Criador do HQ ‘O Doutrinador’ conta sobre o anti-herói que virou filme e série de TV
Após as eleições deste ano, quando os brasileiros vão as urnas para eleger o novo presidente do Brasil e os representantes no Congresso Nacional, estreia no cinema o filme O Doutrinador. E qualquer semelhança com a realidade, neste caso, não é mera coincidência, pois a sua missão é acabar com todos os corruptos que infestam Santa Cruz, uma cidade fictícia e que traz muitas características com o Brasil de nossos dias, onde a Operação Lava Jato tem o apoio da maioria dos brasileiros.
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Criado em 2010 pelo desenhista Luciano Cunha, O Doutrinador alcançou seu sucesso com as manifestações em 2013, passando de 500 para cinco mil visualizações em um dia, na página no Facebook, onde as histórias foram inicialmente publicadas. Luciano Cunha conta que, por três anos, o projeto ficou na gaveta, pois as editoras procuradas não quiserem publicar as histórias e um dos motivos é porque os corruptos eram políticos verdadeiros, que O Doutrinador eliminava.
Luciano Cunha conta que com o sucesso em 2013, foi procurado por vários cineastas e produtores, que perguntavam sobre a HQ ou a quem pertenciam os direitos autorais. “Mas, só em 2015 conheci o meu sócio, hoje na Guará Entretenimento, o Gabriel Wainer, que amarrou o projeto e apresentamos à Downtown Filmes, que adorou a ideia”, conta Luciano.
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A partir daí, foram tomadas todas as providências para que o projeto fosse transformado em filme e em série para TV, com estreia prevista para 2019 no Canal Space, com oito episódios. No entanto, o maior desafio foi adaptar o HQ para as telas e o primeiro deles foi rejuvenescer o herói. “O grande desafio, desde o começo, era rejuvenescer o personagem, já que na revista o Doutrinador é um homem por volta de 62 anos”, conta Luciano, lembrando que no Brasil não tem um ator com as características do herói.
Outra mudança foi criar uma cidade fictícia, pois no HQ, Luciano usa as cidades brasileiras com toda a sua realidade, inclusive os políticos reais. Para o filme e a série foram criados personagens fictícios e todo contexto que permite a evolução da história. Mesmo com estas mudanças, o criador do Doutrinador garante que a essência do personagem foi mantida, deixando-o entusiasmado com o projeto.
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Sinopse – Miguel (Kiko Pissolato) é um agente federal da "D.A.E." ("Divisão Armada Especial"), altamente treinado e perito em armas. Após experimentar um trauma, ele parte para uma jornada pessoal de vingança, assume a identidade de um vigilante mascarado.
O "Doutrinador" resolve fazer justiça com as próprias mãos, exterminando políticos e donos de empreiteiras corruptos. Agora, seu maior objetivo é combater uma quadrilha de políticos e bandidos que tomaram a frente da política brasileira e passaram a governar o país pensando apenas em seus próprios interesses.
Produção – Para contar esta história foi necessário montar uma equipe e, para isso, foram escolhidos profissionais com experiência em projetos muito próximos do que se desejou alcançar com o Doutrinador. O primeiro desafio foi unir, num mesmo ambiente (sala) os roteiristas que foram acompanhados de perto por Luciano Cunha a convite da Downtown Filmes.
Para este trabalho, foram escolhidos L.G. Bayão, Rodrigo Lages, Guilherme Siman, Mirna Nogueira, Denis Nielsen e Bia Crespo, além do criador de Doutrinador e seu sócio, o cineasta Gabriel Wainer. O próprio Luciano afirma que a convivência foi como um casamento, as diferenças surgiram, mais o objetivo final foi alcançado, pois esta era a meta de todos, tornar o projeto viável e um marco para o cinema de heróis brasileiros.
Roteiro finalizado agora o objetivo era formar a equipe e escolher os atores. Para montar a equipe de produção, foram convidados profissionais com experiências em diversos filmes. Outra meta da equipe foi manter no filme o clima de gibi e para isto, entre os vários profissionais a produção contou com Margherita Pennacchi.
