Conheça os brasileiros indicados para o Eisner, maior prêmio de HQ dos EUA
A arte de ilustradores do Brasil vai aterrissar em San Diego, nos EUA, para o Eisner 2023, a maior premiação de quadrinhos da indústria norte-americana. Nesta edição do evento, realizada nesta sexta, 21, durante a Comic Con, quatro brasileiros estão indicados.
A quadrinista Débora Santos e os quadrinistas Alex Lins, Rogê Antônio e Rafael de Latorre são os representantes brasileiros nesta edição do evento, que tem 32 categorias e 150 títulos, entre impressos e online. No ano passado, dois brasileiros foram premiados em suas categorias. Em entrevistas ao Estadão, os indicados deste ano contaram um pouco de suas trajetórias.
DÉBORA SANTOS
O pontapé do trabalho que garantiria uma indicação para o Eisner para a ilustradora e artista sequencial Débora Santos começou online. Mais precisamente, no fórum online Reddit. Uma publicação em que ela oferecia seus trabalhos como quadrinista encontrou Jimmy Stamp, artista dos EUA que entrou em contato com uma missão: ilustrar o conto The Beekeeper’s Due, escrito por ele como resultado de um curso de roteiro. A antologia conta a história de um apicultor após uma perda trágica. Débora só não imaginava que esse trabalho, que começou na internet, chegaria à categoria de HQ curta do Eisner.
Ela foi pega de surpresa quando recebeu o e-mail de Stamp noticiando que seu trabalho estava inscrito na premiação e que estava entre os finalistas. Para a cearense, a indicação já é o prêmio. Essa excitação foi o clima que se instaurou entre seus amigos e colegas da área. “Uma amiga disse que parecia clima de Copa”, comparou.
A ilustradora tem mais de 20 publicações, entre animações, participações em antologias, quadrinhos e iniciativas independentes e com editoras. Entre esses trabalhos está Luzia, quadrinho em conjunto com Zé Wellington pela Editora Draco, e Sapacoco, com Márcio Moreira, pela Netuno Press.
Débora sempre esteve envolvida com desenho e se considera uma “criança que nunca parou de desenhar”. Antes de virar profissional ela já fazia tirinhas no Facebook. Mas foi em 2015 que começou no mundo dos quadrinhos – quando se juntou com mais três quadrinistas para criar um coletivo que publicava zines. A partir daí, começou a frequentar e promover eventos, a dar aulas particulares de quadrinhos e a publicar com outras pessoas. Não parou mais.
ALEX LINS
“Será que me indicaram sem querer? Será que está errado?” Foi esse o questionamento que o ilustrador e designer gráfico Alex Lins se fez ao ver o e-mail do seu editor anunciando que seu trabalho em Good Morning, da série Moon Knight: Black, White & Blood da Marvel, foi indicado à categoria história curta do Eisner.
O ilustrador, que se considera novato no mundo dos quadrinhos, já tinha trabalhado com a Marvel. Foi pela editora que ele chegou profissionalmente a essa área em 2019. Antes, havia trabalhado em coletâneas de histórias, e dividia o tempo entre quadrinhos e o design gráfico, profissão na qual ele é formado. Baiano de Salvador, ele mora nos EUA desde 2005.
O projeto Good Morning é especial: ele gosta de trabalhar em histórias em que pode brincar com a sequência linear. “Há 20 anos a Marvel lançou uma história parecida, e eu pensei que seria bacana fazer algo assim. Brincar na forma de contar uma história. Mas tem de tentar se adaptar à Marvel e às expectativas dos leitores. Eu estava meio que tateando”, afirma, dizendo que a indicação foi “uma validação”.
Definindo o seu estilo como um desenho entre o alternativo e o mainstream, o ilustrador tem como uma de suas referências Will Eisner, o quadrinista que dá nome ao prêmio para o qual está indicado. Dentre seus trabalhos recentes está a série HellCat e projetos em andamento com outras editorias, como a Image Comics.
ROGÊ ANTÔNIO
O dia mal tinha começado para Rogê Antônio quando ele recebeu mensagens de amigos e de seu agente parabenizando pela indicação do seu trabalho em She Hulk à categoria melhor série continuada no Eisner.
A carreira do gaúcho começou nos bastidores. Ele era assistente de Rafael Albuquerque – desenhista de peso no mercado brasileiro – e chegou a dar aulas em 2009. Já em 2013, em um evento em Nova York, visitou a DC Comics, onde mostrou seu trabalho aos editores. Mais tarde, recebeu uma mensagem: “Hello DC Friends”, indicando que ele estava sendo convidado para ilustrar. Dentre seus trabalhos na editora estão Batman 2, Batman e Robin e Injustice. Em 2017, a Marvel o convidou para fazer parte do time. Rogê entrou ilustrando a série do X-Men Red e, deste então, já ilustrou as histórias de Connan, Carnage e Batgirl.
Seguindo a trajetória natural dos quadrinistas, Rogê era um apaixonado por desenho quando criança. Mas foi uma revista específica que virou a chave para tornar a paixão em profissão: o número 368 do Ucanny X-Men, que ele leu após furtar da banca onde comprava suas HQs, como conta aos risos. Sobre o processo de produção de She Hulk, Rogê confessa que nunca havia desenhado nada parecido. “Costumo usar muitas áreas escuras e pretas em meus desenhos. Como vou lidar com um quadrinho que não é pesado?” Atualmente, está ilustrando o Homem-Aranha 2099, que deve sair no início do ano que vem.
RAFAEL DE LATORRE
Uma mensagem chegou no celular do ilustrador Rafael de Latorre com um print: uma matéria com os indicados do prêmio Eisner. Lá estava seu nome. Foi assim que o ilustrador ficou sabendo de sua indicação à categoria melhor série continuada com Demolidor.
Diretamente de Piracicaba, Rafael já atuou com ilustração editorial, publicitária e de games. Como quadrinista, a primeira publicação foi em 2012 com o Fade Out: Suicídio sem Dor. Desde então, já ilustrou projetos como Animosity e SuperZero da Aftershock Comics, Hailstone da Stout Comics, e o indicado ao Eisner, o Demolidor da Marvel Comics.
Assim como os outros brasileiros indicados, essa também é a primeira indicação ao Eisner de Rafael. Agora, ele está trabalhando na série do famoso personagem do Pinguim da DC Comics, junto do escritor Tom King e do colorista Marcelo Maiolo.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.