• De bobão a homem-bomba

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  • 06/06/2017 13:15

    Ele se chama Rodrigo Rocha Loures, tem cara de bobão e mostra-se agora com intensa presença na mídia nacional, passando a ser conhecido como o homem da mala. Lá atrás, tivemos o assassino da mala, que esquartejava as vítimas e transportava os despojos numa mala preta, crimes que dominaram durante anos o noticiário policial na cidade de São Paulo. Agora, no vídeo que o apanhou com a mala com R$ 500 mil, Loures aparece correndo, assustado, olhando para os lados, talvez admitindo que pudesse estar sendo filmado ou seguido. Suas preocupações se mostrariam verdadeiras, porquanto já integrava uma operação controlada da Polícia Federal. Num e noutro caso, muitos esquartejamentos, físicos e morais.

    Deputado federal, por obra de seu padrinho e chefe Michel Temer, Loures vinha protegido sob condições especiais concedidas pela Constituição da República.  Coisas do Brasil e da cultura secular e execrável do privilégio, que aprofunda as diferenças entre o homem comum, na sub-base da pirâmide, e os eleitos, no topo, em sentido literal e amplo.

    Agarrado com a boca na botija, foi agraciado com conceitos generosos pelo presidente, a quem prestava assessoria pessoal. Foi chamado de ingênuo e de excelente caráter por Temer, com palavras de conforto pessoal, espécie de habeas corpus preventivo contra possíveis declarações de seu amigo e auxiliar de confiança. No primeiro momento, ainda amparado pela imunidade parlamentar, não foi preso. No entanto, perdido o mandato, seria logo recolhido aos costumes, em decisão do ministro Edson Fachin. O relator da Lava-Jato, no Supremo Tribunal Federal, jamais teve dúvida sobre a participação do deputado da mala no grand e esquema de assalto ao erário, patrocinado pela JBS.

    Tudo se tornou possível com o ato de Temer, que defenestrou Osmar Serraglio do Ministério da Justiça, a quem Loures substituía na Câmara Federal, como suplente. Segundo o exonerado, o presidente foi pressionado por “trôpegos estrategistas”, identificados nas pessoas de Moreira Franco e Eliseu Padilha, íntimos do poder maior na República do Jaburu.

    Bem, num átimo, Rodrigo Rocha Loures pode saltar de bobão a homem-bomba, em companhia de outros que já estão com delações premiadas engatilhadas, como Antônio Palocci, Renato Duque e Lúcio Funaro. O próprio Eduardo Cunha, que teimava em não ceder, já teria exaurido todas as forças e qualquer tipo de resistência. Juntos ou isoladamente, para o PT, PMDB, Temer, Lula, Dilma e quejandos, provocarão um tsunami de proporções gigantescas e de resultados imprevisíveis.

    Há quem assegure a existência de uma gravação, já de posse da Procuradoria-Geral da República, na qual se ouve que a semanada de R$ 500 mil da JBS, durante 20 anos, seria destinada a Michel Temer, tendo-se Loures apenas como ‘mula’ ou recebedor-transportador de toda a dinheirama. E sobrariam documentos que provam a movimentação bancária no exterior de implicados na Lava-Jato, em nome ou no interesse de Lula, Dilma, próceres do PT e de outros partidos.

    Preso ou solto, Rodrigo Rocha Loures não tem cara e muito menos postura de obstinado, capaz de enfrentar as vicissitudes e agruras do momento. Não tem fibra, não conseguirá superar o cerco da família, especialmente com a esposa grávida, em fase final de gestação e em situação de natural fragilidade. Todo esse quadro, como resta evidente, vem sendo avaliado pelo Palácio do Planalto, cuja evolução poderá ser definitiva, para Temer e seu governo, sem falar no julgamento da chapa que compõe com Dilma pelo Tribunal Superior Eleitoral.

    paulofigueiredo@uol.com.br

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