Degradação moral e cultural
Aqueles que dão loas ao preconizado pela “Semana de 22” por certo desconhecem sua real origem, que partiu de um fascista italiano, Filippo Tommaso Marinetti, em 1909, se espalhando célere pelo mundo. Como o espaço é escasso para mais detalhes, indico alguns dos itens de seu “Manifesto Futurista”, que era a favor das guerras como profiláticas:
1) A coragem, a audácia, a rebelião serão elementos essenciais de nossa poesia. 2) A literatura exaltou até hoje a imobilidade pensativa, o êxtase, o sono. Queremos exaltar o movimento agressivo, a insônia febril, o passo de corrida, o salto mortal, o bofetão e o soco. 3) Não há mais beleza, a não ser na luta. Nenhuma obra que não tenha um caráter agressivo pode ser uma obra-prima. A poesia deve ser concebida como um violento assalto contra as forças desconhecidas, para obrigá-las a prostrar-se diante do homem. 4) Estamos no promontório extremo dos séculos! Por que haveríamos de olhar para trás, se queremos arrombar as misteriosas portas do Impossível? O Tempo e o Espaço morreram ontem. Já estamos vivendo no absoluto, pois já criamos a eterna velocidade onipresente. 5) Queremos glorificar a guerra – única higiene do mundo – o militarismo, o patriotismo, o gesto destruidor dos libertários, as belas ideias pelas quais se morre e o desprezo pela mulher. 6) Queremos destruir os museus, as bibliotecas, as academias de toda natureza, e combater o moralismo, o feminismo e toda vileza oportunista e utilitária. 7) É da Itália, que lançamos pelo mundo este manifesto de violência arrebatadora e incendiária, com o qual fundamos hoje o "futurismo", porque queremos libertar este país de sua fétida gangrena de professores, de arqueólogos, de cicerones e de antiquários. Já é tempo de a Itália deixar de ser um mercado de belchiores. Queremos libertá-la dos inúmeros museus que a cobrem toda de cemitérios.
No Brasil, modernistas influenciados pela corrente futurista negavam sua posição favorável às guerras, mas apoiaram os demais pontos. Chamado de "poeta futurista" em artigo de Oswald de Andrade, Mário de Andrade admitiu "pontos de contato com o futurismo", mas negou o título, para não se considerar fascista.
O poeta Vasco de Castro Lima concluiu: “Queriam fazer poesia com revolução, destruindo todo o regime precedente para se construir tudo de novo e em sentido contrário – o princípio preconizado pelo anarquista Filippo Tommaso Marinetti Mas ninguém se lembrava que revolução pode produzir ditadores, políticos, oradores, agitadores, menos grandes poetas, grande poesia que precisa da ordem e da paz e do amor para frondejar.”
A agressividade do manifesto espelha o comportamento violento das gerações seguintes, aos poucos, até os dias de hoje na música e na arte e entende-se o “porquê” da decadência dos hábitos e costumes. Portanto, reclamar-se do que, agora, se a intelectualidade assim decidiu e continua apoiando?
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