Congresso encaminha impeachment de Trump ao Senado
A Câmara dos Deputados dos Estados Unidos apresentou nesta segunda-feira, 25, ao Senado a acusação contra o ex-presidente Donald Trump de incitar uma insurreição em um discurso incendiário a seus seguidores antes do ataque do dia 6 ao Capitólio que deixou cinco mortos, dando prosseguimento ao segundo processo de impeachment contra o presidente em meio a dúvidas sobre haverá respaldo suficiente entre os republicanos para condená-lo.
Nove deputados democratas da Câmara que atuarão como procuradores levaram ontem à noite o artigo de impeachment ao Senado, onde Trump será julgado, apesar de já ter deixado o cargo após a derrota para o democrata Joe Biden nas eleições presidenciais de novembro.
A ação marcará dois acontecimentos inéditos: Trump é o único presidente americano a sofrer impeachment na Câmara duas vezes e será o primeiro a ser julgado depois de deixar o cargo. Ele sofreu impeachment na Câmara pela primeira vez em 2019, sob a acusação de usar a ajuda dos EUA para pressionar as autoridades ucranianas a investigar Biden e seu filho Hunter.
Se o Senado considerar Trump culpado, ele se tornará o primeiro presidente na história dos EUA a ser condenado em um julgamento de impeachment. Ele também poderá ser impedido de concorrer a cargos públicos.
Para condenar Trump, dois terços dos senadores teriam de aprovar o artigo de impeachment, isto é, pelo menos 17 republicanos teriam de se voltar contra o ex-presidente. Atualmente, o Senado está dividido pela metade entre democratas e republicanos, mas os democratas têm uma estreita maioria por causa do voto de desempate da presidente da Casa, a vice-presidente Kamala Harris.
O segundo julgamento de impeachment do ex-presidente sob a acusação de incitar a invasão do Capitólio agravou uma disputa entre seus colegas republicanos. Na Câmara, 10 deputados republicanos votaram a favor do impeachment de Trump.
Segundo levantamento feito pelo jornal The Washington Post, dos 100 senadores da Casa, 40 são a favor do impeachment de Trump, 23 considerarão a condenação, 29 são decididamente contrários e 8 manifestaram “posições ambíguas”.
Líderes do Senado concordaram em não iniciar o julgamento antes de 9 de fevereiro. Isso dará a Trump mais tempo para preparar uma defesa, e permitirá ao Congresso se concentrar nas prioridades iniciais do presidente Biden, entre elas a confirmação do gabinete.
Uma pesquisa Reuters/Ipsos revelou na sexta-feira que 51% dos americanos acreditam que o Senado deveria condenar Trump. O número se dividiu essencialmente segundo as filiações partidárias, já que menos de 2 a cada 10 republicanos concordam.
O democrata Patrick Leahy, o mais antigo da Casa, presidirá o julgamento. Embora a Constituição exija que o presidente da Suprema Corte lidere esses processos, cabe a um senador liderar a ação quando o atual presidente não está mais no cargo.
O senador republicano Mitt Romney, disse acreditar que o julgamento, que pode proibir Trump de se candidatar no futuro, foi uma resposta necessária ao apelo inflamado do ex-presidente a seus partidários para “combater” sua derrota eleitoral na invasão do dia 6.
“O artigo de impeachment enviado pela Câmara sugere conduta impugnável”, disse Romney, crítico frequente de Trump, que votou por sua condenação durante o primeiro julgamento de impeachment. “Está bastante claro que durante o ano passado e agora houve uma tentativa de corromper a eleição dos EUA e não foi pelas mãos do presidente Biden, mas sim pelo presidente Trump”, afirmou o republicano à Fox News.
Na noite após a invasão dos apoiadores de Trump ao Capitólio – no momento em que o Congresso certificaria a vitória de Biden nas eleições – vários republicanos condenaram a violência. O líder republicano no Senado, Mitch McConnell, culpou Trump pelo ocorrido, dizendo que ele “provocou” a multidão.