Crônica do Ataualpa: Arigatô
O florir da cerejeira (sakura) lembrar-nos-á da cultura de um povo que plantou raízes na Cidade das Hortênsias. Da Terra do Sol Nascente, o destino trouxe pessoas com semente de disciplina, consciência de coletividade, respeito às tradições sem perder a visão do futuro que movimenta as inovações tecnológica.
“Haverá paz perpétua e amizade constante entre os Estados Unidos do Brasil e o Império do Japão, assim como entre seus cidadãos respectivos”. Esse é o primeiro artigo do Tratado de Amizade Comércio e Navegação”, assinado em 5 de novembro de 1895, em Paris. E, por meio desse tratado, oficializou-se a amizade entre os dois países que até hoje procuram manter um relacionamento harmonioso e profícuo.
Os laços de amizade entre Brasil e Japão estão consolidados em Petrópolis. Isso se deve também ao trabalho realizado pelo senhor Kiyoshi Ami e a sua esposa Michiko Ami, fundadores da Associação Nikkei de Petrópolis. Hoje o Bunka-sai, o festival da cultura Japonesa, já faz parte do calendário turístico do Município como também o circuito das cerejeiras.
Vale lembrar que a primeira legação do Japão (Representação Diplomática) no Brasil foi instalada em Petrópolis em 1897. A relação da Cidade Imperial com o Japão teve início antes da chegada do navio Kasato-maru, em 18 de junho 1908, ao porto de Santos, transportando 791 imigrantes japoneses.
Em 26 de agosto de 1897, o Jornal Gazeta de Petrópolis publicou: “O sr. Ministro do Japão e sua comitiva acham-se hospedados no Hotel Alexandra”. Ao lado desse hotel, que atualmente abriga o Convento Nossa Senhora de Lourdes, instalou-se a primeira legação do Japão, na casa que fica na Avenida 7 de abril n° 609. Atualmente, nesse imóvel, encontra-se a Pousada Dom Petrópolis, na qual há um espaço reservado à cultura japonesa, funcionando assim como um pequeno museu em que se preserva o laço afetivo entre Petrópolis–Japão. Em 31 de maio de 1903, a legação mudou-se para a rua Ipiranga n° 326.
Vários fatores contribuíram para que a legação japonesa ficasse em Petrópolis. Entre eles, pode-se apontar a proximidade da capital. Na época, pela linha ferroviária Rio–Petrópolis, era possível fazer esse percurso em torno de uma hora e cinquenta minutos. Outro fator está relacionado ao surto de febre amarela no Rio. Aqui a incidência dessa doença era menor.
Em 19 de abril de 1905, o ministro Sugimura assumiu o posto de chefia da legação. Foi ele quem enviou de Petrópolis o relatório favorável ao Japão para que fosse autorizada a imigração para o Brasil.
Fiz esse pequeno relato para expor o vínculo histórico existente entre Petrópolis e Japão. Mas o objetivo deste texto consiste em externar a imensa gratidão ao senhor Kiyoshi Ami e a sua esposa Michiko Ami, que, no dia 30 de março, irão fixar residência no Japão. Aprendi muito com eles. Levaram-me até mais gosto pelo haicai. Vieram para o Brasil na década de 70, quando a Mitsubishi Hevy Industries do Japão comprou a Indústria ATA Combustão Técnica S.A.
Ele, como presidente, não se limitou ao trabalho de engenheiro, procurou desenvolver a parte social e cultural na empresa. Demonstrava uma preocupação com a formação humana. No período áureo, havia mais de 30 imigrantes japoneses entre engenheiros e técnicos. São quase cinco décadas de trabalho intenso na consolidação da cultura nipônica em Petrópolis.
Em 1995, em comemoração ao centenário do Tratado de Amizade, Comércio e Navegação entre Brasil e Japão, quatro entidades nipônicas, localizadas no Rio, plantaram mais de 300 mudas de cerejeiras em diversas localidades de Petrópolis: Quitandinha, Palácio Rio Negro, Museu Imperial…
Em 1996, a Mitsubishi Hevy Industries doou à Prefeitura de Petrópolis o prédio da fábrica localizada em Cascatinha. Nele, a Prefeitura criou um centro esportivo e instalou uma instituição de ensino que foi denominada Escola Municipal Fábrica do Saber, na qual o senhor Ami e esposa passaram a trabalhar voluntariamente na administração do Núcleo Avançado do CES (Centro de Estudo Supletivo).
Em 2008, como presidente da Associação Nikkei de Petrópolis, o senhor Kiyoshi Ami e esposa coordenaram as atividades em comemoração ao Centenário da Imigração Japonesa no Brasil. “Petrópolis Nippon Matsuri” foi um marco, pois motivou a criação do Bunka-sai, ou seja, o festival da cultura japonesa passou a ocorrer no mês de agosto na Cidade Imperial.
Senhor Ami e senhora Michiko, venho aqui agradecer o carinho, a atenção e o respeito que sempre externaram aos professores. Já estou com saudade! A certeza de que um dia voltarão a Petrópolis, mesmo a passeio, está no fato de que a sua filha e a netinha permanecerão no Brasil. Continuo com o haicai: Japão e Petrópolis/ cerejeiras e hortênsias/ eterna amizade.