• Corrupção, orçamento secreto e ataques a Lula e Bolsonaro marcam debate

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  • 25/09/2022 14:34
    Por Adriana Ferraz, Beatriz Bulla, Eduardo Gayer, Giordanna Neves, Gustavo Queiroz, Levy Teles, Matheus de Souza, Natália Coelho, Rubens Anater e Thaís Barcellos / Estadão

    Promovido pelo Estadão, a Rádio Eldorado e um pool de veículos de imprensa, o segundo debate entre candidatos ao Palácio do Planalto foi marcado, na noite de ontem, por críticas a Luiz Inácio Lula da Silva (PT), por faltar ao evento, e a Jair Bolsonaro, que disputa a reeleição pelo PL. O petista e o presidente foram reiteradamente associados à corrupção. As contestações mais veementes ao atual chefe do Executivo partiram das duas postulantes mulheres ao cargo – Simone Tebet, do MDB, e Soraya Thronicke, do União Brasil.

    Candidato do PDT, Ciro Gomes, que também não poupou Bolsonaro, destinou ataques mais fortes a Lula, de quem é alvo de uma campanha por voto útil para que a eleição se encerre no primeiro turno, marcado para o próximo dia 2.

    Felipe d’Avila, do Novo, reforçou o discurso antipetista, ao mesmo tempo que Padre Kelmon (PTB) atuou como linha auxiliar do atual presidente, ao defendê-lo por ser alvo, segundo ele, de cinco candidatos, e ao afirmar que o governo “está em boas mãos, sim”.

    Nesse cenário, o presidente demonstrou mais segurança, diferentemente de outros eventos nos quais foi confrontado nesta eleição. Lula, por sua vez, optou por faltar ao debate promovido pelo Estadão, Rádio Eldorado, SBT, CNN Brasil, Veja e Rádio NovaBrasil FM, sob alegação de conflito de agendas.

    Enquanto o debate era transmitido dos estúdios do SBT, em Osasco, o petista fazia ataques a Bolsonaro em Itaquera, na zona leste de São Paulo. “Ele vai ser ladrão ou não quando eu tomar posse e acabar com esse sigilo”, disse Lula, em referência aos decretos de cem anos impostos por Bolsonaro a atos do governo.

    CRÍTICAS

    O petista foi criticado por faltar ao debate antes mesmo do início do programa, que durou cerca de duas horas e contou com quatro blocos – dois deles com embates entre os candidatos e dois com perguntas feitas por jornalistas.

    “A ausência do presidiário, do ex-presidiário, demonstra que ele não tem compromisso com a população. Em 2018, eu não compareci por causa da facada e fui massacrado pelo PT”, afirmou Bolsonaro. Já Ciro disse que Lula está de “salto alto”. Soraya, por sua vez, avaliou a ausência do petista como um “ato de covardia”.

    Ao longo do debate, d’Avila criticou o STF. “Está na hora de enquadrar o Supremo Tribunal Federal. O STF foi responsável por soltar Lula. Chega de Lula, chega desse Barrabás”, disse. Ao comentar, Simone reforçou críticas a Bolsonaro e ao orçamento secreto – revelado pelo Estadão -, que ela classificou como “corrupção do governo federal”.

    O clima tenso também marcou o debate. Foram dez pedidos de resposta, dos quais cinco foram concedidos.

    Orçamento secreto e MEC

    Durante o debate, na noite de ontem, o orçamento secreto e os escândalos de corrupção no Ministério da Educação – ambos revelados pelo Estadão – foram os principais temas apresentados pelos candidatos para enquadrar o presidente Jair Bolsonaro, postulante à reeleição pelo PL. O chefe do Executivo, por sua vez, negou a ocorrência de corrupção no governo. “Eu não sei para onde vai o dinheiro desse tal orçamento secreto”, disse o presidente.

    “Nós tiramos a corrupção das manchetes de jornal. Três anos e oito meses e você não vê escândalo de corrupção no meu governo. Quando acusam, como em uma CPI (da Covid) fajuta aí do Senado, são suposições. Nós demos o exemplo, escolhendo pessoas corretas para estar à frente dos ministérios”, disse. Milton Ribeiro, ex-ministro da Educação, chegou a ser preso, e depois solto, em razão do gabinete secreto com a atuação de pastores que mediavam a negociação de recursos da pasta.

    Logo na primeira pergunta, a senadora Simone Tebet (MDB) acusou Bolsonaro pela falta de merenda em escolas e mencionou o orçamento secreto – as chamadas emenda de relator. “Você é um péssimo exemplo, porque, além de tudo, mente em cadeia nacional. Anda de jet ski e moto, não conhece a realidade do Brasil, por isso disse que o Brasil não tem fome”, afirmou.

    O presidente também acusou a senadora e sua vice, a também senadora, Mara Gabrilli (PSDB), de usarem recursos do esquema. Apenas Mara, no entanto, recebeu emendas de relator. “O Orçamento é feito em quatro mãos: Executivo e Legislativo. Não é verdadeira sua acusação de cortar a merenda porque o Orçamento não foi votado”, respondeu Bolsonaro.

    Ele afirmou que a senadora, como parlamentar, terá a chance de “pegar” os recursos do mecanismo para redistribuir aos ministérios, entre eles o da Educação. Durante o debate, a assessoria de Simone rebateu as acusações de Bolsonaro. Em nota, afirmou que Simone “não defendeu as emendas do relator, ao contrário do que Bolsonaro falou”.

