Delcídio, Dilma e Lula
Em delação premiada, as declarações de Delcídio do Amaral expuseram as vísceras da república lulopetista. Trouxeram para o núcleo da crise as figuras suspeitas de Dilma Rousseff e Lula da Silva. Já não era sem tempo, porque impossível que ambos não tivessem conhecimento e participação nas ocorrências.
Sem saída, o governo tentou desqualificar o depoimento do senador, chamando-o de mentiroso, pela palavra de seus atuais porta-vozes, Jaques Wagner e José Eduardo Cardozo, sem enfrentar os fatos revelados por Delcídio. Esquecem-se de que o senador, líder do governo, foi um dos mais íntimos interlocutores de Dilma e de seus ministros junto ao Congresso Nacional. Em relação a Cardoso, viviam ambos em reuniões na sede do Ministério da Justiça, tratando dos desdobramentos das investigações da Operação Lava-Jato. Sala e cozinha de Dilma, Delcídio passeava com a presidente pelos jardins do Pal&aac ute;cio da Alvorada, em discussões exaustivas sobre problemas da administração lulopetista, mãos atrás das costas, gestos premonitórios, como o fazem os presos pela Polícia Federal. Numa dessas ocasiões, ainda segundo o senador, a presidente teria solicitado sua intervenção perante um ministro do Superior Tribunal de Justiça, a ser cobrado sobre a concessão de habeas corpus em benefício de dirigentes de empreiteiras presos em Curitiba.
Dilma pessoalmente não resistiu, mudando um pouco de tom, repetiu o que antes já haviam dito seus representantes, Wagner e Cardoso. Aproveitou a oportunidade para solidarizar-se com seu criador, o metalúrgico Lula da Silva, ainda que de forma acanhada, no caso de sua condução coercitiva para prestar depoimento a respeito dos escândalos que o envolvem na Lava-Jato. O ex-presidente, esperto como ele só, manteve-se em rigoroso silêncio, não deu uma palavra a respeito das acusações de Delcídio. Afinal, todo cuidado é pouco, e Lula conhece o terreno minado onde pisa, sabe o que fez e o que faz, no exercí cio da presidência e depois de deixar o cargo.
Com a Lava-Jato ao seu redor, Lula procura assumir mais uma vez a posição de vítima das elites e agora do juiz Sérgio Moro. Em pronunciamento público, após deixar o Aeroporto de Congonhas, mente sem nenhum pudor, quando diz que jamais se recursou a depor diante de qualquer autoridade judicial, omitindo o fato de não ter comparecido ao Fórum da Barra Funda. E posa de coitadinho, pede desculpas à mulher Marisa e aos filhos, coitadinhos, punidos tão somente pela condição de parentesco com o dito cujo.
Sobre o sítio de Atibaia e o tríplex de Guarujá, o deboche de sempre, com a história da aquisição do pedalinho para os netos e o apelo aos inimigos para que lhe deem de presente ou lhe cedam um apartamento e uma chácara, onde possa desfrutar de merecido descanso. No fundamental, nenhuma palavra, mais uma vez a omissão conveniente. Nada sobre os favores recebidos das empreiteiras mergulhadas na corrupção do Petrolão, nada sobre os pagamentos feitos pelas obras de reforma e ampliação dos imóveis postos à sua disposição, bem como nada sobre os milhões de reais recebidos po r seus filhos das mesmas empresas.
Restou a chiadeira de sempre. Insiste em desconhecer que no Estado Democrático de Direito ninguém está acima da lei ou ao largo do ordenamento jurídico. No mais, é o Lula de sempre, falastrão e demagogo, prestidigitador. No momento, com uma diferença, talvez definitiva, com a Lava-Jato no seu encalço, como qualquer delinquente.
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