De amigo íntimo a bandido notório
Joesley Batista e Michel Temer já foram amigos íntimos. Com toda a pompa e circunstância, Temer compareceu ao casamento de Batista. Usava o jato do empresário, como o fez em viagens a Brasília, São Paulo e Bahia, acompanhado da primeira-dama e de outros membros da família. Na ocasião, até uma corbeille de flores foi entregue a Marcela Temer, em nome da mãe de Batista, a fim de não provocar ciúmes prováveis no septuagenário Michel.
Em nome de amizade tão estreita, de favores e muitos encontros anteriores é que Batista foi recebido por Temer nos porões do Palácio Jaburu, na calada da noite que se revelaria fatídica para o presidente. A utilização do nome de Ricardo Rocha Loures na portaria da residência, serviria para efeito de registro oficial, com o qual se evitaria documentar a visita do empresário a Temer.
Com a gravação dos diálogos nos porões do Jaburu, confirmadas pelo presidente, esvaíram-se todas as cautelas. Curioso é que em nossa trágica República, aqui e ali, há sempre um porão palaciano para complicar a vida de um presidente. Em 1954, com a crise que levou ao suicídio do presidente Getúlio Vargas, tivemos as tramas urdidas por Gregório Fortunato, o Anjo Negro, nos porões do Palácio do Catete, que terminariam na famosa República do Galeão.
Tudo indica, pelo andar da carruagem, que Temer não renunciará e nele não se tem nenhuma indicação de que poderia atentar contra a própria vida, embora já patente seu suicídio político. Sem grandeza e sem o mínimo de espírito público, seguirá como um cadáver pútrido, exalando mau cheiro, com o país enfrentando o aprofundamento progressivo da crise econômica e a incerteza do caos. Hoje, como se pode observar com clareza, o presidente não tem outra preocupação, a não ser a de preservar o próprio mandato. Às favas, a Nação e o povo brasileiro, a administração do país e os interesses maiores do Estado.
Salta evidente, mesmo a qualquer leigo ou observador menos atento, que Joesley Batista não disse tudo o que sabe ou o que poderia dizer em sua entrevista à revista Época. Aconselhado ou não, por advogados ou por outros interessados no caso, deve ter guardado muitas cartas na manga, uma vez que contende com figuras as mais proeminentes da República. Ainda assim, não se reservou em nomear Temer como chefe da maior quadrilha com atuação na política brasileira, fato que por si só já implicaria no afastamento do presidente, em qualquer país minimamente civilizado.
Em resposta, Temer continua tangenciando e não vai ao fulcro da questão. Não nega mais os encontros com Batista, como tentou fazer em relação à viagem que fez no jato do empresário, logo apanhado na mentira, e repete o que todos os implicados sempre dizem: nunca viu nada, nunca fez nada e não sabe de nada. Um escárnio, a mesma cantilena de sempre, na qual nem o mais tolo dos idiotas acreditaria.
Batista, que ingressava nos palácios do poder a qualquer dia e hora, agora não passa de um bandido notório, criminoso sem escrúpulos e de alta periculosidade, como se diz em linguagem policial e segundo longa nota de defesa assinada pela Presidência da República. É ameaçado de ação criminal a ser ajuizada pelo presidente e logo responde que o usará o direito de opor a Exceção da Verdade, com a qual provará nos autos do processo todas acusações que fez contra Temer.
Pobre Brasil.
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