Consumir menos para viajar mais
Faz alguns anos, a universidade estadunidense Cornell University publicou o resultado de um estudo feito pelo professor de psicologia Thomas Gilovich, segundo o qual investir em experiências traz mais felicidade do que consumir bens materiais. A repercussão do estudo na época foi grande e seus ecos reverberam até hoje. Não sei se a fórmula funciona para todo mundo. Mas minha vida tem sido orientada nesse sentido: consumir o mínimo para experimentar o máximo.
Desde que me casei, eu e meu marido resolvemos adotar um estilo de vida mais prático, menos oneroso, que nos permitisse ficar “livre” para fazer aquilo que realmente importava para nós: viajar. O desapego não foi algo com data marcada, mas foi aumentando conforme aumentava nossa vontade de viajar.
A adoção desse estilo de vida, passou, por exemplo, por optar em morar em um apartamento pequeno e prático, com poucos móveis, fácil de limpar – desse jeito, raramente gastamos com faxina e os gastos com mobília foram pequenos (até porque tive que escolher: ou comprava aquele sofá em L maravilhoso ou ficava com o maridão, os dois não caberiam no apê). Passou também por optar em morar no Centro da cidade – assim ficou mais fácil não ter um carro.
Comprar roupas de marca nunca fez parte dos meus hábitos, mas o próprio ato de comprar roupas, objetos e tudo mais agora passa por uma peneira de “eu preciso mesmo disso?”. Na grande maioria das vezes, a resposta é não e penso se o dinheiro que será gasto ali não poderia ser melhor aproveitado de outra forma.
Um sapato novo pode muito bem ser convertido na hospedagem de um fim de semana na praia. Uma jaqueta pode ser trocada por passagens aéreas promocionais para um destino nacional. Aquele eletrônico que às vezes compramos no cartão a perder de vista pode ser aquela tão sonhada viagem de fim de ano. Há quem associe viajar a ter muito dinheiro. Mas nessa curta jornada percebi (e tenho cada vez mais certeza disso) que viajar é uma questão de prioridade. Na verdade, viaja mais quem gasta menos com outras coisas.
Mas, vamos além. Não é preciso viajar para escolher experiências invés de coisas. Não é preciso nem ter dinheiro. É possível ter o mesmo tipo de prazer em atividades cotidianas, como reunir os amigos para assistir a um filme, comer uma pizza ou tomar um chope. O estudo do professor de psicologia explica que isso acontece devido à forma como nossa mente interpreta nossas experiências. De acordo Thomas Gilovich, enquanto as coisas que compramos ficam “armazenadas em armários”, as experiências tornam-se parte do que somos. “É o oposto da noção errada de que produtos duram e vivências são fugazes”, afirma o professor. “O que experimentamos estará conosco enquanto tivermos memória para resgatá-lo.”
Quantas experiências você poderia ter vivido com o que investiu na última compra que fez? Será que ela te trará boas lembranças daqui a dez anos? Pense nisso.
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