• Corrosão estrutural no governo Lula

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  • 14/jun 08:00
    Por Gastão Reis

    Na quarta-feira à noite, dia 4.6.2025, tive a oportunidade de assistir ao programa do William Waack (WW), na CNN, em que um dos participantes era um renomado técnico em pesquisas de opinião da população sobre os mais diversos temas, inclusive aqueles que avaliam o desempenho de governos e seus mandatários. Após um breve introito feito por WW, ele fez uma pergunta ao Ronan, sobrenome do referido pesquisador, sobre o atual panorama político brasileiro com foco no governo Lula. Ao final de sua primeira resposta, Ronan mencionou as palavras do título sobre o atual governo federal: corrosão estrutural.

    Em engenharia, quando se fala de corrosão estrutural, significa que estamos diante de um problema fadiga de material ou falha mecânica. A explicação técnica nos informa o seguinte: “A falha mecânica pode ser caracterizada por trinca, trincas ou ruptura completa após um número suficiente de flutuações”. Acontece também com seres humanos e suas falhas.

    Após ler a explicação do parágrafo anterior, observei a precisão do comentário do Ronan. Indo de trás para frente na resposta dele, o governo Lula se caracteriza por diversos tipos de flutuações, inclusive aquelas que dão marcha à ré, coisa nada comum na definição do que seja uma flutuação. Depois nos fala da ruptura completa provocada pelo acúmulo de trincas ou rachaduras, coisa que abunda no atual governo federal. Cada ministro toca sua pasta a seu bel-prazer, pouco se importando com o conjunto da obra, ou seja, a coordenação com os demais ministros.

    Ato contínuo, fui consultar um livro do famoso Peter Drucker, intitulado “O Gerente Eficaz”, traduzido em várias línguas com repetidas reimpressões. Trata-se de obra clássica para identificar o gerente realmente competente. Drucker faz uma distinção importante entre eficiência e eficácia. Eficiência é fazer de modo certo alguma coisa, seguir as regras do fazer bem feito. Eficácia é fazer a coisa certa, aquela que é realmente necessária para resolver algum problema a contento.

    Apliquemos os dois termos ao governo Lula para verificar se ele passa no teste. Fazer a coisa certa em seu governo, obviamente, está mais longe do que o diabo da cruz desde o início. Pouco antes de assumir seu terceiro mandato, pediu ao Congresso licença para gastar a rodo. Foram aqueles 300 bilhões de reais autorizados candidamente pelo Parlamento. E foi assim que ele abriu as portas para a inflação, que mostrou a cara feia pouco depois do primeiro ano de mandato. A população sentiu no bolso, e não gostou nada. Foi o início de seu derretimento. Eficácia zero.

    Quanto à sua capacidade de tocar alguma iniciativa de governo de modo certo, Lula também falhou de cara. Vale citar aqui as palavras do economista Rogério Furquim Werneck no artigo “Improvisação e amadorismo”, publicado no Globo, em 6.6.2025: “O arcabouço fiscal, com seu desconjuntado apanhado de regras desconexas e metas pífias de déficit primário quase zero, não deixava dúvidas sobre as proporções da improvisação e do amadorismo de que a nova equipe econômica seria capaz.” E aqui a eficiência é zero também.

    Façamos agora o teste de Drucker sobre as cinco práticas do dia a dia do gerente eficiente. A primeira delas é que gerentes eficazes sabem como empregar o tempo. As frequentes viagens ao exterior de Lula mais parecem uma fuga de suas tarefas domésticas, muitas e mal resolvidas. Além disso, o peso que possa ter no plano internacional está longe de ser o que ele imagina. Para piorar seu desempenho, ele ainda conta com o “apoio” da Janja, que se dá ao trabalho de fazer presença e dizer bobagens em foros internacionais sem se dar conta do ridículo internacional a que expõe o país. Logo, nota zero.

    A segunda prática salutar é que o gerente eficaz conduz seus esforços para obter resultados. Ele se pergunta: “Que resultados esperam de mim?” Lula, em sua sapiência, se perde em obter os resultados que ele quer apresentar. A disfunção é de tal ordem que até José Dirceu notou que Lula está tentando fazer um repeteco do que a Dilma foi, em especial em seu segundo mandato, que deu em impeachment, visto por Lula como golpe. Pode? Que nota, caros leitor e leitora, dariam neste caso. Outro zero, não é mesmo?

    A terceira boa prática é que gerentes eficazes partem de suas próprias forças, levando em conta superiores, colegas e subordinados, e nas forças da situação em que estão inseridos. Não começam com as coisas que não podem fazer. Politicamente, Lula desconheceu a correlação de forças que se juntam em oposição a seu governo desde o início. Erro crasso, por exemplo, foi sair concedendo benesses nos dois primeiros anos de governo para colher frutos amargos nos dois últimos: inflação e desaprovação crescente. Mais um zero.

    A quarta prática testada indicada por Drucker é que gerentes eficazes se concentram nas poucas grandes áreas (ou setores) onde uma execução superior produzirá resultados excelentes. Lula está longe de estabelecer prioridades e menos ainda implementá-las. Assemelha-se a birutas de aero-portos. Pior ainda é tentar atrair os eleitores com benesses de todo tipo que são percebidos como compra de votos numa eventual candidatura sua. Haja zeros.      

    A quinta prática é que o gerente competente toma decisões eficazes. Ou seja, aquelas que precisam ser tomadas e geram bons resultados. Dá os passos certos na sequência certa. É evidente a falta de rumo do governo Lula no país e lá fora. Propõe corte de despesas em 30 bilhões de reais e pretende elevar a arrecadação do OIF em valor que é o dobro do suposto corte. Trata-se de um estratagema tão primário logo descoberto pelo mercado. Mais um zero!  

    E foi então que eu imaginei o veredito de Peter Drucker, vivo fosse, sobre um país cujo gerente (presidente, no caso) fosse tão inepto? Certamente, daria tratos à bola para entender como tal figura conseguiu a proeza de ser presidente pela terceira vez. Informado que só foi possível por uma decisão do STF, que lhe permitiu ser candidato, Drucker seria tomado por um destroncamento de cérebro. Hospitalizado, continuaria sem entender nada…

    **Sobre o autor: Gastão Reis é economista e escritor

    **Contato: gastaoreis2@gmail.com

    Nota: Digite no Google: “Dois minutos com Gastão Reis: Confiança a ser recon-quistada”.

    Link: https://www.youtube.com/watch?v=CLG9Q7cY12E&t=18s

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