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  • 24/11/2022 18:29
    Por Rafael Cataldo*

    Cripto-Cassinos

    Este artigo vai misturar um pouco de história com tecnologia a fim de usar esta coluna mais uma vez em sua função pública esclarecedora e educadora do grande público que muitas vezes, apesar do amplo acesso à informação nos dias atuais, ainda é fisgado por golpes financeiros de todas as naturezas exatamente por investir no que não conhece e da forma errada.

    Cassinos no Brasil

    Desde 1946 que os jogos de azar são proibidos no Brasil. Nossa cidade ficou famosa por abrigar o Cassino do Quitandinha no qual, em seus tempos áureos, foi um centro de entretenimento no país trazendo uma frequência da alta sociedade sul americana e até mesmo mundial. Celebridades do cinema, estadistas e até conferências internacionais. O Palácio Quitandinha foi o centro de entretenimento durante os 2 anos nos quais o jogo foi autorizado em nosso país. O Palácio Quitandinha e o Copacabana Palace dividiam as atenções neste mercado de jogos e entretenimento.

    E o que tem isso com o universo dos investimentos?

    Isso é uma brincadeira de nosso escritório de investimentos onde falamos que “vale mais a pena comprar a passagem para Las Vegas, torrar dinheiro no caça níquel, se divertir, e voltar contando boas histórias, do que apostar em um cripto-cassino”.

    Mas o que é um cripto-cassino?

    Na verdade, cripto-cassino é nossa brincadeira para criptoativos. E brincamos assim pois é um tipo de mercado sem regulamentação. Literalmente uma aposta. 
    Esta semana ficou marcada pela falência da FTX, uma das maiores corretoras de criptoativos do mundo. Quem tinha feito aportes via FTX e escolhido qualquer criptoativo distribuído por aquela corretora ficou sem liquidez e entrou na lista de credores em um mercado sem qualquer regulação internacional. Temos alguns brasileiros na lista de investidores com prejuízos na FTX. A corretora sequer tem CNPJ no Brasil. A quem um investidor brasileiro pode recorrer nesse momento?

    Mas além da FTX temos diversas corretoras famosas internacionalmente e aqui no Brasil também: Binance, Mercado Bitcoin estampam até mesmo camisas de times de futebol brasileiro patrocinando nosso esporte. Plataformas de investimentos em ativos  digitais muitas vezes atraem investidores que literalmente apostam em lucros astronômicos sem qualquer fundamento técnico de análise para prever rentabilidade aos investidores e ao mesmo tempo protegê-los de riscos.

    O site CoinTraderMonitor divulga informação que achei relevante sobre o share (divisão de mercado) de corretoras de criptoativos no Brasil:

    A exposição a riscos especulativos no meu entendimento é o menor temor que os investidores de criptoativos podem ter. Dentro de um portfólio diversificado, onde o investidor aloca pequenos percentuais de seu patrimônio em criptoativos de alta volatilidade, ainda é aceitável que o investidor experimente nossos ativos.

    Criptoativos mais conhecidos

    Sem dúvida, o Bitcoin é o mais conhecido e nem por isso deixamos de brincar que é um cripto-cassino. Veja o gráfico de performance desde seu lançamento:

    Em resumo, um ativo que já chegou a ser precificado em mais de 70.000 USD e hoje sequer vale 20% disso. E se analisarmos as oscilações mensais e semanais, veremos que a volatilidade impera pois o preço sobe e cai sem qualquer fundamento muito plausível.

    Da mesma forma que se compararmos com ações do mercado brasileiro, uma notícia política derruba ou eleva o preço de uma ação de empresa simplesmente por especulações de favorecimento ou desfavorecimento de cenários futuros. Isso sem sequer ter a confirmação do cenário que influenciou o preço. Mas se notícias de política, balanços das empresas, aberturas ou fechamentos de mercados internacionais influenciam os preços de ações, o que influencia o preço de um criptoativo? O criptoativo divulga balanços com resultados a serem avaliados? O criptoativo pode afirmar que irá conquistar mercado no qual atua e assim se valorizar?

    Preço do criptoativo

    Várias são as teorias sobre os custos de mineração, tecnologias blockchain, big techs, utilização e aceitação do ativo por países e empresas, mas o que realmente importa na precificação de um criptoativo é a lei da oferta e da demanda que é predominantemente especulativa neste mercado. Por isso nossa brincadeira de um cripto-cassino. É uma aposta.

    Helena Margarido, profissional que eu considero produzir um conteúdo relevante e sério, em seu artigo que pode ser visto na íntegra neste link vai de encontro com o conceito de cripto-cassino escrevendo “se aventurar em investir em criptoativos atualmente é, para maioria das pessoas, um tiro no escuro”. Em contrapartida, Helena afirma que, como em qualquer mercado, independente do ativo, o mais importante é o tempo do negócio de compra e venda. Além disso ela destaca pontos interessantes que podemos observar em alguns criptoativos se os considerarmos como bigtechs, ou seja, se considerarmos o criptoativo como a ação de uma empresa de tecnologia que virá ou não a ser valorizada no mercado.

    Helena também aborda um ponto interessante sobre as discussões para possíveis ações regulatórias no mercado de criptoativos. Claro que esta regulamentação visa proteger o investidor e gerar segurança no mercado, mas questiono se um mercado tão dinâmico e acelerado a regulamentação conseguirá acompanhar tal velocidade.

    Golpes
    Enquanto a regulamentação não acontece, ainda o que acontece em alguns casos é muito pior. Além de investir em algo que desconhece, o investidor ainda cai em golpes realizando aplicações que não estão sob sua gestão.

    A mídia nacional divulgou amplamente casos de golpes sofridos por investidores que transferem seus recursos a terceiros e literalmente apostam na gestão destas pessoas que em sua grande maioria de casos é fraudulenta.

    Independentemente de ser investimento em criptoativos ou qualquer outro ativo regulamentado em nosso mercado financeiro, o investidor sempre deve ter as CONTAS e suas SENHAS em seu nome. Seja em bancos, corretoras ou plataformas exchanges de criptoativos.

    Me deparei recentemente com pessoas idôneas, batendo à porta de meu escritório, pedindo orientação de como reaver seus valores investidos em terceiros literalmente não habilitados. Transferiram seus valores à terceiros, durante um tempo receberam rendimentos via TED ou PIX pagos por estes “traders” e depois de um tempo os “traders” somem do mapa e aí as pessoas ficam assustadas pois durante um tempo os picaretas conquistaram sua confiança para aumentar os aportes e quando isso ocorre os investidores ficam vendidos sem ter como reaver seus valores.

    Influencers aparecem vendendo o “big dream” de investimentos que vão se render mais de cinco dígitos %. Outros acabam aparecendo na cena policial, infelizmente levando com eles patrimônio de pessoas próximas.

    Então: tenha segurança!

    Em resumo, alertando aos investidores:
    1 – só invista no que você entende;

    2 – só invista com a confiança de que a custódia dos seu patrimônio está em uma empresa regulamentada pela CVM e pelo BACEN;

    3 – Sempre em seu CPF ou CNPJ. Nunca aplique em contas de terceiros ainda que tenham alguma referência que lhe transmita alguma confiança inicial.

    Ou então, pegue o valor que iria investir, faça uma viagem e volte contando boas histórias aos amigos no churrasco de domingo. Mais vale uma experiência positiva do que uma possível decepção por investir no que você não entende e com quem não merece sua confiança. Se não der para ir para Vegas, Montevideo é mais barato.



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