• Confederação aposta em liderança feminina para desenvolver o rúgbi no Brasil

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  • 27/01/2021 11:00
    Por Paulo Favero / Estadão

    Há pouco mais de um mês, Mariana Miné foi escolhida para ser a CEO da Confederação Brasileira de Rugby (CBRu) e se tornou a primeira mulher a ter esse cargo na entidade. Também é um dos raros casos de dirigente esportivo no Brasil que não seja homem. Com uma carreira em grandes empresas, ela topou o desafio de continuar o projeto de fazer a modalidade crescer no Brasil e espera conseguir bons resultados no comando da entidade.

    “Em vários momentos na minha carreira acho que tive essa situação de olhar para o lado e ver muitos homens e poucas mulheres. É uma construção, aos poucos vamos vendo mais lideranças femininas e o segmento acaba também demandando a presença de mais mulheres”, comenta a CEO, que trabalhou em lugares como a Ambev e a Unilever.

    Outra situação inusitada em sua trajetória é que nunca esteve ligada diretamente ao esporte, muito menos ao rúgbi. “Está sendo incrível porque minha trajetória profissional não tem nada a ver com esporte. Sou administradora por formação, trabalhei com vendas e marketing, e para mim está sendo um desafio muito grande entrar de cabeça nisso tudo. Esse trabalho na CBRu está sendo muito rico.”

    Depois de trabalhar em grandes empresas, Mariana decidiu abrir seu próprio negócio no ramo de alimentos para animais de estimação. “Quando decidi que não queria mais ser empreendedora, queria vender minha empresa, aí resolvi olhar o mercado. Fui conversar com um head hunter e ele comentou sobre essa vaga”, conta.

    Ela refletiu um pouco sobre a possibilidade e decidiu encarar o desafio. “Já tinha uma referência do esporte, já tinha também a ideia de que estávamos falando de uma confederação séria, com transparência, governança, pessoas e processos fortes no conselho. E vi também a oportunidade de construir o crescimento do esporte no Brasil”, diz.

    Mas isso ainda era um processo seletivo longo e pesado. Ela conversou com os seis conselheiros da CBRu. “Foi engraçado também porque, na conversa, eles me entrevistavam e eu os entrevistava também, para entender melhor esse lado deles de serem pessoas que jogaram rúgbi na faculdade, mas ainda estavam lá doando o tempo deles. Acho que foi o processo seletivo mais rigoroso de que participei.”

    Mariana é sincera ao falar de sua relação com a modalidade. Ela já conhecia o rúgbi, mas pouco. “Eu já sabia alguma coisa por causa de amigos que jogavam. Também morei na Austrália na época de universidade, em 2003, e nesse período teve lá a Copa do Mundo de rúgbi. Então pude vivenciar isso, que me trouxe um pouco de entendimento quando a possibilidade bateu na minha porta”, explica.

    A CBRu teve uma boa gestão com o argentino Agustín Danza, que fortaleceu a entidade no desenvolvimento dos jogadores durante cinco anos e meio. O CEO foi sucedido por Jean-Luc Jadoul, que exerceu a função por um ano e três meses e aproveitou para reorganizar as contas da entidade em um momento de diminuição de recursos financeiros no esporte no Brasil. Agora, Mariana chega para tentar colocar em prática sua experiência adquirida em outros ramos de atividade.

    “Eu já estive sentada do lado de lá, na mesa de negociação entre entidade e patrocinador. Já cuidei de marcas e procurei oportunidades no mercado. Isso com certeza vai trazer riqueza para construção de produtos mais relevantes. Como empreendedora é um desafio de vida. Sei que precisa ter muita resiliência para fazer acontecer”, diz. “Estou aqui para continuar o trabalho rico que foi feito”, continua.

    O maior desafio será conseguir ativar a modalidade em um momento de pandemia por causa da covid-19, quando competições não podem ser realizadas e quando são, não há presença de público. “É uma dificuldade enorme. Nosso produto é jogo, tem muita coisa por trás disso, e ainda vai levar um tempo para a gente conseguir jogar com todos os protocolos”, diz, ciente de que para as categorias de base é mais complicado ainda.

    A CEO da confederação chega disposta a realizar o primeiro campeonato feminino de rúgbi 15 no Brasil, com disputas de adulto e juvenil, para começar a moldar a seleção brasileira. Também continuará apostando em alguns profissionais de outros países, pois para ela é importante aprender com o rúgbi internacional, mas é preciso também que esses especialistas tenham um papel de formação para deixar como legado e solidificar na equipe técnica brasileira.

    E seu próximo ato será conversar com os atuais patrocinadores da CBRu – são 17 no momento, incluindo parceiros e apoiadores. “A gente está no momento de fechamento de orçamento, é difícil, precisa fazer escolhas, mas agora vou começar a falar com todos os patrocinadores. Já tenho reunião marcada com alguns e quero entender a percepção deles da nossa parceria. Uma das minhas prioridades passa por aumentar o vínculo e aumentar a captação de recursos”, conclui.

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