Ficha técnica – Conheça agora toda equipe do filme e da série Doutrinador:
Direção: Gustavo Bonafé e Fábio Mendonça
Roteiro: L.G. Bayão, Rodrigo Lages, Guilherme Siman, Mirna Nogueira, Denis Nielsen e Bia Crespo, Luciano Cunha e Gabriel Wainer
Produção: Renata Rezende, Sandi Adamiu, Jadir Eiró, Marcio Fraccaroli e Bruno Wainer
Desenho de Produção: Margherita Pennacchi
Edição: Frederico Brioni
Direção de Fotografia: Rodrigo Carvalho
Efeitos Visuais: Eduardo Gonçalves, Marco prado, Geovanne Salomoni e Karine Vanes.
Som: Abrão Antunes, Rafael Millan, Fábio Negritos, Jorge Rezende e Sebastian Songozoni.
Figurino: Lidiane Ferreira, Flávia Lhacer e Gustavo Lociks
Assistente de direção: Leonardo Carvalho, Julia Dimitrow, Julia Ferreira, Julia Redondo e Flavia Vileta
Direção de Elenco – Renata Kalman
Câmera e Departamento Elétrico: Rafael Giuliano, André Keller, Yuri Seid e Neto Valesi
Elenco:
Kiko Pissolato – Miguel Montessant ("O Doutrinador")
Tainá Medina – Nina
Samuel de Assis – Edu
Nicolas Trevijano – Diogo
Tuca Andrada – Siqueira
Marília Gabriela – Ministra Marta Regina
Natallia Rodrigues – Penélope
Natália Lage – Isabela
Helena Ranaldi – Julia Machado
Eucir de Souza – Deputado Djalma Dias
Lucy Ramos – Marina Sales
Eduardo Moscovis – Sandro Corrêa
Entrevista com Luciano Cunha
Rogerio Tosta – O Doutrinador tem início antes das manifestações de 2013. O que levou você a criar o personagem elegendo como inimigo a corrupção?
Luciano Cunha – Minha total revolta e indignação contra a classe política brasileira. Eu tinha que colocar isso pra fora de alguma maneira e decidi desenhar.
RT – Criar um personagem que mata corrupto, e nas histórias são personagens reais, (mesmo que seja o desejo de muitos brasileiros) não seria uma promoção da violência e do radicalismo?
LC – Não, eu realmente acho que é só entretenimento escapista. É um personagem de ficção e pra quem lê toda a obra, fica claro que o protagonista é um homem em desequilíbrio. No fim, ele não pode ser considerado apologético, pois na verdade é um anti-herói e acaba perseguido pelo estado democrático de direito.
RT – Em nenhum momento você teve medo de ser processado ao colocar em confronto O Doutrinador e os políticos corruptos do país?
LC – Eu fui processado em 2015 por um deputado federal que "vestiu a carapuça". Por orientação do meu advogado, que é um amigo de infância, não dei publicidade ao processo. Felizmente, o processo foi arquivado alguns meses depois.
RT – Com a recusa das editoras em publicar O Doutrinador, você não pensou em desistir e abandonar o projeto?
LC – Sim, durante 3 anos o projeto dormiu na gaveta. Só com a chegada das redes sociais, em especial do Facebook, eu retomei o projeto e me auto-publiquei via web.
RT – Como foi para você ver o sucesso do O Doutrinador nas redes sociais?
LC – Foi muito gratificante e mudou minha vida completamente.
RT – Quando foi que surgiu e começou a ideia de transformá-lo num projeto para o cinema e série?
LC – O personagem "namora" com o cinema desde o início. Ainda em 2013, vários cineastas e produtores me contactavam via inbox, perguntando sobre a HQ ou a quem pertenciam os direitos autorais etc. Mas só em 2015 conheci o meu sócio, hoje na Guará Entretenimento, o Gabriel Wainer, que amarrou o projeto, e apresentamos à Downtown Filmes, que adorou a ideia.