    A senadora Soraya Thronicke (União Brasil) também entrou em embate com Bolsonaro por causa do orçamento secreto. “Desafio o senhor a mostrar e abrir todas as indicações de emenda de relator dos demais parlamentares”, disse. Ela pediu para Bolsonaro “não cutucar onça com a sua vara curta”.

    A senadora ironizou, ainda, o governo Bolsonaro em pergunta para Felipe d’Avila, do Novo, ao mencionar escândalos da atual gestão. “O senhor já brincou de ‘o que é o que é?’ Vou te perguntar. O que é o que é: não reajusta a merenda escolar, mas gasta milhões com leite condensado? Tira remédio da Farmácia Popular, mas mantém a compra de Viagra? Não compra vacina para covid, mas distribui prótese peniana para seus amigos?”, perguntou. O corte na Farmácia Popular, para garantir as emendas em 2023, também foi revelado pelo Estadão.

    Bolsonaro, por sua vez, acusou Soraya de “estelionato eleitoral” e ainda defendeu as compras do Exército de remédios como Viagra. “Me acusam de ser corrupto, mas não dizem da onde foi tirado esse dinheiro para corrupção”, disse, em um dos pedidos de resposta. “Olhem para o espelho primeiro e depois venham me acusar”, afirmou.

    EDUCAÇÃO

    Candidato do PDT, Ciro Gomes sugeriu que Bolsonaro “passou pano” para corrupção no MEC e Soraya apontou responsabilidade do chefe do Executivo. “Para ser honesto, o presidente não é onisciente, vai ser vítima de quem o traiu. A questão é a atitude diante do caso. Nesse caso, como em muitos outros, infelizmente, o presidente elogiou, passou pano para corrupto”, afirmou Ciro.

    Já Soraya afirmou que “quem não demite ministro” acusado de corrupção “é tão responsável quanto”, lembrando também da proposta de propinas escondidas em pneu na gestão de Ribeiro, conforme revelado pelo Estadão.

    Ciro disse, ainda, que Bolsonaro e as gestões petistas carregam a pecha de corrupção. Em uma pergunta a Felipe d’Avila, o pedetista disse que Bolsonaro foi eleito em meio à crise econômica e aos escândalos de corrupção nos governos do PT, mas citou pesquisa Datafolha que mostra que 69% da população têm impressão que há corrupção na gestão atual.

    “O presidente Bolsonaro teve oportunidade de ouro de mudar radicalmente”, disse. “E teve a proeza de ressuscitar Lula, que se tinha clareza lá atrás que estava relacionado com a corrupção”, afirmou Ciro.

    Quando Bolsonaro defendeu o governo, Felipe d’Avila rebateu a fala também resgatando o orçamento secreto e reforçou críticas ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “O orçamento secreto é muito parecido com o mensalão.”

    CRÍTICAS A LULA

    Já Ciro, Soraya e Simone criticaram a ausência de Lula. “Um debate é como uma entrevista de emprego. Você contrataria um candidato que faltou à entrevista? Esse candidato Lula, que não merece seu voto, não foi à entrevista, uma coisa de quem não gosta de trabalhar”, disse a senadora.

    “Lula produziu onda de propaganda que todo mundo que não for Lula é fascista. Ao invés de vir aqui, foge”, criticou Ciro em relação ao petista. Sobre o voto útil, o pedetista defendeu a realização de dois turnos para que o eleitor possa “votar com esperança” no candidato em que se identifica.

    Na mesma pergunta, Simone concordou com Ciro e disse, sem mencionar Lula, que “esse mesmo candidato que pede voto útil para matar eleição no primeiro turno” não participa de debate. “Voto útil é da sua consciência”, afirmou ela.

    Já d’Avila, ao questionar Bolsonaro sobre medidas para combater crimes de corrupção, disse que Lula é “campeão” no assunto. “Brasil está cansado de ver escândalos de corrupção drenando o dinheiro do povo brasileiro”, afirmou.

    Na resposta, Bolsonaro se disse “orgulhoso” do seu governo. O candidato do Novo, por sua vez, instigou o presidente sobre o orçamento secreto e sua aproximação com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, que se envolveu no escândalo de corrupção do Mensalão. O presidente se limitou a dizer que, anos atrás, ele foi “um dos três deputados que não pegava dinheiro na Petrobras” segundo o Supremo Tribunal Federal.

    DOBRADINHA

    Desconhecido de grande parte do público, Padre Kelmon (PTB) fez dobradinha com o presidente Jair Bolsonaro com ataques à esquerda e defendeu pautas ideológicas, principalmente seu posicionamento contra o aborto e pela liberdade. O candidato assumiu a cabeça de chapa após a impugnação da candidatura de Roberto Jefferson pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

    Bolsonaro questionou se o candidato do PTB aprovava a sua gestão. “A minha opinião é que o senhor tem ajudado muito este País. E nós estamos vendo aqui um massacre”, afirmou Kelmon.

    A plateia presente ao estúdio do SBT para acompanhar o debate reagiu com risadas quando Bolsonaro destinou uma segunda pergunta a Kelmon. Na segunda ocasião, o presidente podia perguntar a Soraya, mas preferiu manter a parceria.

    Na noite deste sábado, o SBT ficou em segundo lugar em audiência na Grande São Paulo. A TV Globo chegou 16,7 no Ibope, e o SBT, 6,7, seguido de Record com 4,7. Cada ponto equivale a 74.666 televisores sintonizados na emissora. l

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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