• Corrupção: do Amazonas ao Rio Grande

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  • 22/11/2016 12:00

    O Brasil vem mudando. Até bem pouco tempo, seria inimaginável a prisão em Bangu de dois ex-governadores do Rio de Janeiro. Difícil acreditar que um ex-presidente seria conduzido à força para prestar depoimento na Polícia Federal, como ocorreu com Lula, e que responderia a mais de um processo por corrupção e outros delitos. Como admitir que o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, também ocuparia uma das celas da Lava Jato, ao lado do preso Marcelo Odebrecht, rico e poderoso, presidente da maior empreiteira do país. Delcídio Amaral, senador no exercício do mandato, não tivera melhor sorte, recolhido em flagrante e levado a prestar delação premiada, com a qual entregou muitos de seus parceiros delinquentes.

    Há vários políticos com investigação em curso no STF, dentre eles, o notório Renan Calheiros, presidente do Senado e do Congresso Nacional. Urge que o Supremo acelere o andamento dos casos sob sua jurisdição. Outros, como Romero Jucá, foram obrigados a deixar funções no governo Temer, que vê as operações policiais alcançarem expressões de seu partido, o PMDB. Fala-se que os depoimentos dos executivos e do próprio presidente da Odebrecht não deixarão pedra sobre pedra, compondo a chamada delação do fim do mundo. Estima-se que algo em torno de 40% de parlamentares com mandato em Brasília ilustram as páginas das declarações dos diretores da empresa. Tal fato tem motivado ação legislativa articulada na Câmara e no Senado, a fim de conter ou sepultar de vez os procedimentos investigatórios contra a classe política. Neste ponto, todo cuidado é pouco. Pode acontecer com a Lava Jato o que se deu com a Mani Pulite na Itália, castrada pela edição de normas legais de proteção aos corruptos italianos. Sem ampla mobilização popular, com igual ou maior dimensão das manifestações de junho de 2013, todo o trabalho do juiz Sérgio Moro e de outros magistrados pode escorrer por águas abaixo.

    À medida que a Lava Jato sai de seu núcleo e espraia-se no sentido dos estados da Federação, identificada a participação de ex-governadores em esquemas criminosos, crescem as resistências às operações moralizadoras e punitivas. A corrupção é nacional e vai do Amazonas ao Rio Grande do Sul, com o Brasil em estado de coma. No sentido Norte-Nordeste, em proporções bem mais profundas, praticam-se percentuais que fariam corar assaltantes profissionais do erário em regiões mais desenvolvidas. Surgem da noite para o dia fortunas criminosas, que premiam a incompetência já testada e fracassada longe do universo da política. Tudo é amealhado em milhões e milhões de dólares, em contas no exterior, ou em milhões e milhões de reais, traduzidos em patrimônios fantásticos registrados em nome de laranjas.

    Se no Rio de Janeiro surpreende o conjunto de bens de propriedade do ex-governador Sérgio Cabral e de seu consorte Anthony Garotinho, será fácil imaginar o que a Lava Jato e outras iniciativas encontrarão no mapa do Brasil acima. É um escárnio o acúmulo de tanta riqueza, com tamanha agressão aos cofres do erário, notadamente em estados com graves carências sociais, em áreas nevrálgicas, como em matéria de saúde, educação, transporte e segurança pública.

    Mas o que conforta é que todos serão apanhados, como já o foram Cabral e Garotinho, e como serão tantos outros ex-governadores em situação semelhante. Pelo andar da carruagem, bem mais cedo do que poderiam supor.

    paulofigueiredo@uol.com.br

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