• De flechas e bambus

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  • 04/07/2017 12:15

    “Enquanto houver bambu, vai ter flecha”. Foi o que disse o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao ser indagado sobre os rumos da Lava-Jato já na fase final de suas funções. Assegura que não dará refresco aos infratores da lei e corruptos, em debate no Congresso da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo.

    Até 17 de setembro, quando deixará a chefia da procuradoria, terá muitos bambus e flechas nas mãos. No mínimo, teremos mais duas denúncias contra Temer, no bojo de investigações preliminares em curso, já previamente anunciadas, independente de tantas outras contra políticos de várias cores e origens.

    Enquanto isso, o presidente deverá defender-se contra a primeira denúncia, acusado de corrupção passiva, fato que se registra como inédito na história da República. Resta acompanhar a decisão que tomará a Câmara dos Deputados, instada a autorizar ou não a instauração de processo pelo Supremo Tribunal Federal. Há indicações nos dois sentidos: pela aprovação, por força de pressões da sociedade, ou pela rejeição, em função da maioria parlamentar de apoio ao governo.

    Em princípio, costuma-se dizer que o Congresso nunca decide de costas para os clamores da população. Tenho dúvidas, mas vamos ver. Se assim for, em que pese os esforços e a mais ampla mobilização dos aliados do presidente, Temer não escapará das barras da maior corte de justiça do país.

    A situação do presidente é insustentável. Como ressaltou o procurador Rodrigo Janot, a denúncia precisa ser vista em seu conjunto, do qual resultam provas substantivas. Com os R$ 500 mil, a mala expressa atos e procedimentos criminosos incontestáveis, filmados em detalhes. Ligam-se aos diálogos mantidos entre Michel Temer e Joesley Batista, gravados nos porões do Palácio Jaburu. 

    Não custa lembrar que o encontro foi acertado com Rocha Loures, cujo nome foi usado por Batista como senha, permitindo-lhe passar pela guarita da residência presidencial sem outra identificação ou dificuldade. No encontro, o presidente e o empresário tratam de tudo. Em alguns momentos, com meias palavras, como convinha, mas que traduzem a intenção e o comprometimento de ambos em relação aos acontecimentos. Temer aplaude as ações de Batista sobre Eduardo Cunha, controlado na prisão mediante mesadas milionárias, a serem mantidas, segundo recomendação expressa do presidente. Na mesma ocasião, nomeia Loures como seu representante, reitere-se, para cuidar de tudo, como homem de sua mais estrita confiança. Foi em atenção a tamanha outorga que o ex-deputado paranaense ganharia fama e visibilidade nacional como o homem da mala, apanhado em preto e branco, assustado, no melhor estilo dos filmes ‘noir’. Ao final, combinam novas reuniões e contatos, sempre noturnos ou madrugada adentro, contanto que com iguais propósitos, como velhos amigos ou em homenagem a um passado de relações bastante próximas.

    Portanto, em matéria de prova, o que é que falta? Como diz a sabedoria popular, com pelo de leão, rabo de leão, rugido de leão, juba de leão, ainda assim, não seria o leão? Ora, tenha a santa paciência, o que falta a Temer é o mínimo de espírito público, que já o teria levado a renunciar, caso presente, preservando os interesses maiores da nacionalidade.

    O que afinal se pretende: uma “prova satânica”, aquela que surpreende o punguista com a mão no bolso da vítima? No caso, como ressalta o procurador, seria impossível, embora se tenha chegado bem perto na triste República do Jaburu.

    paulofigueiredo@uol.com.br 

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