• Crise no transporte: ônibus lotados, frota operando de forma parcial e patronal querendo adiar negociação de salários

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  • 15/03/2022 15:14

    O transporte público em Petrópolis vive uma crise. Desde o início da pandemia da covid-19, há dois anos, as linhas de ônibus, que operam por meio das cinco empresas, circulam de forma reduzida. No mês passado, a tragédia socioambiental – a maior da história da cidade – impactou ainda mais na operação, em função das ruas que foram obstruídas e pelos prejuízos causados às próprias empresas. Aos poucos as vias estão sendo liberadas e, na última semana, a Companhia Petropolitana de Trânsito e Transportes – CPTrans exigiu a retomada da operação do sistema, com 100% da frota. O prazo era para esta segunda-feira (14) e não foi cumprido. A Tribuna questionou a CPTrans se a promessa de multa em descumprimento do ofício foi cumprida, mas não obtivemos resposta.

    População também cobra melhorias

    Com a retomada das atividades escolares, na véspera da tragédia, onde quase todas as 187 unidades públicas da rede ensino voltaram a funcionar presencialmente,  além das particulares que já haviam retornado, mostrou que a redução da frota em circulação seria um problema a ser enfrentado. Em especial, no distrito de Cascatinha, onde uma barreira que caiu em janeiro na rua Pedro Elmer impede, até hoje, a passagem de veículos no local.

    A linha 330, da Viação Cidade das Hortênsias, que tem o trecho como itinerário, teve a circulação reduzida, o que vem contribuindo para a lotação dos coletivos. “Temos dois ônibus da linha circulando só. E tá sempre lotado. Agora que as aulas retomaram em quase todas as escolas, mesmo sem contar aquelas que ainda não voltaram por conta de servirem de abrigo para as pessoas que perderam as casas na chuva, a gente tem mais gente circulando e menos oferta de ônibus”, conta o auxiliar de almoxarife, Giovane Almeida.

    Mesmo antes da volta às aulas, a retomada das atividades econômicas e redução das restrições em função da pandemia já vinham causando impacto no sistema de transportes e usuários das linhas passaram a cobrar a normalização do atendimento. Na semana passada, essa cobrança resultou na paralisação de linhas de ônibus no Boa Vista, no Estrada da Saudade, e também na comunidade Cidade Nova, no Carangola, onde os moradores cobram a volta de dois ônibus para atender a linha 503. “Tiraram o ônibus alegando a redução da circulação de pessoas. Mas, isso nunca aconteceu. O que aconteceu foram os ônibus passarem a andar lotados em plena pandemia. Queremos que retornem com o segundo ônibus e com todos os horários de antes”, cobra Jucelino Gonçalves, morador da comunidade do Cidade Nova.

    Frota nas ruas chegou a ser 36,5% menor

    Um levantamento feito pela CPTrans e que foi apresentado ao Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro – MPRJ, em setembro de 2020, apontou que houve durante o primeiro ano da pandemia uma redução 36,5% da frota em circulação. As empresas chegaram ainda a cobrar na Justiça um subsídio por parte da Prefeitura, em função das medidas restritivas que impuseram um cenário diferente do que havia quando ocorreu o processo licitatório, alegando perdas econômicas.

    A Prefeitura foi condenada a pagar e, em um acordo firmado no ano passado, o município exigiu como contrapartida a retomada de 100% da frota nas linhas troncais, em horários de pico. Em novembro do ano passado, o Sindicato das Empresas de Transportes Rodoviários de Petrópolis – Setranspetro informou que operava com mais de 80% em média das viagens ofertadas e até 100% nas linhas troncais.

