Dedicação e compromisso
O ofício de viver é surpreendente. Trabalho e luta são os condimentos desse banquete com começo, meio e fim. A comedoria da vida não tem limite, cabendo aos convidados para o banquete a disciplina, o comportamento, a participação no momento festivo e gratificante, com os inevitáveis percalços naturais que vão da quebra da louça ao excesso de temperos. Necessário controle e cabeça fria. Em minha deglutição nas mesas postas pela vida experimentei diversos pratos, alguns excelentes, outros nem tanto e alguns… Enfim, paladar ninguém discute.
Eis que, no final do banquete, em sobremesa, recebo, pela bondade do vereador professor Leandro Azevedo, a indicação à mais destacada distinção honorífica da Cidade Imperial de Petrópolis, a “Medalha de Koeler – grau de Distinção”. Diante do Conselho de Títulos e Honrarias da Câmara Municipal vejo o laurel votado favoravelmente. Grande alegria, dever sempre em cumprimento, no reconhecer de méritos acumulados pelos anos “perlustrando ínvias penedias e pélagos profundos”, aqui citando texto de personagem que criei na peça “Feia”, lá pelos idos gloriosos dos anos sessenta do finado século XX, em montagem cênica do Teatro Experimental Petropolitano (TEP).
E, nesse momento mágico, assoma no fulgor da lembrança a figura de meu saudosíssimo pai, Joaquim Heleodoro Gomes dos Santos III (1888-1959), burilador de minha existência, com minha queridíssima mãe Astrogilda Marques Duarte dos Santos (1901-1993), responsáveis pelo meu caráter, minha trajetória, ambos exemplos de honradez que segui e adotei como norte de vida na busca de ser útil e prestante à sociedade, como dever, obrigação, e, acima de tudo, dedicação franciscana a Petrópolis.
Recordo que meu pai, que tanto e tanto contribuiu para o município, que o adotou (ele nascera em Niterói e veio menino para Petrópolis), ao receber a honraria de “Cidadão Petropolitano”, pela Deliberação nº 890, de 19 de novembro de 1957, escreveu pequeno discurso de agradecimento, em bela peça oratória e literária ditada pela alegria e profundo sentimento, nela incluindo um poema que escrevera e publicara no ano de 1911, que reproduzo aqui, em homenagem ao seu talento e sob muita saudade: ”No alto de uma montanha / por mão de Deus situada, / esta cidade banhada / pelo riacho Piabanha. / Terra de ternos amores, / dos corações juvenis, / onde a natureza quis, / formar o reino das flores. / Lindas flores que vicejam / nessas terras primorosas / onde alegres, dulçorosas / mil borboletas adejam. / Oh terra dos meus encantos, / oh terra dos meus amores, / onde não existem prantos, / onde só há riso e flores!”.
Meu pai adotou Petrópolis com fervor e sentimento, declarando, ainda no citado discurso: “[…] Aqui criei-me, aqui constitui família e é aqui a terra de meus filhos. Aqui passei toda a minha vida […]”
Ele transferiu esse amor aos filhos e à cidade, que o adotou, onde trabalhou com denodo, coragem, muito realizou e sua obra está registrada em passagens de glória em nossa bela história municipal.
A mesma alegria do poeta sinto eu e faço de seu poema a mesma confissão do compromisso de fiel cidadania que assumimos por amor, em dedicação plena, pela Cidade de D. Pedro II.
A “Medalha de Koeler” é sua, também, cidadão petropolitano e grande personalidade do município, Joaquim Heleodoro Gomes dos Santos!