• Crescem casos de sífilis congênita e especialistas já falam em epidemia

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  • 23/07/2017 07:00

    O desabastecimento de penicilina benzatina e a falta de informação da população são as principais causas para o aumento dos casos de sífilis congênita em Petrópolis e no país. A coordenadora do Programa Municipal de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST), Maria Inês Ferreira vê os dados como preocupantes. Em Petrópolis, entre janeiro e maio deste ano, 16 bebês nasceram com a doença e 13 mulheres abortaram devido a sífilis.

    Em todo o ano passado, 119 gestantes contraíram a doença, dessas 42 tiveram bebês com sífilis congênita e 20 abortaram devido as complicações da sífilis. Os dados são do Programa Municipal de Doenças Sexualmente Transmissíveis de mulheres que deram entrada na maternidade do Hospital Alcides Carneiro (HAC).

    "Este é um número muito alto. Significa, que em todo o ano passado, 35% das mulheres com sífilis tiveram bebês com a doença. E 16% dessas gestantes abortaram. A sífilis é uma doença de fácil tratamento, mas do que o HIV, mas vem se tornando mais grave devido ao aumento dos casos, principalmente de transmissão vertical – de mãe para filho", ressaltou a coordenadora do programa DST.

    A falta de penicilina benzatina nas farmácias do país começou em meados de 2014. O problema de acordo com o Ministério da Saúde (MS) e a foi a escassez mundial no suprimento de matéria-prima. Tanto na rede particular quanto privada tornou-se impossível adquirir o medicamento. Laboratórios de todo o Brasil autorizados a produzir o antibiótico começaram a informar ao MS e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a descontinuidade na produção. A situação só foi regularizada no fim do ano passado.

    "Em alguns casos as mulheres foram diagnosticadas com sífilis mas não havia o medicamento para o tratamento. Para tratar a doença é preciso três doses e o tratamento ser finalizado 30 dias antes do parto. A penicilina é o único tratamento para a doença e para as gestantes a preocupação ainda é maior, pois além do risco de abortos as crianças que nascem com a bactéria podem ter várias complicações de prematuridade a problemas neurológicos. O antibiótico trata a mãe e o bebê", explicou Maria Inês.

    Outro problema enfrentado pelas equipes de DST é a falta de informação da população. A sífilis é uma doença sexualmente transmissível e para evitá-la é preciso o uso de preservativo. Em muitos casos, explicou a coordenadora do Programa Municipal de DST, as mulheres acabam se "reinfectando" quando tem relações sexuais sem o uso da camisinha. "Muitas descobrem a doença há tempo de fazer o tratamento. Se tomar as doses de forma correta a gestante é curada. Mas o problema é que ela acaba tendo relações sexuais sem proteção e se reinfecta, a doença volta e a criança fica exposta pois há o risco da transmissão vertical. Essa questão é muito delicada pois é uma relação de confiança na relação do casal. Por isso, nossa maior dificuldade é tratar também o parceiro. Tanto a gestante quanto o parceiro precisam ser tratados corretamente para que fiquem livres da doença", ressaltou Maria Inês.

    Segundo dados do Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde de 2016, entre os anos de 2014 e 2015, a sífilis adquirida teve um aumento de 32,7%, a sífilis em gestantes 20,9% e congênita, de 19%. Em 2015, a taxa de infecção de gestantes foi de 11,2 casos a cada mil nascidos vivos, com um total de 33.365 casos da doença. Com relação à sífilis congênita, em bebês, em 2015, foi notificado 19.228 casos da doença, uma taxa de incidência de 6,5 por 1.000 nascidos vivos. De 1998 a junho de 2016, foram notificados 142.961 casos em menores de um ano. 

    "Para reduzirmos estas taxas estamos pactuando algumas medidas como ampliar o acesso ao tratamento, estamos capacitando profissionais da saúde para aplicarem a penicilina benzatina em outras unidades. Atualmente, apenas os hospitais aplicam as doses. A nota técnica do Conselho Federal de Enfermagem afirma que ausência do médico na UBS não configura motivo para não realização da administração da penicilina benzatina por profissionais de enfermagem. É um avanço na luta contra a doença", destacou a coordenadora do Programa Municipal de DST.

    Outras medidas apontadas por Maria Inês é a garantia do diagnóstico precoce com a realização de dois exames durante o pré-natal. "O nosso desafio é que as gestantes façam o pré-natal, diagnostiquem a doença precocemente e o casal faça o tratamento completo. A sífilis tem cura só precisamos vencer estes desafios", concluiu.

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