RT – Para você, o que representa ver sua obra finalizada para o cinema e série? Sendo comparada as grandes produções de super-heróis e abrindo a porta para outras produções brasileiras neste estilo?
LC – É um sonho realizado. Às vezes me belisco pra ver se é verdade. O mais importante também é que a porta já se abriu e isso me deixa imensamente feliz: tenho quatro amigos quadrinistas que já estão negociando suas obras com canais de TV fechada e produtoras de cinema. Isso não tem preço.
RT – Existe uma diferença entre escrever quadrinhos e fazer roteiro para cinema. Na maioria das vezes, o cinema destrói ou faz uma mutação muita infeliz do herói. Como você viu este processo com O Doutrinador, pois participou de todo o processo de construção do roteiro para o cinema e a série?
LC – Sim, estive bem perto de todo o processo pois, generosamente, a Downtown Filmes me chamou para ficar perto do projeto. Aí fiz parte da sala de roteiro com mais 4 roteiristas experientes. O grande desafio, desde o começo, era rejuvenescer o personagem, já que na hq o Doutrinador é um homem por volta de 62 anos. Literalmente, não temos um ator com este perfil no país: um ator perto da terceira idade com aptidões físicas para enfrentar filmagens onde o protagonista se comporta como um vigilante dos quadrinhos. Então toda a mudança girou por esse caminho e aí entram todas as novas camadas necessárias para se criar um protagonista mais denso e empático. Mas estou feliz com o resultado final.
RT – Entendo a preocupação com relação aos personagens reais, que seria complicado para o cinema e a série. Mas, ao tirar do filme e da série estes personagens reais, não tira o agrado do grande público, de ver políticos serem de fato punidos pelo crime que cometeram?
LC – Não, de forma alguma. Os personagens criados são baseados em figuras políticas reais, a identificação do público será natural.
RT – Você acredita que, com a ida de O Doutrinador para o cinema e série, ele pode se tornar um ícone da luta contra a corrupção no país, como ocorreu com o Capitão Nascimento de Tropa de Elite ou personagens como de Desejo de Matar com Charles Bronson que tratam de temas reais, no caso deles a violência e do seu personagem a corrupção?
LC – Não sei, realmente não sei. Vai depender de quanto espaço na mídia e no imaginário popular ele pode alcançar.
RT – O filme seria lançado em setembro e agora será em novembro. A mudança de data teve algo a ver com as eleições?
LC – No primeiro adiamento, não. Depois tivemos alguns problemas com a classificação etária. Mas o último adiamento foi estranho, prefiro não comentar.
RT – Você e Gabriel Wainer têm vários projetos. Quais os principais para este ano e para 2019?
LC – Este ano vamos consolidar uma primeira etapa do universo compartilhado que criamos, o Universo Guará, ao lançarmos 3 novas hqs durante a CCXP, no início de dezembro. Vamos lançar as aventuras de Penélope, que é nosso primeiro spin off pois está no filme e na série do Doutrinador, Santo e Os Desviantes. Com essas 3 hqs e mais uma nova aventura do Doutrinador em 2019, apresentamos grande parte do potencial do universo. Ainda este ano, surfando a onda do filme, vamos lançar um mobile game com realidade aumentada e um cardgame do Doutrinador, além de uma action figure colecionável do nosso mascarado.
RT – O que o público pode esperar da Editora Guará?
LC – A Guará vai se esforçar para criar uma nova relação entre fãs de filmes de ação e cultura pop, com o audiovisual brasileiro. Nossa missão se divide em criar marcas para consumo através de heróis com a "cara do Brasil" e divulgar o talento do artista brasileiro. Temos orgulho de, através dos nossos quadrinhos, mostrar a diversidade e o brilho do nosso povo. Os Desviantes, por exemplo, foi escrito por nós em parceria com um roteirista de Porto Alegre, foi desenhado por um curitibano, colorizado por um paraibano e vai ter o letreiramento feito por um cearense. Isso é bacana demais!