Costureira conquista clientes e amigos no Alto da Serra
Rua Travessa Batista de Castro, nº 23, bairro Alto da Serra. O espaço é pequeno, mas o movimento é grande. Entra um cliente, sai o outro. Às vezes é preciso enfrentar pequenas filas. Uma conversa aqui, outra ali. Um leva uma bolsa para costurar. O outro uma sandália para trocar o solado, que escorrega, por um antiderrapante. Alguns não têm o número do código correspondente ao conserto. É preciso ligar para o dono da mochila, do calçado, para pedir a descrição do produto. A costureira Sueli Barcellos, de 54 anos, entra no circuito, troca umas (muitas) palavras, localiza o conserto e entrega sorridente ao cliente. De segunda a sexta-feira o processo se repete. Por si só o espaço conta a história de uma mulher simples e de muitos amigos.
Sueli mora no Alto da Serra desde pequena quando vivia com a mãe e mais 10 irmãos. A costureira autodidata, cursou o Ensino Médio e depois disso se dedicou à profissão e à família. Mãe de duas filhas, de 25 e 27 anos, é uma das mulheres mais populares do bairro, onde é responsável por fazer pequenos e grandes consertos, ela também pega os serviços de sapateiro, profissão que o marido, Marcos Antônio Ferreira, exerce. Por dia, ela e a Singer (máquina de costura) reparam mais de 30 peças. No fim do mês são mais de 600. Basta dar uma observada para ver que falta espaço para tanto conserto. E a costureira disse que o número de produtos levados para ela aumentou por causa da crise, que faz com que seja melhor gastar uns trocados para consertar, do que comprar um novo.
Em uma conversa com a costureira, alguns detalhes chamam a atenção. Para começar os olhos verdes, tão expressivos que parecem a cor da água do mar. Eles transmitem transparência, muita alegria e sinceridade. Depois, destaca-se a simplicidade. “Nunca fui ambiciosa. Não tenho pretensão de sair de Petrópolis, nem de viajar. Gosto de estar aqui, trabalhar e, principalmente, tratar as pessoas bem”, revelou. O sonho dela era ver as filhas formadas no Ensino Superior e isso ela conseguiu realizar. Uma se formou em Administração e a outra em Direito.
Outra característica marcante é a quantidade de palavras por minuto que a costureira dispara e que a equipe da Tribuna tentou, mas não conseguiu mensurar. “Falo o dia inteiro. Se não aparece ninguém, fico até triste”, admitiu espontaneamente.
A amiga Penha Maria, de 73 anos, levou uma roupa para a costureira consertar e aproveitou para deixar um docinho. “Sempre trago alguma coisa”, disse. Enquanto Nely Aguiar, de 60 anos, acrescentou que Sueli é muito prestativa. “Nos conhecemos há mais de 30 anos e sempre mando trabalho para ela”, comentou. Durante os 30 minutos que a equipe ficou no local, mais umas quatro pessoas entraram e outras que passavam pela porta faziam questão de cumprimentar a Sueli.
Com o dinheiro que ganha com a costura, ela paga as despesas da lojinha, como aluguel e luz, mas ela revelou que já conseguiu comprar uma geladeira e um microondas, além de ter reformado a casa. Fora isso, ela revelou: “Não tenho grandes sonhos, mas gosto de trabalhar e do movimento”, revelou.
No perfil do Facebook, a cliente Isabel Gomide fez um depoimento no dia 3 de janeiro, que foi o que deu origem a esta matéria. Foram 152 curtidas, 24 comentários e 13 compartilhamentos e um texto que define bem a costureira: “Uma empreendedora, uma guerreira, uma mulher brasileira. Sueli Barcellos, sapateira da melhor espécie, conserta sapatos e bolsas super bem e atende com esse sorriso delicioso. Coisas de Petrópolis”. Um dos comentários foi da filha de Sueli, Vanessa Barcellos Souza agradeceu: “Isabel, gostaria de agradecer imensamente o carinho em divulgar o trabalho da minha mãe. Só Deus sabe o quanto ela trabalha e tudo o que passou para criar a mim e a minha irmã da forma fantástica como criou. Ela é uma guerreira e a luz que ela emite tem o poder de transformar o mundo. Obrigada de coração por todo carinho! Espero que a cada dia ela tenha mais e mais clientes especiais assim como você”.