Conheça Evelyn Luíza, a estudante de 11 anos vítima do deslizamento que atingiu a E. M. José Fernandes da Silva
“Carinhosa, amiga e super unida às irmãs”, assim o pai de Evelyn Luíza Netto Silva, a descreveu para a reportagem. Elizier Manoel Silveira é padrasto da menina, mas segundo ele, o amor e carinho pela enteada é tamanho que a considera uma filha. No dia 15 de fevereiro, ele teve a vida atravessada pela notícia da morte da menina dentro da Escola Municipal José Fernandes da Silva, no Alto da Serra. Entre os quase 60 alunos (estimativa feita por pais de alunos) que estavam na escola naquela tarde, somente Evelyn, aluna do 6° ano, foi soterrada pela barreira que atingiu o prédio, e não resistiu. Os feridos foram socorridos no Pronto Socorro do Alto da Serra, mas pouco foi informado oficialmente sobre o que aconteceu na escola naquele dia.
Elizier mora no Sargento Boening, e naquele dia por causa da chuva forte foi buscar a filha. No grupo de aplicativo de mensagens administrado por funcionários da escola para contato com os responsáveis pelos alunos, a mensagem que circulava era de que “os pais poderiam ficar tranquilos, porque todas as crianças estavam seguras”, contou Elizier à reportagem. Com riqueza de detalhes, o pai lembra de um dos piores dias de sua vida.
Ao chegar na porta da escola, um funcionário informou que todos os estudantes haviam sido retirados com vida. Elizier conta que ele foi direcionado para quatro locais diferentes em busca de Evelyn e de outros alunos. Até que encontrou uma colega da mesma turma da menina que disse que ela não tinha sido encontrada em lugar nenhum. Foram horas de desespero e angústia até que funcionários da escola levassem o pai até o Pronto Socorro do Alto da Serra e lá ele descobriu que a menina tinha sido atingida pela barreira.
“Ele [o funcionário] me garantiu que não tinha corpo no colégio mais, nem morto e nem vivo. E é mentira, minha filha se encontrava morta no pronto socorro”, desabafou.
Elizier conta que no local fez o reconhecimento do corpo, mas, ainda assim, ele foi encaminhado para o Instituto Médico Legal, em Correas, o que dificultou ainda mais os trâmites para o sepultamento. O pai, que passou recentemente por uma cirurgia e está fazendo uso de uma muleta, precisou ir a pé do Alto da Serra até a Praça Oswaldo Cruz, para lá descobrir que o corpo da menina não tinha sido levado direto para a funerária. Evelyn foi sepultada no dia 16 de fevereiro, às 16h.
“Eu sei que minha filha morreu, eu sei que sepultei a minha filha. Ela é minha enteada, mas eu tinha ela como filha. Ela não me apresentava para ninguém com padastro e nem eu como enteada. Porque ela é minha filha, criei ela desde ‘nenemzinha’ nova, então é dor de pai que eu estou sentindo. Eu sei que tem centenas de pessoas sentindo, mas a dor é única, cada um com sua dor, só Deus para poder amenizar”, desabafou.
A estudante de 11 anos, é a filha do meio de uma família com 7 irmãos. Ela morava com cinco irmãos, Elizier e a mãe, Patrícia da Silva Netto Silveira. A dor dessa família vai além da perda da menina, a dor de uma morte silenciada. Até o presente momento, a Prefeitura não publicizou que houve uma morte dentro da unidade escolar, e nem mesmo a Secretaria de Educação emitiu nota de pesar. De acordo com o pai da estudante, a Secretaria nem mesmo entrou em contato com a família. Na última segunda-feira(28), a reportagem da Tribuna perguntou à Prefeitura sobre as vítimas na escola, sem muitos detalhes, a Secretaria de Educação respondeu em nota que:
“A Secretaria de Educação informa que uma aluna, de 11 anos, faleceu vítima do deslizamento que atingiu os fundos da Escola Municipal José Fernandes da Silva, no Alto da Serra, no dia 15 de fevereiro. Todos os outros alunos e funcionários que estavam na unidade, no momento do temporal, conseguiram deixar o prédio. Alguns estudantes tiveram ferimentos leves e foram atendidos no Pronto Socorro Leônidas Sampaio no Alto da Serra”
Informações desencontradas sobre as vítimas
No dia da tragédia, circulou um vídeo nas redes sociais que mostrava alunos da Escola Municipal José Fernandes da Silva chegando ao Pronto Socorro do Alto da Serra em busca de socorro. Muitos cobertos de lama, estão entre os alunos que sofreram ferimento. Ainda não foram divulgadas informações sobre quantos alunos haviam na escola naquele dia, quantos tiveram ferimentos leves, e não há informações até mesmo sobre funcionários que estavam trabalhando no dia.
Elizier diz que há muitos relatos entre alunos e pais, mas oficialmente não sabem dizer de que forma as crianças foram socorridas. A família vem desde o dia da tragédia buscando respostas, buscando uma explicação sobre o que aconteceu.
“Eu sei que foi um desastre natural, não tinha que acontecer com ninguém, inclusive com a minha filha, mas se tinham 60 alunos no colégio, se acudiram 59 alunos, porque não conseguiram tirar ela, ou seja, se tivesse todo mundo ajudando daria pra tirar, ela estaria hoje com a gente aqui”, disse o pai.
“Eu acredito, eu sou cristão, a gente acredita que Deus sabe o que faz, Deus deu, Deus tirou, a gente sabe disso tudo. A gente fica naquele pensamento como que de repente Deus faz o impossível, mas o possível a gente pode fazer, Deus nos dá capacidade de fazer. Se tivessem acudido ela, tomado as providências, talvez não teria acontecido óbito nenhum”, disse Elizier.