Crise do ônibus: um show de horrores que poderia ter sido evitado
Regiões do Alto da Serra e Morin amanheceram com duas empresas operadoras: Cidade Real e Petro Ita. A primeira substitui a segunda, que voltou para reassumir as linhas em uma tentativa enrolada de retomar a operação na marra. Não só porque as pessoas preferiram embarcar nos ônibus da Cidade Real, mas também porque a Petro Ita lançou mão, novamente, de ônibus sucateados. Nem eram 8h30 e já havia oito ônibus da Petro Ita quebrados, três em linhas que ela reassumiu, e a situação foi piorando até o final do dia. Outra situação grave foi registrada no Alto Independência, região em que a empresa continuou à frente: seis pessoas ficaram feridas e foram retiradas do ônibus pelas janelas pelos bombeiros. O veículo teria perdido o freio e colidido no barranco.
Como tudo começou
A situação só chegou a este ponto porque a prefeitura passou anos e anos sem fiscalizar e exigir o cumprimento do contrato pelas empresas. Até 2000, na gestão de Leandro Sampaio, o sistema rodava bem, luta iniciada antes, no governo Gratacós. A partir de 2001, a fiscalização afrouxou e, paulatinamente, foi permitido que circulassem ônibus mais velhos, multas aplicadas não foram pagas, empresas deixaram de recolher ISS e por aí vai. Mustrangi bateu na mesa e iniciou uma nova ordem, tirando três empresas em 2011. Mas o esforço (que pode até ter custado sua reeleição) foi em vão. Na sequência, tudo voltou a ficar frouxo. E 15 anos depois, é o resultado que estamos colhendo.
Na ficção
Deu para salvar, para as redes sociais de campanha, um vídeo do prefeito Bomtempo e do vice, Mustrangi, candidatos à reeleição, na manifestação que eles convocaram no terminal Centro na quarta-feira contra a volta da Petro Ita. Algumas pessoas foram entrevistadas e apareceram imagens fechadas da “multidão” que atendeu ao clamor. Nem mesmo houve o comparecimento dos cargos em comissão – mais de 700 nomeados.
Mas, na vida real…
O que não faltou nas redes sociais do cidadão – e da oposição também – foram os vídeos de Mustrangi, com o megafone, e Bomtempo, andando pra lá e pra cá, muito avulsos, em um palco vazio.
Será?
Já ontem, moradores do Meio da Serra se manifestaram contra o retorno da empresa. Também teve protesto no Sargento Boening. Pode ter sido espontâneo, sem o fomento do governo, mas Thiago Damaceno estava lá…
Números
Segundo as contas de Bomtempo, em três anos a Petro Ita cometeu três mil infrações. Mas por que a prefeitura esperou três anos para fazer algo? Essa é a questão. Também é interessante observar que os dados de quebras apurados por membros da sociedade no Conselho Municipal de Trânsito – um levantamento informal que o governo diz ser fake news – estavam sendo divulgados ontem pela… CPTrans! E, no final do dia, a Petro Ita fechou o expediente com 23 quebras.
Utilidade pública
Ainda sobre a decisão do Tribunal de Justiça do Estado para a volta da PetroIta, dada na segunda-feira à noite, o prefeito Bomtempo, ao ser questionado, disse que ficou sabendo pela Tribuna. E aí ele correu e organizou a “manifestação”. Por nada!
Contagem
Petrópolis está há 1 ano e 104 dias sem os 100% da frota de ônibus nas ruas depois do incêndio na garagem das empresas.
Que coisa, hein?
Olha como o mundo capota: com uma rejeição forte ao término de seu governo em 2012, Paulo Mustrangi, hoje vice de Bomtempo, voltou a ser respeitado por muitos justamente neste episódio da crise dos ônibus. Já ouvimos gente falando que, se ele fosse candidato, sem Bomtempo, teria chance. E fazem a comparação entre a atitude de ambos sobre a questão do transporte: Mustrangi, que botou três empresas para correr, e Bomtempo, que renovou com a Cascatinha e Petro Ita em 2015. E o resto da história vocês já conhecem.
Escondidinho
A campanha eleitoral começou oficialmente no dia 16. E teve candidato que tomou como primeiro ato, neste dia, uma… reunião interna com a equipe. Vai pra rua, gente! São só 45 dias.
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