• Democracia ameaçada

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  • 30/05/2020 00:01

    Na semana que se encerra, a operação da Polícia Federal contra um adversário como Witzel (por quem jamais poria a mão no fogo), é aplaudida pelo governo federal. No dia seguinte, a operação da mesma PF contra bolsonaristas, é acusada de inconstitucional pelo mesmo governo, receoso de que suas entranhas sejam expostas. Ficou claro, nas duas situações, o porquê de Bolsonaro querer interferir na PF: atacar adversários e proteger amigos.

    A investigação de fake news pelo STF – que, digamos, é mesmo polêmica desde o início – foi apoiada pela Advocacia Geral da União e pelo Procurador Geral da República, quando ela se moveu contra certos órgãos de imprensa de oposição ao governo. Houve censura ao site “O Antagonista” e à revista eletrônica “Crusoé”, que criticavam Bolsonaro. Mas bastou tocar em bolsonaristas, e o inquérito agora, tanto para a AGU quanto para a PGR, é “inconstitucional” e deve ser suspenso. Bolsonaristas alvo da operação da PF defendem seus crimes de espalhar mentiras, ameaçar e destruir reputações, e utilizar multiplicação de mensagens nocivas por robôs virtuais, como “liberdade de expressão”.

    Num posicionamento tresloucado e inédito em nossa democracia, o presidente resolve afrontar o STF. Além dos ataques verbais, e do estímulo ao radicalismo da militância bolsonarista, que já explodiu bombas próximo a casas de ministros, ameaçou suas vidas e das suas famílias, o presidente quer processar Celso de Mello e impedir o depoimento do Ministro da Educação à PF. Uma das bolsonaristas alvo da operação dirige uma milícia armada (os “300” – segundo alguns inspirado na história bíblica de Gideão, segundo outros, inspirado nos 300 de Esparta), e ameaça o Ministro Moraes, com quem gostaria de “sair no soco”.

    Bolsonaristas radicais continuam cometendo o crime de pedir ditadura militar. O filho de Bolsonaro prega a “ruptura”, fazendo lembrar da bravata de que bastaria um cabo e um soldado para fechar o Supremo. Militares da reserva, secundando o General Heleno, falaram em guerra civil. Isso mesmo, guerra civil. Vou repetir: guerra civil. Ouça bem. Guerra civil.

    O governo se escora no corrupto Centrão e entope de militares todos os escalões. Os comandantes militares, de quem tanto se esperava compromisso democrático e moderação de ímpetos insanos, porque formados sob a égide da Constituição Cidadã, parecem engolidos pelo que de pior há no governo. Conforme Fernando Gabeira, teriam sido cooptados pela benesses orçamentárias e fartura de cargos concedidas às forças militares e seus representantes.

    A maioria da população, que não apoia esses arroubos autoritários (Bolsonaro tem hoje uns 30% de apoio, conforme as pesquisas), não pode ir às ruas se manifestar. Não fosse o coronavírus, multidões estariam marchando em protesto contra tantos desatinos. Enquanto isso, a pandemia se alastra e a crise econômica se aprofunda. E os fantasmas dos porões da ditadura renascem e correm soltos, com todo o seu desatino.

    Não esquecendo que estamos falando de um presidente que já disse que tortura é bom e que a ditadura precisava ter matado uns 30 mil no Brasil. E que tem como um dos seus principais núcleos de apoio, a “bancada da bala”, à qual certos grupos evangélicos tristemente se uniram. O fato é que esta semana se encerra com um assustador cheiro de podre e sangue no ar. 

    Você, que depois de tudo, ainda apoia tudo isso, pode estar ajudando a assassinar nossa democracia.

     

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