• Deflação de julho a mais pobres foi a metade da queda agregada, diz Ipea

  • 12/08/2022 12:57
    Por Vinicius Neder / Estadão

    A deflação verificada no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de julho, divulgado esta semana, ocorreu para os consumidores de todas as faixas de renda, mas o alívio foi menor para os mais pobres, conforme o Indicador Ipea de Inflação por Faixa de Renda, divulgado nesta sexta-feira, 12, pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). A queda média de preços, para os mais pobres, foi de 0,34% em julho, a metade do recuo de 0,68% registrado no IPCA agregado. Os preços dos alimentos seguiram pressionando os orçamentos das famílias mais pobres.

    O indicador do Ipea repondera o IPCA, calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), conforme a faixa de rendimento das famílias. A faixa mais baixa inclui as famílias com rendimento domiciliar de até R$ 1.726,01 por mês. Já a faixa de renda mais elevada inclui as famílias com rendimento mensal domiciliar superior a R$ 17.260,14.

    O IPCA é calculado com base numa cesta de consumo média que procura contemplar os hábitos de famílias com rendimento mensal de 1 a 40 salários mínimos. Com a reponderação feita pelo Ipea, cada faixa de renda tem sua cesta média de consumo. Em linhas gerais, para os mais pobres, produtos e serviços básicos, como alimentos, aluguel, eletricidade e água, ganham mais peso. Para os mais ricos, ganham peso produtos caros e serviços não essenciais, como lazer, turismo, plano de saúde e escola particular.

    Em julho, a deflação foi puxada pelo barateamento da conta de luz e dos combustíveis, após o governo atuar para reduzir tributos federais e estaduais sobre esses itens. Na média nacional, a gasolina ficou 15,5% mais barata, o preço do etanol caiu 11,4% e o da conta de luz, 5,8%. Só que o Ipea ressaltou, em relatório, que o alívio nos preços dos combustíveis ajudou mesmo a deflação no IPCA da faixa de renda “média”, para a qual o peso dos combustíveis em suas cestas de consumo “é relativamente maior que o observado nas demais faixas de renda”.

    A deflação de julho não foi maior por causa dos preços dos alimentos. Como, na reponderação do Ipea, esses itens pesam mais no índice de preços para as famílias mais pobres, esse público sentiu ainda mais esse efeito. “A alta observada no grupo alimentação e bebidas impediu um recuo ainda mais significativo da inflação em julho, especialmente para as famílias de menor renda”, diz o relatório do Ipea, destacando “os reajustes das aves e ovos (1,4%), dos farináceos (1,8%), dos panificados (2,0%) e, sobretudo, do leite (25,5%)”.

    No acumulado em 12 meses até julho, o IPCA agregado registrou alta de 10,1%. Para os mais pobres, a taxa em 12 meses ficou em 10,4%. Para os mais ricos, em 10,5%.

    Para as famílias mais pobres, os alimentos seguem como a principal pressão no acumulado em 12 meses, ressaltou o relatório do Ipea: “Para as famílias de renda mais baixa, a maior pressão inflacionária nos últimos doze meses reside no grupo alimentação e bebidas, impactada pelas altas expressivas de diversos segmentos, como: farinhas e massas (20,0%); tubérculos (36,5%); hortaliças (27,2%), frutas (35,4%), leite e derivados (41,2%), aves e ovos (18,1%), panificados (18,2%) e óleos e gorduras (23,9%)”.

    Já para as famílias mais ricas, a elevada inflação acumulada em 12 meses vem de pressões que “estão, sobretudo, no grupo transportes , refletindo os aumentos dos combustíveis (7,2%), além da alta no transporte por aplicativo (49,8%), das passagens aéreas (77,7%) e dos automóveis novos (17,5%)”.

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