Crise de biodiversidade: 40% das plantas do mundo estão agora em risco de extinção
Cientistas estão, no momento, em uma corrida contra o tempo para descobrir, avaliar e potencialmente tentar salvar espécies desconhecidas antes que elas sumam, diz o relatório do Royal Botanic Gardens.
Numa urgente chamada para ação, a pesquisa descobriu que pessoas estão falhando em fazer mudanças cruciais no nosso relacionamento com plantas e fungos que poderiam prover-nos de novos medicamentos importantes, os quais podem ser usados na indústria, e recursos alimentícios que são mais resistentes à possível ameaça imposta pela crise climática e surto ecológico.
O relatório reúne 210 cientistas de 42 países, e examina como pessoas estão atualmente usando plantas e fungos, quais oportunidades estão se perdendo e o que está sob risco de se perder.
O professor Alexandre Antonelli, diretor de ciência do RBG Kew, disse a estimativa de que dois terços de espécies que são ameaçadas de extinção é “um cenário muito preocupante de risco e necessidade urgente para ação”.
“Nós também estamos perdendo a corrida contra o tempo, espécies estão provavelmente desaparecendo mais rápido do que podemos encontrar e nomear, e muitas delas poderiam guardar pistas importantes para resolver muitos dos desafios urgentes da medicina e, talvez, até mesmo de algumas das pandemias emergentes ou atuais”, ele disse.
Novas análises mostram uma estimativa de 140 mil, ou 39,4%, de plantas vasculares ameaçadas de extinção. Isso é um salto desde o relatório do Kew, State of the World’s Plants, de 2016, o qual postula um cenário de 21%.
Os autores do relatório disseram que o rápido crescimento no nível de ameaça foi, em grande parte, devido a avaliações de conservação mais sofisticadas e novas abordagens para contabilizar plantas e áreas que foram sobre ou sub representadas na análise anterior.
O relatório afirma que a maior ameaça que a biodiversidade de plantas enfrenta é a remoção de habitats naturais, como florestas tropicais para agricultura.
A cada vez pior crise climática é outro fator significante, com espécies enfrentando temperaturas crescentes e seus extremos, como a seca, o estudo diz.
Entre aquelas ameaçadas de extinção, estão 723 espécies usadas para medicamentos, incluindo plantas utilizadas para tratar doenças circulatórias, de pele, e gripes e resfriados, com crescentes problemas em algumas partes do mundo.
Cientistas estão identificando centenas de novas espécies todos os anos, com 1.942 plantas e 1.886 fungos cientificamente patenteados pela primeira vez em 2019, incluindo novas plantas alimentares e remédios potenciais.
Contudo, apesar de fazer este progresso, eles advertem que sem mais financiamento e pesquisa para acelerar os processos de identificação, patenteação e conservação, muitas espécies podem se extinguir antes de se tornarem conhecidas para a ciência.
Algumas das descobertas incluem plantas relacionadas a espécies já usadas para tratar inflamação e malária, assim como parentes selvagens de espinafre, mandioca e batata doce.
Oito novas espécies de fungos relacionadas ao cogumelo comestível “old man in the woods” (“velho homem nas florestas”, em tradução livre) também foram recentemente encontradas.
O relatório nota que familiares selvagens de nossas comidas existentes oferecem a diversidade genética que pode eventualmente ajudar a desenvolver mais cultivos resistentes a pestes ou a doenças, o que poderia ser mais nutritivo e mais adequado a um clima em mudança.
Já existem 7.039 plantas comestíveis conhecidas que têm o potencial de melhorar a segurança e nutrição alimentar ao ampliar a dieta da população dos 15 cultivos que formam 90% da ingestão de energia alimentar da humanidade.
O professor Antonelli diz: “os dados emergindo do relatório deste ano pintam um cenário de um mundo que se voltou contra o potencial de plantas e fungos para endereçar questões globais fundamentais, como segurança alimentar e mudança climática”.
“Ao tempo da rápida perda de biodiversidade, estamos falhando em acessar o baú de tesouros de nossa incrível diversidade a ser ofertada e em perder uma enorme oportunidade para nossa geração”.
Mas ele também disse que o relatório ofereceu esperança de que pessoas poderiam adotar “soluções com base na natureza” para endereçar a crise climática, perda de natureza e segurança alimentar.
O relatório sugeriu plantar mais espécies diversas de árvores em cidades, para assegurar que elas conseguiriam prover benefícios como o esfriamento de áreas urbanas. A pesquisa mostrou que enquanto plantas no Reino Unido estão entre as mais estudadas no mundo, não existe uma única lista acordada das plantas com flores do país, e registros para fungos são ainda mais fraturados, o que pode fazer os esforços de conservação muito mais difíceis.