    Rodoviários rejeitam adiamento do reajuste

    Nesse cenário, há ainda o dissídio dos rodoviários. Em janeiro, mais de 2,1 mil profissionais iniciaram a campanha salarial de 2022, reivindicando uma reposição de 17%,que deveria ser aplicada a partir deste mês. No entanto, nesta semana o sindicato dos rodoviários convocou a categoria para uma assembleia, que começou nesta terça-feira (15). Sobre a mesa, ao invés da contraproposta do sindicato patronal, um pedido de adiamento em 90 dias nas negociações. “Pela manhã tivemos cerca de 60 pessoas na assembleia e negamos essa proposta. E acredito que na assembleia que ocorre à tarde também será negada. Aí o sindicato deve acionar as empresas na Justiça, para que eles apresentem uma proposta com o percentual de reajuste. Eles (o patronal) estão alegando a questão da calamidade pública para não negociar agora. E nesse cenário temos empresas atrasando salários”, revela um rodoviário que participou do debate salarial na manhã de hoje.

    O impasse, caso não seja solucionado, pode levar a categoria a uma greve. Ou seja, se não houver proposta há a possibilidade de que Petrópolis passe a ter apenas 30% da frota circulando até que as negociações sejam concluídas. “Não acredito que aconteça de imediato. Há um trâmite legal que precisa percorrer o Ministério do Trabalho por meio do sindicato”, informa o rodoviário com que a Tribuna de Petrópolis conversou nesta terça-feira.

    O sindicato vem alegando perdas inflacionárias de 5,5% no ano de 2020; 1,25% no ano de 2021, além da inflação de 2021 que foi de 10,06%. Além disso, solicitam ainda 1,19% de ganho real, total de 18%. Porém, nas assembleias a categoria votou em deixar a reivindicação um ponto percentual menor. Caso seja aprovado o reajuste desejado pela categoria, os salários dos motoristas passariam a R$ 3.039,00 e dos cobradores para R$ 1.673,53.  Além de reivindicações sobre horas trabalhadas e prazos de pagamento do salário e adiantamento, por exemplo, os rodoviários reivindicam cesta básica no valor de R$ 550,00 para toda a categoria.

    O diz o Setranspetro

    O Setranspetro informa que as empresas de ônibus estão atendendo a população com frota definida por decisão judicial, em razão da grave crise econômica e financeira que o setor enfrenta desde 2020, agravado pela catástrofe do dia 15 de fevereiro deste ano e também pelo aumento de 70% no preço do óleo diesel, praticado na última planilha tarifária que foi publicada em agosto de 2019.
    Em um cenário da pior crise econômica e financeira do sistema, as empresas de ônibus sugeriram o adiamento da discussão no dia 25 de fevereiro deste ano, porque o cenário é de completa incerteza econômica, o que pode refletir negativamente sobre as propostas e prejudicar as negociações.

    Sobre a reclamação relacionada à linha 330 – Terminal Corrêas (Via Pedro Elmer), a Cidade das Hortênsias esclarece que apenas o carro extra não está em operação, devido à demanda insuficiente de passageiros. Inclusive, os clientes têm como opção as linhas 310 – Spartaco Banal e 319 – Rodolfo Alberto Pires, que fazem o mesmo itinerário que a 330.

    O que diz a CPTrans

    A CPTrans informa que, na segunda-feira (14), foram aplicadas 23 multas para as empresas de ônibus devido a falhas mecânicas (13 para a viação Cascatinha e 10 para a Petro Ita).
    A CPTrans esclarece também que as empresas solicitaram um prazo de até o fim do mês para cumprirem a determinação da companhia para operarem com 100% da frota, horários e veículos em operação. O objetivo é que, neste período, a demanda seja restabelecida.
    A CPTrans segue realizando o monitoramento diário do sistema de transporte público municipal e, à medida que a demanda cresce, as linhas voltam a operar com 100% da capacidade. É o que já aconteceu nesta semana com linhas que atendem Mosela, Bingen, Vicenzo Rivetti, Cidade Nova, Fazenda Inglesa, Itaipava, Oswero Villaça e Aldo Tamancoldi.

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