ela traz o lúdico, o sonho, o belo. Desperta curiosidade. E a verdade é que a vida sem curiosidade é muito sem graça”, considera, garantindo que vai fazer algo para tocar as pessoas. “Espero que, após o evento, todos, dentro e também fora do país, vejam Petrópolis como a cidade que é: segura, bonita, cheia de história. Mas também quero que vejam a elegância, o charme. Petrópolis é uma cidade atenta ao que acontece no mundo”. 

    Um caminho pouco convencional

    Quem vê Marzio Fiorini andando pela cidade, hoje, pode até não imaginar a bagagem que ele traz em sua volta à cidade, mas ela existe e é o que faz do artista quem ele é hoje. E não é necessário muito tempo de conversa para entender isso. 

    Nascido e criado em Petrópolis, Marzio tinha a inquietude típica da juventude. Nele, no entanto, tudo parecia mais acentuado. “Estudei no Instituto Moreira da Fonseca e, depois, no Educandário Professores Associados (EPA). De lá, eu fugia com frequência em direção ao Museu, onde gostava de ficar admirando as peças, as joias da coroa. Eu literalmente viajava na história já naquela época”, relembra.

    Passou pelo Colégio São José, fez pré-vestibular e chegou a cursar Escola de Propaganda e Marketing, mas a verdade é que nunca conseguiu se encaixar no modelo tradicional de ensino. “Eu sempre soube o que eu queria. Eu gostava da arte, da moda, da música. Eu queria falar vários idiomas, conhecer o mundo, e isso acabou me fazendo seguir um caminho pouco convencional”, conta.

    Ao se aventurar fora do país, passou a vir cada vez menos para a Cidade Imperial. Na época, se dividiu entre a Espanha e o Brasil (o Rio, mais especificamente). Fez desfiles e, na década de 90, teve a ideia de fazer peças de borracha. A ideia surgiu, na verdade, de uma necessidade. “Eu fazia moda e criei uma coleção de peças jeans. Queria uns botões diferentes, mas não encontrava o que precisava no Brasil. Nem mesmo material importado. Quando achava algo interessante, só tinha preto, branco e vermelho. Mas eu queria botões coloridos. Acabei aproveitando a técnica que um amigo havia trazido para o Brasil para fazer os botões de borracha e ficaram lindos. Fizeram enorme sucesso”, relembra.

    Daí surgiu a ideia das joias de borracha. Marzio passou dois anos em um laboratório, estudando a técnica. “Precisei criar um sistema. Os engenheiros químicos diziam que eu não conseguiria, mas, depois de um ano, deu certo e consegui criar a primeira coleção de joias de borracha”, recorda, orgulhoso, lembrando que, no início, era uma ousadia chamar as peças de joias. “Ainda hoje é, mas já há este reconhecimento”, conta. 

    As peças garantiram sua projeção internacional. “Lancei o conceito em janeiro de 2001 e logo comecei a exportar, primeiramente para a Espanha e a Austrália, e, depois, para quase todo o mundo. Cheguei a ter minhas peças distribuídas em 15 países, produzindo mais de 30 mil peças por mês. Vi grandes estrelas aderindo à minha ideia e conquistei o que muitos almejam. De 2003 a 2010 foram cinco prêmios internacionais, na França (Paris), Inglaterra (Londres), Estados Unidos (São Francisco) e Chile”, enumera. 

    No auge do sucesso, no entanto, Marzio sentiu falta do dia a dia de um artista. “Em 2012 decidi que não queria mais ser burocrata. Queria voltar a ser um artista. Comecei, então, a me dedicar à pintura. Hoje, esse é o meu foco. Também desenvolvo e crio coleções de joias de borracha, mas não produzo mais. Hoje me sinto feliz em ser um artista. É o que me move”, finaliza. 

     

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