• Crônica do Ataualpa: As promessas de início do ano

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  • 02/01/2022 08:00
    Por Ataualpa Filho

    É comum, a cada início de ano, ouvir promessas de mudança de vida: o parar de fumar, de beber, o voltar a praticar atividades esportivas para sair do sedentarismo, o seguir dietas para emagrecimento, o retorno aos estudos. Em suma, somos envolvidos por uma empolgação que leva a propostas de mudanças de comportamento que não se concretizam. Mas, a verdade é que, a cada ano que se inicia, surgem as tentativas de criar novos hábitos que exigem força de vontade e determinação. Romper com vícios e maus hábitos não é uma tarefa tão simples…

    Outro fato bastante comum na virada de ano está ligado a superstições, simpatias, crendices para atrair “sorte”. Apela-se para búzios, cartas, tarôs, numerologia com o intuito de decifrar o porvir. O interesse por previsões é movido mais por insegurança do que pela esperança. Por isso que os gurus das antevisões são assediados para que façam revelações promissoras para o “novo ano”. Contudo, é necessário dizer que é crime explorar a fé do outro. Até os que se dizem ateus podem ser vítimas das enganações. Precisamos estar atentos para, em momentos de fragilidade, não cair nas garras do charlatanismo. Quem explora a boa-fé dos outros pode ter um retorno drástico, porque, um dia, a verdade aflora e a justiça prevalece. Ninguém nasce para ser subjugado à maldade.

    Acredito que nada está predeterminado. Nada está escrito nas estrelas. Acredito que o destino possa ser mudado em função das nossas atitudes. O ser humano é portador de uma característica que até Deus respeita: o livre arbítrio.

    O homem é quem escolhe o caminho a seguir. A culpa é nossa. Não acredito que os astros sejam capazes de definir o bem ou o mal na nossa travessia por este Mundo. Acredito nas prevenções, nos calos das mãos, na construção do futuro pelos homens de boa vontade.

    É importante acreditar em si, ter orgulho de criar, com as próprias mãos, o amanhã. Ter discernimento para escolher o caminho do Bem. O que se deseja pode ser construído com trabalho. Almejar a um futuro melhor é direito de todos. Unir forças para alcançá-lo depende da forma como se encara a vida.

    Viver não é acumular bens, mas servir ao Bem. Nessa proposta, o desprendimento, a simplicidade ganham mais importância. Entre os homens, considero o amor como a escala e a escada do Bem. À medida que se ama sem interesses é que se caminha para uma vida em plenitude.

    Amar, a cada dia, o que o dia oferece. Essa é uma forma de transformar “energia negativa” em “energia positiva”. Não é necessário se preocupar com o porvir, o presente pode mudá-lo. O que se faz hoje se torna alicerce do amanhã.

    Viver não é produzir como máquina. A vida não é um empreendimento. A felicidade que tanto se deseja não está à venda em shopping center. Quem vive em função do vil metal tem mais chance de conhecer o preço da infelicidade.

    A realidade é mantida por uma relação lógica entre causa e consequência:

    – Como quem planta o mal pode colher o bem?

    – Como quem não ama deseja ser amado?

    Concordo com o que afirmou Carlos Drummond de Andrade no poema “Receita de ano novo”:

    “Não precisa/ fazer lista de boas intenções/ para arquivá-las na gaveta./ Não precisa chorar arrependido/ pelas besteiras consumidas/ nem parvamente acreditar/ que por decreto de esperança/ a partir de janeiro as coisas mudem/e seja tudo claridade, recompensa,/ justiça entre os homens e as nações,/ liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,/ direitos respeitados, começando/ pelo direito augusto de viver.

    Para ganhar um Ano Novo/ que mereça este nome,/ você, meu caro, tem de merecê-lo,/ tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,/ mas tente, experimente, consciente./ É dentro de você que o Ano Novo/ cochila e espera desde sempre. ”

    – Caríssimos leitores e leitoras, Feliz Ano Novo! Precisamos continuar empenhados na mudança da realidade para que possamos ter um mundo melhor. O amanhã depende de nós…

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